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Edição 97

Ódio do bem: uma constatação póstuma

Na morte, Olavo de Carvalho comprovou um fenômeno que descreveu em vida

Caio Coppolla
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“Folheando” esta revista, deparei com uma lista curiosa de manifestações odientas ao recém-falecido Olavo de Carvalho. Tão logo pousei os olhos em tamanho rancor, imaginei o prazer intelectual do filósofo, estivesse ele acompanhando a reação à sua morte. Primeiro, por vencer, mais uma vez, a indiferença que castiga a maioria daqueles que já pisaram nesta Terra; segundo, por atestar a acuidade da sua descrição e crítica às contradições da esquerda e, especialmente, à paralaxe cognitiva. Mas, antes de explorar esse conceito e seus exemplos, que tal um pouco de ódio do bem, cortesia da nossa empática intelligentsia?

José de Abreu, ator(mentado): “Morreu o pai do bolsonarismo. Falta o filho”. — Citação elencada em posição de destaque pela proeza de celebrar a morte de um e desejar a morte de outro em menos de 50 caracteres;

Gregório Duvivier, ator (risos), escritor (muitos risos) e humorista (poucos risos): “Morreu de estupidez e levou muita gente junto”. — Ah, claro, assassinou multidões com suas palavras e opiniões!;

Jean Wyllys, ex-BBB, ex-político e exilado (por iniciativa própria): “Esse mentiroso, difamador sórdido, morreu me devendo reparação pelos danos materiais e morais que me causou. É festejar que esse monstro tenha desaparecido do planeta”. — Entendemos a preocupação financeira e a mesquinhez do ex-deputado ressentido, afinal ele celebra a vida — ou melhor, a morte — em euros;

Coluna publicada pela revista Veja: o negacionismo ao qual ele se aferrou […] ajudou a cavar sua própria sepultura. Literalmente”. – Revelou o jornalista com convicção, contrariando nota oficial do médico particular do paciente;

Coluna publicada pela Folha de S.Paulo: “…acho a morte de uma girafa mais importante que a de Olavo de Carvalho”.Sério!? Então onde estão seus artigos publicados sobre mortes de girafas?

“As girafas, assim como os lêmures e os gnus, não discutem o óbvio. […] Além disso, raras girafas fumam cinco maços de cigarros por dia”. — Some-se a isso o fato de que muitas girafas são mais humanas que o articulista da Folha, que, na mesma coluna, se esforçou e conseguiu bater o próprio recorde: “Olavo de Carvalho, que morreu nos EUA, foi enterrado às pressas […]. Imagine se Jair Bolsonaro o trouxesse para enterrá-lo aqui, com honras de Estado. Seria uma profanação dos cemitérios brasileiros, onde estão tantos que ele e Bolsonaro ajudaram a matar”. — Que estratégia inovadora! Culpar o governo e os mortos pelas tragédias do país, com direito a acusação de “assistência ao genocídio”.

As citações elencadas expõem o caráter de seus autores e veículos, que não hesitam em agredir os mortos quando isso lhes soa politicamente conveniente. Por outro lado, ignorando as próprias palavras ofensivas e atitudes extremistas, condenam a polarização, pregam o diálogo e posam de democratas sensatos — parafraseando Milan Kundera, é a insustentável incoerência do ser, que vale tanto para os influenciadores quanto para seus (milhares, milhões de) influenciados.

“Adeptos do ‘ódio do bem’ pregam um ambiente político tolerante e plural, mas nesse mundo teórico não haveria espaço para o comportamento deles mesmos”

Numa análise mais detida e menos apaixonada, fica claro que essa incongruência entre discurso e ação extrapola a mera contradição inata à condição humana e presente, em maior ou menor grau, no comportamento de todos nós, pecadores. Excetuados os casos patológicos de má índole — e não são poucos —, pessoas que produzem, replicam e endossam esse tipo de conteúdo ignóbil atuam dessa maneira porque creem que sua postura é legítima. Mas, para agir assim, o agente do “ódio do bem” (emissor, consumidor, disseminador) tem de se colocar fora do modelo social fraterno e civilizado que ele próprio propõe. O resultado é o descolamento entre a realidade concreta (prática) e a realidade pretendida (teoria). Além disso, ao espalhar o ódio que ele entende ser justificado, o militante se afasta cada vez mais do bem que ele acredita perseguir, acentuando divergências e animosidades.

“O afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real do indivíduo que está fazendo essa construção” é o que Olavo de Carvalho definia como paralaxe cognitiva, um “insulto à inteligência”. Se a pessoa admite e pratica uma comunicação hostil, como exigir da coletividade uma postura diversa da sua? É uma clara distorção de percepção: o agente do “ódio do bem” não se insere na própria realidade e, como se fosse um observador externo e árbitro do certo-e-errado, concebe modelos de sociedade e comportamento desvinculados de suas experiências, ações e circunstâncias. Mas cumpre reconhecer que o conceito e a crítica da paralaxe cognitiva são muito melhor aplicados a filósofos e suas filosofias do que a influenciadores e suas narrativas.

Karl Marx, por exemplo, além de se beneficiar da condição burguesa que tanto censurava, teorizou que a consciência histórica revolucionária pertencia, exclusivamente, aos trabalhadores assalariados oprimidos pelo capital. Contudo, na prática, ele próprio personificou essa consciência proletária, seguido por tantos outros intelectuais comunistas burgueses que usavam a classe trabalhadora como massa de manobra e a descartava como bucha de canhão. Portanto, além da contradição óbvia manifesta em seu estilo de vida, Marx ilustrava a paralaxe cognitiva à perfeição: construiu sua utopia para o proletariado como um observador dissociado da sua própria realidade burguesa.

Mutatis mutandis, adeptos do “ódio do bem” pregam um ambiente político tolerante e receptivo à pluralidade de ideias; mas nesse mundo teórico não haveria espaço para o comportamento agressivo e desrespeitoso deles mesmos. Será que estamos diante apenas de simples contradições, no pior estilo do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”? Parece mais plausível a constatação de que, na morte, Olavo de Carvalho comprovou um fenômeno que descreveu em vida. Nossos sentimentos a familiares, amigos e alunos.

Caio Coppolla é comentarista político e apresentador do Boletim Coppolla, na TV Jovem Pan News e na Rádio Jovem Pan

Leia também “Como funciona a doutrinação marxista” 

35 comentários
  1. SFLW
    SFLW

    Caio Coppolla sendo Caio Coppolla! Simples, objetivo e com a profundidade certa. Parabéns pelo artigo.

  2. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Excelente texto. Parabéns Coppolla.

  3. Antonio Americo Carneiro Pereira Junior
    Antonio Americo Carneiro Pereira Junior

    Excelente artigo!

  4. PAULO CESAR LIMA DE OLIVEIRA
    PAULO CESAR LIMA DE OLIVEIRA

    Olá, estou telespectador assíduo do Boletim Coppola na PAN e agora assinante da OESTE. Faço parte daqueles que querem um Brasil Forte e Protagonista no cenário econômico mundial. Parabéns Caio, continue fazendo a diferença. Sou fã do seu trabalho.

  5. Jamicel Francisco Rocha Da Silva
    Jamicel Francisco Rocha Da Silva

    Ontem, o O Globo postou uma barbaridade sobre o Olavo, no Instagram!

    Bem típico!

  6. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    ´Grande Copolla!

  7. Jorge Luiz Soares Ribeiro
    Jorge Luiz Soares Ribeiro

    Excelente artigo. Parabéns.

  8. Antonio Carlos Almeida Rocha
    Antonio Carlos Almeida Rocha

    olha, que difícil é fazer comentários sobre declarações de pessoas tão abjetas quanto José de Abreu, Gregório Duvivier e Jean Wyllys…só de escrever seus nomes sinto náusea…melhor mesmo seria ignorá-los…eles não merecem nenhuma linha que escrevemos nem uma sinapse do nosso pensamento…

  9. Luis Antonio Felipe
    Luis Antonio Felipe

    OS Jornalistas esquerdistas perderam a compostura , ou são analfabetos mesmo.

  10. Rachel Marotta Romualdo da Silva
    Rachel Marotta Romualdo da Silva

    “Ser odiado por uma multidão de ignorantes é o peço de não ser um deles. ” Olavo de Carvalho.
    Só isso explica com fartura toda a irreverência que foi espalhada pelas redes sociais.
    A origem é a explicação de tudo.
    Caio , sucesso.

  11. FRANCISCO JOSE GONCALVES
    FRANCISCO JOSE GONCALVES

    Essa imprensa esquerdista e imbecilidade dos que pregam ódio.Parabéns pelo artigo.

  12. Teresa Guzzo
    Teresa Guzzo

    Ódio é ódio,nunca será do bem.

  13. Manoel Ribeiro Soares Neto
    Manoel Ribeiro Soares Neto

    Parabéns Grande Caio, você tem uma inteligência privilegiada.

  14. Rodrigo Antonio Vieira De Almeida
    Rodrigo Antonio Vieira De Almeida

    O mais esquisito é ver pessoas que não conhecem a obra de Olavo condenando-o ao inferno, ou coisa do tipo… Parecem idiotas que continuam seguindo bovinamente a narrativa da imprensa predominante

  15. Braulio Zarpellon Junior
    Braulio Zarpellon Junior

    Caio, como sempre, nos brinda com sua lucidez. Sou seu fã desde sempre, ótimo tê-lo por aqui. Sucesso sempre!

  16. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    A classe com que o Caio Coppola escreve é um deleite para mim como leitora assídua dessa revista extraordinária. É só colocar qualquer artigo escrito por este e do outro lado alguma baboseira escrita por algum desses citados e nem precisa de críticas.

  17. Vanessa Días da Silva
    Vanessa Días da Silva

    👏👏👏👏👏

  18. Antonio Araújo Da Silva Lopes
    Antonio Araújo Da Silva Lopes

    Acredito quem mais deu azo p/q opositores pudessem contradizer o médico da família (disse q causa mortis não foi covid) e a fomentar os ataques ao prof Olavo, foi a própria filha q em alto e bom som disse retratou o pai como malvado. Não sei o motivo (talvez) seja por briga pelo espólio e parte da herança. Insatisfação de herdeiros na partilha, invariavelmente causa ódio ao De cujus, pricipalmente se surgiu estranho beneficiário em testamento. “Dinheiro é a raiz de todos os males”, diz as sagradas escrituras!

  19. Bruno Araujo Barbaresco
    Bruno Araujo Barbaresco

    Perfeito. Esses caras que vc citou e que comemoraram a morte do Professor Olavo, certamente nunca leram nada dele e nem entenderam o que vc explicou. São doutrinados de esquerda, papagaios de pirata, ignorantes, travestidos de jornalistas. Deixa eles. Cada vez que abrem a boca, mostram como eles e a ideologia que defendem, não vale a pena.

  20. Valton Sergio von Tempski-Silka
    Valton Sergio von Tempski-Silka

    The King is dead. Long live the King.

  21. Vera Lucia Marinho Cardoso
    Vera Lucia Marinho Cardoso

    Li o seu artigo e escutei no JP, vergonha desses brasileiros citados.

  22. Claudio Araujo Santos dos Santos
    Claudio Araujo Santos dos Santos

    Parabéns, Caio Coppolla!

  23. Persio Nicanor Basso
    Persio Nicanor Basso

    Coppola
    Voce esta dando muito espaço para esse pessoal.
    Não se deixe influenciar por esses pseudos brasileiros. Seu comentário é fora de serie, provavelmente dado a inteligência sobrenatural deles jamais conseguirão entender seus argumentos

  24. Nilton Fecchio
    Nilton Fecchio

    Excelente artigo.
    Só discordo do “ódio do bem”. Não dá mais para colocar em uma mesma frase “esquerdista” e “bem”. Essa gente que vomitou esse ódio, não valem o chão que pisa. Eles tem a alma (se é que tem alguma) adoecida pelo ódio em seu estado mais podre.

    1. Fabio Augusto Boemer Barile
      Fabio Augusto Boemer Barile

      Concordo. Nada de “ódio do bem”. É o “ódio da intolerância” mesmo.

  25. Paulo Antonio Neder
    Paulo Antonio Neder

    Caio Coppola veio enriquecer a Revista do Oeste. Parabéns.

  26. Dirceu Bertin
    Dirceu Bertin

    Devia ter posto o nome da girafa canalha – ruy castro

  27. Marcos De La Penha Chiacchio
    Marcos De La Penha Chiacchio

    Sensacional!!!

    1. Eliane Peixoto
      Eliane Peixoto

      Parabéns Caio Copolla . A morte do professor Olavo , demonstrou mais uma vez a estupidez de quem diz ser a favor das liberdades , e convívio social pacífico . Vimos pessoa infelizes , quem nem na hora da morte cala seu desejo de fazer o mal .

      1. ISADORA TOSCANO DE BRITTO
        ISADORA TOSCANO DE BRITTO

        Boa Caio! Realmente saber de José de Abreu, Gregório Duvivier e Jean Wyllys me provoca gargalhadas!

  28. Júlio Rodrigues Neto
    Júlio Rodrigues Neto

    Esquecem-se estes “ agressores de plantão “, alguns cuspidores profissionais que um dia, a hora de todos nós chegará.

    1. Julio José Pinto Eira Velha
      Julio José Pinto Eira Velha

      José de Abreu, Gregório Jean, pseudos jornalistas da Veja e Folha, quando morrerem, com certeza vão receber o pesar de todas as pessoas de bem, com a frase, que o diabo os tenha em bom lugar.

  29. Vanildo
    Vanildo

    Excelente.

  30. Luiz Gomes Jardim
    Luiz Gomes Jardim

    Caro Caio, espetacular este seu artigo. Parabéns.

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