O câncer é algo temido por qualquer ser humano. Além de destruir “pouco a pouco” seu alvo, a doença pode se manifestar em praticamente qualquer parte do corpo humano.
Atualmente, “câncer” é o nome geral dado a um conjunto de mais de cem doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos vizinhos.
Pulmão, pele, próstata, mama e colorretal, este último localizado na parte final do ânus, são os cinco tipos mais recorrentes de câncer, conforme o portal da Sociedade Brasileira de Cirurgia e Oncológica.
Leia também: “A Era de Ouro da medicina”, reportagem de Dagomir Marquezi publicada na Edição 171 da Revista Oeste
A frequência de casos de câncer no Brasil é preocupante. Em entrevista a Oeste, o oncologista João Victor Alessi, do Hospital Sírio-Libanês, informou que causas oncológicas são as que mais provocam mortes no Brasil, atrás apenas dos problemas cardiovasculares.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, o Brasil deverá registrar mais de 700 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025.
O especialista revela que, mesmo com o início tardio do Brasil, em relação à medicina norte-americana, a tendência atual é uma crescente adoção de abordagens personalizadas na área médica.
“Grosso modo, cada paciente merece tratamentos muito específicos, feitos para aquele tipo de tumor e aquele tipo de paciente”, explica Alessi.
Conforme o oncologista, “no passado, os pacientes eram muitas vezes agrupados e recebiam terapias genéricas que não levavam em consideração as diferenças cruciais entre os casos”.
Leia mais: “Carne bovina ajuda no combate ao câncer”
Alessi disse que há diversos tipos dentro de um subtipo. Por exemplo, nos casos de câncer de pulmão, cada paciente apresenta uma variante desse mesmo tumor. Cada paciente apresenta uma alteração, chamada de driver — uma mutação que “está levando a um tipo de tumor”.
A imunoterapia, uma das drogas usadas para combater o câncer de pulmão, estimula o sistema de defesa a atacar as células tumorais.
Quando os cientistas identificam essas mutações driver, eles utilizam medicamentos projetados especificamente para combater aquele tipo de alteração genômica.
O início dos tratamentos contra a doença
Quando os casos de câncer começaram a ser tornar mais evidentes no mundo, o doutor explica que a oncologia iniciou com tratamento cirúrgico, “pois era a única coisa que estava disponível no momento”.
Esse método de tratamento começou nos Estados Unidos, no início do século 20, e era realizado em centros especializados, frequentemente com processos cirúrgicos que muitas vezes envolviam mutilação e não curavam.
Leia também: “Cientistas desenvolvem técnica que promete combater o câncer em até 60 dias”
Alessi conta que, no início dos anos 1950 e 1960, nos EUA, os médicos adotaram tratamentos com quimioterapia nos casos de alguns tumores do sangue, como leucemias. Mas ainda era algo “muito rudimentar”.
À época, apesar de esses métodos apresentarem certa efetividade nos pacientes, a toxicidade do tratamento era limitante.
As medidas com quimioterapia só começaram a chegar no Brasil, em poucos lugares, a partir dos anos 1970. “Muitos pacientes sofriam drasticamente com o tratamento”, explica o especialista. “O benefício era algo duvidoso para a maioria dos tumores.”
A evolução da medicina brasileira
“A medicina baseada em evidência, personalizada, é algo muito recente no Brasil”, relata Alessi. “A partir da década de 2000, o avanço foi muito grande, principalmente no combate ao câncer de pulmão.”
Leia mais
O oncologista explica que os cientistas começaram ter uma melhor compreensão de que cada tipo de tumor era diferente. “Por exemplo, em 2004, foi descoberto no exterior que havia uma alteração genômica no câncer de pulmão, que chamamos de tumores EGFR mutados“, revela o doutor.
Essas mutações efetivamente provocam o desenvolvimento do câncer de pulmão e frequentemente são usadas como base para a criação de novos fármacos de tratamento do tumor, como os inibidores da atividade da proteína EGFR.
Leia mais: “Garoto de 14 anos leva prêmio por criar sabonete contra câncer de pele”
Alessi diz que a descoberta mudou o panorama da medicina brasileira e, quando foi incorporado no Brasil, resultou em diversos tratamentos para a doença.
O especialista relata que “a mudança de paradigma com o tratamento personalizado é fruto de muita pesquisa clínica”.
Alessi informa que o novo método busca “entender as nuances de cada tipo de tumor, como descobrir o porquê de esse tumor estar crescendo, qual o driver, o que está dirigindo esse tumor a ser agressivo, e o que pode ser feito para contrapô-lo”.
Métodos de prevenção contra o câncer
O oncologista recomenda uma maior atenção aos exames, especialmente os mais velhos, pois diversos desses tumores costumam atingir as pessoas que possuem idade mais avançada.
“Cessar o tabagismo é uma das mais importantes medidas de prevenção que nós temos, não só para câncer de pulmão”, disse o doutor.
Alessi revela que o tabagismo também é um fator de risco para tumores no pâncreas, na cabeça e no pescoço. Isso pode gerar tumores de cavidade oral, que possuem “um prognóstico desfavorável”.
O especialista informa também que o excesso de peso é um dos principais riscos para o desenvolvimento de câncer no Brasil.
Leia também: “De prevenção ao câncer à depressão: os inúmeros benefícios do café”
“O excesso de gordura corporal leva a um processo de inflamação crônica”, diz Alessi. “Na lista de tumores na qual o excesso de peso está associado incluem os tumores de esôfago [adenocarcinoma], estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino [cólon e reto], rins, mama [mulheres na pós-menopausa].”
Para fugir da doença, Alessi recomenda “um estilo de vida saudável, com uma dieta rica em frutas, cereais, vegetais, bem como a prática regular de atividade física”.
+ Leia mais notícias de Saúde em Oeste