O jornalista Marcus Gee teve há pouco uma excelente ideia, e a partir dela escreveu uma matéria notável para o jornal canadense The Globe and Mail, de Toronto. Em tempos de crise mundial como os que vivemos agora, assustadores, incertos e com um milhão de autoridades, grandes, mínimas e ineptas, tomando decisões que vão afetar diretamente as nossas vidas, talvez nada esteja fazendo tanta falta para a humanidade quanto uma liderança maior, muito maior, que os problemas. Gee teve a ideia do artigo ao receber de um amigo, nestes dias de coronavírus e de pânico, uma foto de Winston Churchill, com a seguinte legenda: “O que Winston diria?”
É uma excelente pergunta, observa Gee. “As pessoas, por toda a parte, estão procurando uma liderança forte” , escreve ele. “A maioria não está encontrando.” Que liderança poderia ser esta, idealmente? “A lendária presença de Churchill como primeiro-ministro do Reino Unido durante a guerra oferece um exemplo precioso de como liderar em tempos de perigo e de pavor”, diz o autor. É uma tragédia ainda pior que a epidemia, realmente, verificar as lideranças paupérrimas que o mundo encontra hoje dentro dos governos, em todos os níveis. Não têm a capacidade intelectual que o momento exige. Não têm a autoridade moral. Não têm a coragem. Churchill tinha. Faz uma imensa diferença.
Sempre se pode dizer, é claro, que Churchill é Churchill, e não se fazem dois como ele. Mas também é um tremendo azar, da nossa parte, que tenha cabido a nós viver esse momento de nossas vidas sob um comando geral tão miserável quanto o que temos. Não precisava ser um Churchill; tudo bem. Mas também não precisava ser o que é. Não temos líderes. Temos, de um modo geral, um bando de coelhos assustados que têm medo de perder pontos nas “pesquisas de opinião”, copiam-se uns aos outros e punem as populações que governam com o peso de sua ignorância sem limites em questões elementares de ciência. É melhor nem falar, aqui, no Brasil. Em vez de Churchill, temos Doria, Witzel e Caiado. É a morte.
“Quando ele se tornou primeiro-ministro em maio de 1940, a posição da Grã-Bretanha parecia sem nenhuma esperança”, escreve Gee. “Todos nós sabemos o que aconteceu em seguida. Churchill uniu o povo britânico, e convenceu as pessoas que, por mais grave que fosse a sua posição, a sobrevivência e mesmo a vitória eram possíveis. As lições para os líderes de hoje são claras.” A primeira delas é ser honesto e dizer a verdade – algo que muito pouca gente consegue fazer neste momento de aflição para todos. Gee lembra a tirada imortal de Churchill logo no seu primeiro discurso no Parlamento – palavras que ficarão gravadas para sempre como um dos momentos mais sublimes do espírito humano. “Eu não tenho nada a oferecer senão sangue, trabalho duro, suor e lágrimas”. Foi a mesma honestidade, brutal e maravilhosa, que utilizaria pouco depois: “Não se ganham guerras com retiradas”.
Churchill jamais deixou de chamar de “derrotas” o que foram realmente derrotas militares – o que diria desse tipo de coragem, hoje, a coleção de idiotas que cerca as nossas autoridades com um crachá de “Departamento de Marketing” pendurado no pescoço? Com as bombas caindo sobre Londres, jamais deixou de sair às ruas. Jamais pensou em confinamento, horizontal ou vertical. O que fez foi liderar. Foi enfrentar o perigo, em vez de se esconder. Foi transmitir esperança, com base nas realidades ao seu dispor, e conduzir o povo britânico – e a democracia mundial – ao maior triunfo de suas histórias.
“Conseguiriam os líderes de hoje aprender com esse esplêndido precedente?”, pergunta Gee. A pergunta fica em aberto. O que dá para dizer, com os anões que temos aí – e cujos gestos de maior coragem são prender cidadãos na rua e invadir fábricas de máscaras hospitalares, para aparecer nos jornais de televisão – é que estamos muito mal. É disputar a Liga dos Campeões com o time do Madureira.
Que texto maravilhoso… que verdade aterradora!!! Parabéns pela revista!!!
A propósito de seu texto sempre cirúrgico , lembro que nosso ultimo líder foi D.Pedro II.
De la para ca , um desastre.
Guzzo… sinto falta da Claudia Wild neste time.
É bem por ai mestre. Eu sempre achei que em tempos difíceis surgiriam grandes líderes, mas o que realmente ocorre: são lobos se passando por ovelhas.
Comecei a ler Churchill e Orwell a luta pela liberdade, é bem interessante. Na sequência vou seguir sua sugestão.
Gosteui
Hoje seria pendurado em praça pública por se aliar à URSS para derrotar um inimigo ainda maior naquele momento. Decisões difíceis.
Mestre Guzzo preciso como sempre.
Mais uma vez, parabéns Guzzo!!
Falar o que penso do Mandeta não é permitido. Para mim ele é uma fraude.
Artigo sensacional. Tenho que ser repetitivo. Aguardo ansiosamente o próximo.
Guzzo, menos. Churchill quando assumiu foi criticado tanto pela mídia como pelo seu próprio partido. Saía às ruas sim, mas passava muito tempo no bunker onde funcionava o gabinete de guerra.
Sabias palavras e corretas. Principalmente qdo lembramos decidindo ou influenciando deforma relevante no nosso país figuras como gilma Mendes Lewandowisk toffoli Rodrigo maia Alcolumbre etc
Grande Guzzo! Preciso como sempre!
Guzzo, parabéns! Finalmente temos pessoas honestas em suas análises. Vida longa a Oeste.
O autor fala de WC mas nem cita seu paralelo brasileiro. Fala de falta de liderança para nação e na hora de comparar com o Brasil nomeia governadores. De fato Bolsonaro está tão deslocado da realidade que nem como elemento de comparação serve.
Caro Guzzo,
Isso é o mesmo que tocar numa ferida que esteve sempre aberta. Por já ter passado dos 68 anos de vida, não me vem à memória nenhum personagem da política, muito menos, que possamos chamar de líder. Líder de bons princípios, caráter antes de tudo. Será que teremos uma grata surpresa em surgir algum, diante de tão insustentável momento?, como foi na II Grande Guerra?
Mais do que palavras, WC, foi um homem de ação e de exemplos. Durante a guerra, chegou mesmo a se arriscar nas frentes de batalha. Por inúmeras vezes, cruzou a Europa e o atlântico em pequenos aviões, enfrentando todos os tipos de perigos. O tratado do Atlântico, que originou a ONU, foi idealizado por ele, assim como o próprio nome da entidade, que anteriormente se chamava liga das nações. Sugiro a todos, aqui, uma excelente leitura: memórias da guerra de WC. Este livro mudou minha visão do mundo moderno e me situou, bem melhor, no mundo que hoje vivemos. Boa leitura a todos. Ah, são 6 volumes, mas tem uma vesão reduzida de apenas dois. OBRA PRIMA.
Fiz a assinatura da revista, mas não estou tendo acesso.
O que eu faço?
Guzzo e o mestre dos mestres
Que bom ler seus artigos enriquecedoras. Obrigado
Guzzo.