Uma biofábrica de mosquitos em Medellín, Colômbia, está no centro de um experimento inovador para combater a dengue. Apesar de alguns mosquitos escaparem e picarem visitantes, eles são inofensivos, diferentemente dos mosquitos selvagens que transmitem a doença. As informações são do jornal AFP.
O Programa Mundial de Mosquitos (WMP) substitui a população local de Aedes aegypti por mosquitos modificados biologicamente. Esses mosquitos são infectados com a bactéria Wolbachia, que impede a transmissão da dengue. O projeto já resultou em uma redução de 95% dos casos de dengue em Antioquia, conforme autoridades de saúde locais.
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“Estamos usando vida para preservar a vida”, afirmou o biólogo Nelson Grisales à AFP. A técnica, que não altera o DNA dos mosquitos, mostrou-se eficaz na diminuição dos casos de dengue, como evidenciado pela queda de 144,7 para 6,4 casos anuais por 100 mil habitantes em Bello, após a liberação dos primeiros mosquitos em 2015.
O método, inicialmente testado em Niterói e Jacarta, está sendo implementado em Cali e será expandido para El Salvador. “Tudo isso vai acelerando à medida que o problema da dengue se acelera”, declarou Grisales.
A Opas alertou que a América Latina e o Caribe enfrentam sua pior temporada de dengue, com 9,3 milhões de casos e pelo menos 4.500 mortes entre janeiro e junho deste ano.
Descoberta da Wolbachia contra a dengue
A Wolbachia cria uma barreira contra a transmissão da dengue, segundo a bióloga Beatriz Giraldo do WMP. A descoberta foi feita pelo cientista australiano Scott O’Neill nos anos 90. Ele encontrou a bactéria em metade das espécies de insetos, mas não no Aedes aegypti, também conhecido como mosquito tigre.
Apesar do sucesso, o projeto enfrenta desinformação nas redes sociais, com teorias conspiratórias envolvendo Bill Gates, um dos financiadores. “Eles dizem, por exemplo, que os mosquitos que estamos liberando têm chips para controle mental por parte de Bill Gates”, disse Grisales.
Aceitação da comunidade e desafios futuros
No bairro Comuna 18 de Cali, onde os mosquitos com Wolbachia foram liberados em 2019, houve resistência inicial, mas a aceitação aumentou com explicações adequadas. “Mas com acompanhamento e explicação adequada, eles aceitaram”, garante a moradora Albency Orozco.
O projeto, atualmente uma iniciativa particular autorizada pelos governos locais, aspira tornar-se uma política pública em breve, conforme Grisales. A combinação de El Niño e mudanças climáticas está favorecendo a proliferação do mosquito da dengue, tanto na América Latina quanto na Europa, onde os casos também estão aumentando devido às altas temperaturas.