Pesquisadores pressionam para que um programa de amostragem abrangente de imunidade seja implementado em todo o mundo
O chamado Observatório Global de Imunologia monitora regularmente os dados de anticorpos coletados no sangue e na saliva para criar um atlas em tempo real da imunidade “normal” e prever o surgimento de doenças conhecidas e desconhecidas.
Se esse sistema estivesse em vigor nos EUA em janeiro, afirmam seus defensores, ele poderia ter oferecido pistas precoces de que o coronavírus estava em circulação e permitido a adoção de medidas mais rapidamente.
“Se tivéssemos retirado sangue em Seattle e outros lugares onde foram detectados casos precoces, poderíamos ter percebido que havia muito mais respostas de anticorpos aos coronavírus”, diz Jessica Metcalf, demógrafa e infectologista da Universidade de Princeton, em Nova Jersey.
Alguns indícios iniciais teriam surgido por causa de encontros anteriores com coronavírus sazonais mais leves.
É provável que o sistema imunológico tenha reconhecido um invasor viral estruturalmente semelhante e lançado uma resposta.
“Detectar uma anomalia [na imunidade da linha de base] poderia ter resultado em apenas uma semana ou mais de antecipação, mas essa pandemia mostrou que toda semana conta”, acrescenta a professora Metcalf.
Michael Mina, imunologista da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, disse à revista Science que o sangue dos nova-iorquinos poderia até ter fornecido informações suficientes para o governador Andrew Cuomo fechar o Estado duas semanas antes.
Os avanços na tecnologia de amostragem significam que uma pequena gota de sangue pode ser aplicada a um chip contendo epítopos — fragmentos distintos reconhecíveis pelo sistema imunológico — dos mais de 200 vírus conhecidos por infectar seres humanos.
O chip revela quais anticorpos estão presentes. Milhares de amostras de sangue anônimas poderiam ser processadas diariamente em todo o mundo, fornecendo um mapa ao vivo da imunidade viral.
O processo poderia estar ligado a um observatório global de patógenos para identificar se novos vírus entraram em circulação na humanidade.
A amostragem em milhares de locais ao longo do tempo contribui para uma vigilância mais refinada — essencial, diz ela, pois as pandemias costumam surpreender.
A professora sugeriu pela primeira vez um esforço semelhante, um Banco Mundial de Sorologia, com colegas em 2016. Isso se concentrou no sangue; informações sobre imunidade também podem ser obtidas da saliva e da urina.
A ideia de um observatório global, com seus dados disponíveis gratuitamente para todos, pode não ter dado certo de primeira. Mas, encorajadoramente, os filantropos estão agora manifestando interesse: um estudo-piloto está em andamento na Harvard.
Como o mundo pretende impedir futuras pandemias, a ideia certamente merece reviver.
Muito interessante. Tomara que prospere.