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Manifestantes realizam um ato-vigília em frente à sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, na noite da última terça-feira, 7, após o desaparecimento do indigenista, Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips durante viagem de barco na Amazônia, no domingo (5) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Edição 117

A abjeta politização das mortes no Amazonas

Responsabilizar Bolsonaro pela morte de duas pessoas numa “terra de ninguém” é a coisa mais torpe que esse pessoal fez até aqui, e olha que a concorrência é acirrada

Rodrigo Constantino
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A Polícia Federal confirmou na noite desta quarta-feira (15) que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips foram assassinados. Os dois estavam desaparecidos na região do Vale do Javari, no Amazonas, desde o dia 5 de junho. Em coletiva de imprensa, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, informou que os restos mortais dos dois foram encontrados após Amarildo da Costa Pereira, conhecido como “Pelado”, confessar a participação nos homicídios.

Em depoimento, Amarildo afirmou que ajudou a enterrar os corpos do jornalista e do indigenista brasileiro, que teriam sido mortos a tiros. Ele disse que não efetuou os disparos e também não ouviu os tiros. O suspeito afirmou ainda que Bruno trabalhava para combater a pesca ilegal na região, e este teria sido o motivo do crime. Amarildo teria dito aos policiais que os corpos de Dom e Bruno foram queimados, esquartejados e enterrados.

Que os parentes e os amigos dos dois possam encontrar algum conforto espiritual neste momento dramático. A investigação policial foi bem célere, ainda mais em se tratando de uma região inóspita, com floresta densa, dominada por inúmeros grupos criminosos. A outra suspeita, além da pesca ilegal, recai sobre o narcotráfico, incluindo traficantes peruanos que atuam naquela área. É um local com muitas riquezas naturais, mas sem nenhum desenvolvimento social. A presença do Estado é parca, ou seja, é aquilo que chamamos popularmente de “terra sem lei”.

Leonardo Coutinho escreveu uma coluna na Gazeta do Povo resgatando as impressões de Euclides da Cunha quando esteve naquela região, concluindo que a violência no local é endêmica e atravessa o tempo. Coutinho explica: “A Amazônia que o jornalista viu segue muito parecida 123 anos depois. Naquela época, eram os seringueiros que apartavam e matavam índios para liberar a floresta para a extração do látex. Assim como essa prática sinistra, caucheiros, regatões e outros personagens da expansão pioneira da fronteira já não existem. Eles foram substituídos por garimpeiros, grileiros, pescadores ilegais e, principalmente, os traficantes”.

Dom Phillips
Dom Phillips e Bruno Pereira | Foto: Reprodução

São várias causas para essa situação, claro. Mas o cerne da questão é a ausência do Estado e um modelo de exploração predatória em vez de sustentável e calcada na propriedade privada. Coutinho comenta: “Todos, ou quase todos, os esforços de ocupação e de ‘desenvolvimento’ da Amazônia passam pelo extrativismo. A inexplicável insistência em um modelo econômico sustentado pela exploração da floresta — seja de forma predatória, seja de maneira ‘sustentável’. Uma ilusão que não só condena a região à pobreza, mas também ao crime e a todo tipo de ilegalidades relacionadas ao modelo econômico imposto à região, que, em essência, se resume a explorar a floresta e seus recursos”.

Nesse cenário, a disputa pelo poder e pelas riquezas se dá por meio da violência ilegal, já que não há nada semelhante ao Estado de Direito. É análogo ao que acontece nas favelas cariocas, com um “Estado” paralelo criado pelo narcotráfico ou por milícias. Um debate sério sobre como mudar essa realidade triste passa pela criação de um mecanismo adequado de incentivos, para que a exploração seja racional, e as disputas se deem por meio do sistema legal. É mais fácil falar do que fazer, mas casos como o do faroeste norte-americano demonstram ser possível esse caminho.

A esquerda, porém, não quer saber de nada disso. Com sua visão romântica de mundo, ela parte da premissa absurda que o capitalismo é o problema, que “preservar” uma floresta quase da dimensão da Europa seria a melhor solução para o planeta — e para o povo do Amazonas. O atual governo adotou uma postura bem diferente, focando nos indivíduos, lembrando que os cerca de 20 milhões de amazonenses possuem o pior IDH do país, e que esse modelo “progressista”, que trata índios como mascotes numa espécie de zoológico humano, atende apenas aos interesses de membros de ONGs que ficam jantando em Paris para debater o assunto.

Quando a missionária Dorothy Stang foi morta, com sete tiros, em 2005, ninguém achou prudente culpar o então presidente Lula pelo episódio

Essa mudança provocou imediata reação, já que são muitos interesses em jogo, e o governo Bolsonaro fechou torneiras para recursos que alimentam essas ONGs. Há muita gente que vive da exploração dessa miséria, e que encontra no discurso ambientalista radical um atalho para o sucesso financeiro. Daí a revolta com o atual presidente. Mas essa turma esconde isso com um discurso sensacionalista, como se o presidente estivesse ao lado dos criminosos da região, e não se importasse com os índios. Para quem tem uma visão estética de mundo, tudo que importa é a narrativa, a imagem.

E essa turma viu no desaparecimento do indigenista e do jornalista uma oportunidade de ouro para atacar uma vez mais Bolsonaro. Antes de a polícia desvendar o caso, o presidente do STF, o ministro Luiz Fux, anunciou a criação de um grupo de trabalho para monitorar o episódio do desaparecimento da dupla. A frente vai contar com a presença do ator e diretor Wagner Moura, defensor da extrema esquerda. Também integram a frente de trabalho do CNJ o fotógrafo Sebastião Salgado, a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha e a juíza auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça Lívia Cristina Marques Peres. É tudo um grande teatro!

Mas pior do que tentar tirar um proveito de imagem com o caso é acusar o presidente pelo sumiço ou pela morte dos dois. E teve jornalista que fez exatamente isso! Responsabilizar Bolsonaro pela morte de duas pessoas numa “terra de ninguém” como a Amazônia é a coisa mais abjeta que esse pessoal fez até aqui, e olha que a concorrência é acirrada. São os mesmos que culpam o presidente por cada morte na pandemia, ignorando as mortes em igual proporção na vizinha Argentina, governada por um lulista.

São abutres que sambam em cima de cadáveres, que nem sequer esperam o sangue esfriar e já sobem em corpos sem vida para fazer palanque eleitoral. É prova de total falta de empatia. Muitos tentaram forçar uma associação com o caso da vereadora do Psol Marielle Franco, insinuando que Bolsonaro seria um assassino. Até onde vai a ambição dessa gente pelo poder? Não há nenhum limite ético para seus objetivos políticos? Seus “nobres” fins justificam quaisquer meios, por mais podres que sejam? São perguntas retóricas. Sabemos as respostas. A esquerda radical é capaz de tudo. Celso Daniel que o diga.

Em suma, podemos e devemos debater sobre como levar mais prosperidade e segurança para a Região Amazônica. Como liberal, estou convencido de que a receita “progressista” é uma desgraça. Concordo com a conclusão de Leonardo Coutinho no texto mencionado acima: “A ausência do Estado, combinada com o ilusionismo do ambientalismo ongueiro, é o pano de fundo da tragédia. Enquanto isso não mudar, a Amazônia e os amazônidas seguirão à margem da história”.

Mas, mesmo discordando totalmente da luta do indigenista e da ideologia do jornalista, que foram assassinados, óbvio que todos sentimos a perda e lamentamos o ocorrido. O que não é razoável é ignorar o perigo que eles sabiam estar correndo. E o que é muito menos aceitável ainda é, de alguma forma, tentar responsabilizar o atual governo pelas mortes. Quando a missionária Dorothy Stang foi morta, com sete tiros, em 2005, ninguém achou prudente culpar o então presidente Lula pelo episódio. É simplesmente abjeta a politização das mortes na Amazônia.

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23 comentários
  1. Ricardo Leite Dos Santos
    Ricardo Leite Dos Santos

    Como sempre preciso em seus comentários, saúde.

  2. Jarlan Barroso Botelho
    Jarlan Barroso Botelho

    Ótimo artigo! Mais uma vez, a esquerda aproveita fatos lamentáveis para criar narrativas que buscam atacar o Governo Federal. Isso mostra, além da total falta de empatia, o total desespero desses caras, que sofrem crises de abstinência do dinheiro público.

  3. Raul Marques
    Raul Marques

    Parabens ao Governo que agiu e solucionou o caso em tempo record . Assim a esquerda nao aproveita o episodio para palanque eleitoral.

  4. JHONATAN PAIVA SURDINI VIEIRA NOGUEIRA
    JHONATAN PAIVA SURDINI VIEIRA NOGUEIRA

    Muito bom consta! TudoConsta!

  5. Mauro Motta Martins
    Mauro Motta Martins

    Pois, que me perdoem se puderem (ou quiserem). Quando comecei na prática de montar em cavalos xucros nos Rodeios do Rio grande do Sul me avisaram de que era perigoso. Mesmo assim assumi o risco e nunca fiquei com queixas como se a responsabilidade assumida fosse de outros. Esses dois merdas, se tivessem entrado em Lídice (Tchecoslováquia) ou Srebrenica (Iugoslávia) nas épocas dos massacres o Bolsonaro, que nem era nascido ainda, seria responsabilizado. UM BANDO DE PUTOS MAUS-CARÁTER.

  6. Rui Licinio Filho
    Rui Licinio Filho

    A morte do jornalista e do indigenista tem que ser investigadas e punidas com rigor, mas, na boa, que culpa tem Bolsonaro se dois malucos resolveram, de uma hora para a outra, se embrenhar no meio do mato?

  7. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Constantino, parabéns por esse maravilhoso texto. Esses esquerdopatas não têm limites. Por isso esquerdopata bom é esquerdopata morto.

  8. DAVID JUGEND
    DAVID JUGEND

    Constantino, concordo sempre com você. Só tem uma coisa que gostaria de ver uma mudança pois acho que essa denominação de esquerda, direita, comunista, podia até fazer algum sentido na minha juventude ( tenho hoje 73), onde inclusive fui comunista por achar há 50 anos, que resolveria justamente a situação do mundo. Hoje nada destas ideias sobrou, nenhum país se guia por estes princípios (só sobraram meia dúzia de ditaduras que nada tem a ver) e, no entanto os termos continuam, sendo aplicados sem a menor correlação, na maioria das vezes.
    Votei em Bolsonaro em 2018 por falta de opção e o cara me ganhou antes de assumir, tal a seriedade com que montou o seu governo. Vou votar de novo desta vez, por opção, pelo super governo que está fazendo.
    Isso não faz de mim um direitista, um conservador ou sei lá o que. Não concordo com todas as pautas.
    É chamar o Lula e seus bandidos de comunistas ofende o meu idealismo de juventude, a visão romântica como você chama, e que hoje não existe mais.
    Pra nós que tal Liberais, sem conotações e pra eles, nós textos que vocês escrevem, somente esquerdistas e pronto?

    1. Manfred Trennepohl
      Manfred Trennepohl

      David, compartilho com essa visão. Acredito que a disputa não tem nada de ideológico, é uma disputa por poder, tanto é, que, em qualquer país, onde essa gente consegue entrar através do voto, logo eles dão um jeito de mudar as regras do jogo, seja através de uma nova constituição ou outro mecanismo, para se perpetuar no poder. Nunca tem um plano de governo, mas um projeto de poder.

  9. RODOLPHO SILVA MARQUES
    RODOLPHO SILVA MARQUES

    Vamos dar 5 dias para o ministro Fux fizer por quê indicou o supra esquerdista Wagner Moura para integrar a equipe nomeada para monitorar as buscas dos desaparecidos na amazônia,

    1. Manfred Trennepohl
      Manfred Trennepohl

      É que ele não sabia que o Capitão Nascimento, do filme, era apenas um personagem. Ele achou que estava enviando para a Amazônia um graduado extremamente capacitado e não um decorador de textos.

  10. ANTONIO ADELINO LOUZADA BRANDAO
    ANTONIO ADELINO LOUZADA BRANDAO

    Iniciei assinatura pelos articulistas, mas pago para NAO ter cookies nem propaganda (excecao aquela lateral ao texto, nao invasiva).

    1. RODOLPHO SILVA MARQUES
      RODOLPHO SILVA MARQUES

      Eu também.

  11. Jorge Apolonio Martins
    Jorge Apolonio Martins

    A esquerda não tem decência nem mesmo na imprensa, é asquerosa.

  12. José Antonio Braz Sola
    José Antonio Braz Sola

    Parabéns, Consta !
    Falou tudo.

  13. Marcelo Gurgel
    Marcelo Gurgel

    Para derrotar o Presidente Bolsonaro os jornalistas esquerdopatas farão qq coisa, por mais indecente que seja.

  14. Jose Carlos Rodrigues Da Silva
    Jose Carlos Rodrigues Da Silva

    Isso é tudo arrumado pra derrubar o presidente Bolsonaro kkk

  15. Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva

    👏👏👏👏👏👏👏👏👏

  16. Andreia Rodrigues Gomes
    Andreia Rodrigues Gomes

    Excelente artigo! Obrigada Rodrigo. Essa obsessão em responsabilizar Bolsonaro por tudo de ruim que acontece no Brasil está se tornando doentia. Que coisa terrível meu Deus!!

  17. Júlio Rodrigues Neto
    Júlio Rodrigues Neto

    Estes criadores de falsas narrativas deveriam se ocupar em fazer um levantamento de quantas doenças e mortes foram causadas pela DESNUTRIÇÃO, decorrentes da perda do poder econômico de grande parte da população, gerada pela GRANDE CRISE ECONÔMICA ocorrida durante o período da MAIOR CORRUPÇÃO no Pais, que foi o período do MENSALÃO e do PETROLÃO. Tentam esconder esta realidade, omitir os fatos. Não conseguem.

    1. Manfred Trennepohl
      Manfred Trennepohl

      Excelente análise.

  18. O Revelador
    O Revelador

    No mínimo chegaram intimando os pescadores, com aquele papo ambientalista arrogante de “proteção” a natureza, típica de quem tem a vida ganha com o dinheiro dos outros……vou chamar a polícia, vou mandar prender, vocês são criminosos ambientais e por aí vai.

    Na realidade, as pessoas que vivem nessa região só estão buscando seu sustento na pesca porque a lei lhes proibiu qualquer outra forma de atividade remunerada.

    A culpa não é do Bolsonaro, mas sim nossa , por termos colocado no poder, por muitos anos, pessoas que não dão a mínima para os habitantes da Amazônia e só se preocupavam em proteger o mercado ilegal de extração mineral, vegetal e animal, bem como proteger os interesses dos traficantes.

    1. José Manoel Soares Nunes
      José Manoel Soares Nunes

      Corretíssimo mas as circunstâncias são muito difíceis para quem pensa assim.

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