A Federação Paulista de Futebol (FPF) tenta uma nova cartada na tentativa de retomar o Campeonato Paulista, paralisado desde que o Estado de São Paulo ingressou na chamada “fase emergencial” do plano de enfrentamento da covid-19. Um novo protocolo de prevenção e segurança foi elaborado pela entidade e apresentado nesta segunda-feira, 29, em reunião virtual com os clubes participantes da Série A-1 — a primeira divisão do futebol paulista.
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O novo protocolo é assinado pelos profissionais que compõem a Comissão Médica da FPF e chancelado pelos médicos dos 16 clubes que disputam o Paulistão. No documento, são estipuladas medidas mais rígidas do que aquelas que constavam da versão anterior do protocolo. A expectativa dos dirigentes é a de que o documento seja apresentado ainda hoje ao Ministério Público do Estado.
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Entre as novas determinações, está a concentração das equipes em “bolhas”, evitando grandes deslocamentos e, com isso, diminuindo a possibilidade de propagação do coronavírus. A ideia é que os atletas fiquem isolados em hotéis ou centros de treinamento, sem qualquer contato com familiares ou com o ambiente externo. A FPF também diz que ampliará os testes de detecção da covid-19 e promoverá uma drástica redução no número de profissionais trabalhando nos estádios durante as partidas.
Reportagem especial publicada no dia 23 de março por Oeste mostrou que o Centro de Contingência da covid-19 do governo paulista não levou em consideração os protocolos e dados científicos apresentados pela FPF — baseados no protocolo elaborado pela Comissão Médica da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) —, que atestam a segurança do futebol em São Paulo, em meio à pandemia.
O coordenador da Comissão Médica da CBF, Jorge Pagura, apresentou um relatório detalhado sobre os protocolos de segurança sanitária adotados pela entidade durante o último Campeonato Brasileiro. Participaram dos estudos profissionais de medicina esportiva, epidemiologistas, infectologistas e especialistas em bioinformática. Foram realizados 89.052 testes RT-PCR para a detecção do coronavírus em um universo de 13.237 atletas, permanentemente monitorados. Os especialistas analisaram 116.959 inquéritos epidemiológicos encaminhados pelos clubes e 4.860 planilhas de jogos. Entre todos os campeonatos organizados pela entidade, o índice de testes com resultado positivo para a covid-19 foi de 2,2%. “Uma coisa importante foi que nós comparamos a curva de incidência com a curva do país, que a gente calcula por 200 mil habitantes. Você tinha fases de alta transmissibilidade na população e baixa no futebol. E, às vezes, você tinha alguns surtos em times, e estava baixo [na população em geral]. Essa curva dissociou-se da curva do Brasil”, explicou Pagura em entrevista a Oeste.
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Por meio de uma minuciosa análise das interações entre os atletas e da genotipagem do vírus, o comitê científico constatou que não houve contaminação durante as partidas. “Chegamos à conclusão de que não havia evidência de nenhum tipo de contaminação intertimes. A contaminação era intratimes”, diz Pagura. “Nós temos números grandiosos, os maiores números do país. Nós controlamos. Fomos afastando [os infectados]. Por que não fizeram isso no país, no município? Qual é a atividade profissional hoje que tem o controle que nós temos? Se todas tivessem, nós não estaríamos com a pandemia desse jeito. ‘Ah, mas o futebol migra de avião.’ Espera um pouco. Se você precisa viajar de avião, vá no meio de uma delegação de time de futebol. Estão todos testados, retestados, com máscara e com inquérito epidemiológico. O futebol não vai levar a pandemia para ninguém. Tem uma proteção que nenhuma outra atividade tem.”
Ao anunciar a prorrogação da fase emergencial do PlanoSP pelo menos até o dia 11 de abril, integrantes do Centro de Contingência do governo paulista reclamaram das pressões pela volta do futebol em São Paulo. “Nós temos acompanhado a pressão enorme que as federações e a confederação [CBF, Confederação Brasileira de Futebol] têm feito para que não se interrompam os jogos. Neste momento, é preciso suspender todo tipo de atividade que seja possível suspender. Nós mantemos a posição do Centro de Contingência de não haver neste momento nenhum tipo de atividade esportiva, como os jogos do Campeonato Paulista ou de outros campeonatos”, afirmou Paulo Menezes, membro do comitê, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes na quarta-feira 24.
Inicialmente, o Campeonato Paulista estava previsto para terminar no dia 23 de maio. Desde a proibição, a FPF já realizou alguns jogos fora do Estado — em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
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