A escritora Lygia Fagundes Telles morreu neste domingo, 3, aos 98 anos. Segundo a família, ela não estava doente, e ainda não se sabe a causa da morte. Chamada de dama da literatura nacional, foi eleita em 1985 para a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras. Com uma vasta e reconhecida obra, recebeu em 2005 o Prêmio Camões, o mais importante em língua portuguesa, instituído em 1988 conjuntamente pelos governos do Brasil e de Portugal. E, em 1966, 1974, 1996 e 2001 o Prêmio Jabuti, o mais tradicional do país, criado em 1959 pela Câmara Brasileira do Livro.
Lygia nasceu em 19 de abril de 1923, na rua Barão de Tatuí, no tradicional bairro de Santa Cecília, região central de São Paulo. Sua mãe, Maria do Rosário (Zazita), era pianista, e o pai, Durval de Azevedo Fagundes, advogado, delegado e promotor público. Por sua profissão, a família morou em várias cidades do interior paulista. Herdou a vocação artística da mãe e o interesse pelo Direito do pai. Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2013, contou:
“Decidi ser advogada por causa do meu pai, que se formou na São Francisco (Faculdade de Direito da USP). Eu o admirava muito. Mas não foi fácil estudar na São Francisco. Na minha turma, éramos apenas seis mulheres entre mais de cem homens. Todas virgens! Certa vez, um dos meus colegas me perguntou: ‘O que vocês, mulheres, querem aqui na faculdade? Casar?’ Respondi: ‘Também!’ Mal sabia ele que me casaria com um dos professores (Gofredo da Silva Telles Júnior).”
Seu primeiro livro de contos, Porão e Sobrado, foi publicado em 1938, em edição financiada pelo pai. O segundo, Praia Viva, em 1944; e o terceiro, O Cacto Vermelho, em 1949 — com este, recebeu o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras
Lygia escreveu seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, em 1954. Tornou-se nacionalmente conhecida pelo público e reconhecida pela crítica. O segundo romance, Verão no Aquário, em 1963, ano em que se casou com o crítico cinematográfico Paulo Emílio Sales Gomes.
“Paulo sempre foi um grande incentivador da minha obra, especialmente nos momentos mais difíceis. Como em 1973, quando publiquei As Meninas. Era época pesada da ditadura militar e eu me inspirei, entre outras coisas, num panfleto que detalhava a violência física sofrida por um preso político. Coloquei isso no meio da trama e fiquei apreensiva quando o livro foi enviado para a censura.” Depois, ela soube por Paulo Emílio: o censor se aborreceu com a história, leu apenas algumas páginas, não chegou ao trecho da tortura e liberou a obra. E o livro As Meninas virou um clássico.
Lygia era perfeccionista, rasgava seus originais até chegar ao texto que considerava ideal. “Para escrever, você precisa se dedicar de corpo e alma a seu personagem, a seu enredo e à sua ideia. É impossível sair do transe enquanto não dá a história por acabada, enquanto não decifra o humano. O detalhe é que o ser humano é inalcançável, inacessível e incontrolável, ele está sujeito a esses três is.”
Ela fazia parte de uma outra geração que não veremos mais, infelizmente. Estamos ficando cada vez mais pobres e não percebemos.
Podemos gostar ou não de seus livros, mas era uma ESCRITORA com uma OBRA e é disso que se trata a ABL. Ou não|?
Já no caso de certos tipos e ‘tipas’ que têm sido admitidos nesse clube…
Millôr Fernandes sempre teve razão ao criticar a ABL. E, do que jeito que caminha a coisa no meio dos “intelequituais progreçistas ESG”, não nos admiremos se lula, o exterminador de plurais -entre outras coisas…- for admitido no seu lugar.
Tiririca já está em campanha para substituí-la na Academia Brasileira de Letras. A torcida lá é grande para ele ocupar a vaga.