Prefeito de Campinas (SP) recebe com 'espanto' críticas feitas por Lula

Nos últimos dias, Campinas (SP) ganhou vez na imprensa e nas redes sociais. Isso em decorrência de imagens de estruturas de 15 metros quadrados que foram construídas pela prefeitura local.

O caso rendeu críticas, inclusive, por parte do presidente da República. Ao discursar em Belém, capital do Pará, no último sábado, 17, Luiz Inácio Lula da Silva ofendeu o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos). “Não é um cara humano”, disse o petista.

Alvo do presidente, Saadi admite a Oeste que não esperava ouvir algo desse tipo. “Recebi com espanto a fala dele”, afirma o prefeito campineiro, que prossegue: para ele, Lula falou algo sem entender do projeto em questão.

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“Uma fala agressiva, chamando de desumano uma pessoa que ele nem conhece”, lamenta Saadi. “Ou o presidente está muito mal informado ou quer politizar a questão para, eventualmente, ajudar um futuro candidato do partido dele”, continua o prefeito de Campinas. “Infelizmente, ele mentiu”, complementa o membro do Republicanos.

Para Lula e os demais críticos, Saadi explica que os imóveis de 15 metros quadrados não são as casas em si. De acordo com ele, as 116 estruturas erguidas até o momento são “embriões” que serviram como uma “forma rápida” para acatar uma decisão judicial.

A decisão da Justiça refere-se ao prazo de quatro meses para a Prefeitura de Campinas apresentar solução de moradia às famílias da Ocupação Nelson Mandela, na qual a área foi alvo de recente processo de reintegração de posse.

“Importante registrar que não são casas populares e também não são parte de um programa habitacional”, enfatiza o prefeito. “São embriões construídos em loteamentos de 90 metros quadrados cada e que já estão preparados para futuras ampliações”, prossegue Saadi.

De acordo com ele, o Executivo municipal irá ajudar, daqui para frente, na expansão desses chamados embriões. Para isso, informa-se que a prefeitura irá disponibilizar recursos e acompanhamento por parte de técnicos no tema habitação.

Prefeito de Campinas valoriza aceitação por parte das famílias atendidas

O prefeito Dário Saadi reforça que, diferentemente de Lula e outros críticos, a ação foi bem aceita pelas pessoas diretamente impactadas pelos “embriões” construídos em Campinas: as famílias da Ocupação Nelson Mandela, que irão morar no local onde as novas estruturas foram levantadas.

Em nota (íntegra abaixo), a coordenação da Ocupação Nelson Mandela valida a afirmação do prefeito. O grupo avisa que os embriões de 15 metros quadrados foram previamente apresentados pela prefeitura.

“Juiz deu prazo de quatro meses para sair”, informa a coordenação do grupo. “Prefeitura apresentou planta de 45m2 a 60m2. Aceitamos isso e lutamos para seu financiamento. Para construir 116 casas, em quatro meses, a prefeitura apresentou que faria um embrião de 15m2, com janela, banheiro e base para a continuidade da obra da casa completa. Isso não é vitória?”, prossegue a equipe à frente da ocupação.

“Afinal, ninguém pontuou, realmente, que a solução é: sair de uma área particular com reintegração de posse a ser cumprida, dar uso social em uma área pública subutilizada, garantindo financiamento em condições minimamente razoáveis, com lotes de 90m2 e com toda a infraestrutura (saneamento, água, luz, asfalto, etc)”, afirma o movimento, em outro trecho do comunicado. “Só quem não tem isso sabe o quanto isso é valoroso.”

Confira, abaixo, a íntegra da nota da coordenação da Ocupação Nelson Mandela:

NOTA PÚBLICA da Coordenação da Ocupação Nelson Mandela

Lamentamos como uma leitura enviesada da questão ganhou tamanha repercussão. Respeitamos a liberdade de imprensa, a liberdade de mandatos parlamentares e a liberdade de acadêmicos. Atuem como acharem correto. Somos coerentes. Também prezamos pela nossa autonomia e independência como movimento social organizado.

Mas a vida – e a imagem de uma capa de jornal ou de um post nas redes sociais – não é uma fotografia. Há um filme. Há seres humanos por trás disso. E há muita luta. E muita gente honestamente preocupada e não percebe a armadilha que caíram e não enxergaram o filme, realmente, e ficaram na aparência da foto. Mas aí é gente bem intencionada.

Porém muitos de vocês, e sua imprensa, com seus jornais e sites, suas empresas e seus capitais imobiliários, seus votos de classe e sua condição privilegiada, estão realmente preocupados conosco? Será?

Ninguém se preocupou com a gente quando sofremos reintegração de posse. Ninguém se preocupou enquanto ficamos 5 anos em moradias de madeira e sem nenhuma infraestrutura. Ninguém se preocupou em nos ouvir e publicar tudo que falamos. Ninguém se preocupou em ouvir nossa assessoria jurídica e urbanística. Ninguém se preocupou em ouvir servidores públicos municipais que ajudaram a construir a solução.

Afinal, ninguém pontuou, realmente, que a solução é: sair de uma área particular com reintegração de posse a ser cumprida, dar uso social em uma área pública subutilizada, garantindo financiamento em condições minimamente razoáveis, com lotes de 90m2 e com TODA a infraestrutura (saneamento, água, luz, asfalto, etc). Só quem não tem isso, sabe o quanto isso é valoroso.

Juiz deu prazo de 4 meses para sair. Prefeitura apresentou planta de 45m2 a 60m2. Aceitamos isso e lutamos para seu financiamento. Para construir 116 casas, em 4 meses, a Prefeitura apresentou que faria um embrião de 15m2, com janela, banheiro e base para a continuidade da obra da casa completa. Isso não é vitória?

Explicar tudo isso é honestidade jornalística, apuração acadêmica precisa e coerência parlamentar. Precisa ter apuração real dos fatos. Porém vivemos em tempos que o legal é lacrar, o legal é a polêmica e uma boa manchete. 5min de fama. Likes. Triste conjuntura em que não se preocupam com todo um filme, mas vale mais uma fotografia descontextualizada.

Mas por quê? Porque querem deslegitimar a organização coletiva da luta. A conquista de lote urbanizado e o início de nossa residência de alvenaria que nunca tivemos, ou que faz muito tempo que não tivemos, ou que não conseguimos pagar. Querem desprestigiar uma vitória da classe trabalhadora organizada. Imagina se a moda pega? Sabemos bem a quem interessa esse discurso e o que, de fundo, está em jogo?

Sofremos com violência de classe e a violência do Estado. Sabemos como nos tratam. Por isso, olhem em nossos olhos e nos respeitem. Ninguém se preocupa com nossas atuais condições de moradia? Vocês vieram filmar nossa casa atual? Você veio aqui quantas vezes nos últimos cinco anos? E não é só nós!

Quantas famílias foram despejadas na pandemia? Quantas famílias não possuem saneamento? Quantas famílias esperam mais de uma geração para ter uma casa? Não queremos que nossos filhos passem o que passamos. Queremos proporcionar algo melhor.

Não tempos tempo para temer! Mas eles nos temem! Temem o povo organizado que CONQUISTA luta! E devem temer mesmo. Porque queremos conquistar o mundo! A “narrativa” criada tem sido um sofrimento para nós, pois não expôs tudo como deveria. Parece nos ajudar, mas nos colocou numa condição injusta e nos machucou. Poderia ter sido pautado de outra forma. Não julgamos, não entramos numa esfera moral. Sistema é bruto. Nos moe diariamente. Não é a primeira, nem a última injustiça que sofremos. E, convenhamos, apesar de raiva e dor, longe de ser a maior já sofrida.

Aguentamos bem porque o lombo é grosso. Somos atores sociais coletivos. Organizados. Somos parte da classe trabalhadora que não se rende. A luta é justa. Querem ajudar? Venham. Serão bem vindos. Marchem junto! Lado a lado. Cabeça erguida e cara limpa. Seguiremos!

Viva a luta por moradia! Viva a luta das famílias da Ocupação Nelson Mandela!

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