A partir de 2026, a lista de leituras obrigatórias para o exame da Fuvest, vestibular da Universidade de São Paulo (USP), terá exclusivamente obras de mulheres. A medida permanecerá em vigor até 2028.
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Serão autoras de língua portuguesa, como Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida, Lygia Fagundes Telles, Narcisa Amália, Nísia Floresta, Rachel de Queiroz e Sophia de Mello Breyner Andresen.
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A mudança foi feita para valorizar o papel das mulheres na literatura, segundo a instituição. “Talvez elas tenham estado ausentes da lista de leitura obrigatória”, disse o diretor-executivo da Fuvest, Gustavo Ferraz de Campos Monaco, à Agência Brasil. “Mas nossa intenção nesse movimento foi o de tornar a lista representativa de um grupo que por diversas razões acabou ficando marginalizado na divulgação das suas obras, do seu modo de ver o mundo e do seu modo de descrevê-lo.”
Decisão da USP tem “tom mais político”
A decisão da Fuvest deixou alguns especialistas surpresos, apesar da lista de leitura conter grandes nomes femininos da literatura. Fátima Andreoli, escritora e professora especializada em literatura latina formada pela USP, diz que a universidade tem autonomia para montar a grade só de mulheres. Para ela, entretanto, a decisão parece ter um “tom mais político, mais social do que educacional”.
Fátima também trabalhou na Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista (Vunesp), deu aulas em universidades por 44 anos e durante três anos no ensino médio. Na Vunesp, trabalhou na organização de diversos concursos e corrigiu provas de vestibulares. Para a professora, a medida não ajuda a difundir as obras femininas. Além disso, na visão dela, a ação prejudica os estudantes.
“Em termos de educação, qual seria o benefício?”, pergunta Fátima. “Os alunos que estão preocupados com vestibulares dificilmente leem as obras recomendadas. Eles correm atrás dos resumos. Os alunos se preocupam com datas, em decorar as características do enredo para tentar responder às questões do vestibular. Mas o mais importante no ensino de literatura é o contato com a obra.”
A professora cita que uma decisão mais efetiva por parte da USP seria promover uma série de programas com obras femininas. “Fui em vários cursos, conferências, congressos e simpósios da própria USP sobre literatura e língua portuguesa”, disse Fátima. “Poderíamos pensar em promover uma série de programas sobre a escrita feminina. Por exemplo, em março, a gente tem tradicionalmente o Dia Internacional da Mulher. Poderíamos fazer muitas iniciativas que fariam perdurar o interesse pela literatura feminina, não só no vestibular.”
Vácuo de escritores
Em relação ao ensino em si, Fátima aponta para um “vácuo” sobre autores da língua portuguesa para os estudantes que estarão se preparando para a prova da USP de 2026 a 2028. “Porque as outras obras vão desaparecer e não haverá uma constância para os professores”, diz. “Como professora, eu teria uma preocupação imensa em pensar que mudando assim, drasticamente, haverá lacunas na formação desses alunos. Vai ter um intervalo com as obras importantes dos escritores, que eles provavelmente não vão ler. Eles vão sair com essa lacuna dos clássicos. E é preciso ler um Machado de Assis.”
Para a professora, hoje, a maioria dos alunos não lê nem autores homens nem mulheres, e é mais importante que o estudante se torne um leitor na escola, porque “se ele não se tornar um leitor na escola, vai ser muito difícil que ele se torne depois”. Ela também crava que “a qualidade de uma obra não está no gênero do escritor”.
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Mario Ghio, presidente da Associação Brasileira dos Sistemas e Plataformas de Ensino (Abraspe), avalia que a nova política da Fuvest caminha “na direção certa, mas na dose errada.” Para ele, a diversidade na educação é importante, de modo que as escritoras mulheres deveriam, sim, estar na lista de leituras do vestibular. Porém, não de modo exclusivo.
“Não é para a gente continuar promovendo a homogeneidade anterior, que estava errada”, diz Ghio, ressaltando que, em muitos casos, as universidades inclusive possuem mais professoras que professores, o que tornaria “incoerente” se as leituras fossem apenas de escritores homens, ou com uma maioria deles. “Mas, na minha visão, estipular que apenas autoras nos próximos anos serão fomentadas na leitura também está errado.”
“A maior universidade brasileira, a mais importante da América Latina, quando define uma lista de leitura, direciona quase que todo o ensino médio dos alunos”, explica o presidente da Abraspe. “Porque ninguém lê as obras no ano do vestibular, já que são várias. Então, os alunos têm um tempo ao longo do seu ensino médio para ler essas obras, para terem aulas e debatê-las com os professores. Qualquer redução da sociedade a um grupo específico — ainda que por mais legítima que seja a iniciativa para corrigir talvez um erro histórico — nos impede de atingir o máximo da nossa inteligência, diversidade e inovação.”
“Decisão da Fuvest mascara o que há de pior no sistema educacional brasileiro”
Tanto para Ghio como para Fátima, a decisão da USP pode influenciar outras universidades a tomarem decisões semelhantes. Advogada potiguar e doutoranda em Direito Constitucional na USP, Izabela Patriota diz que a decisão da Fuvest mascara “o que há de pior no sistema educacional brasileiro”.
“O grande problema é que a Fuvest se trata do vestibular para a maior universidade da America Latina e não sabe filtrar da melhor forma seus vestibulandos”, explica Izabela, que também é diretora de relações públicas do Ladies of Liberty Alliance (Lola), uma organização internacional de mulheres liberais e libertárias. “Por que cabe a uma prova cobrar as mesmas leituras obrigatórias para os aplicantes de vestibular de engenharia, Direito e sociologia? Não se pode mascarar todos os problemas que a USP enfrenta apenas sinalizando com literatura só de mulheres”.
Izabela também diz que o sistema de ensino superior no Brasil não “consegue galgar degraus internacionais” e que medidas como esta “podem até sinalizar positivamente, mas não trazem qualquer impacto em termos de ensino e aplicabilidade no mercado de trabalho”. “Particularmente, apoio a leitura de mais mulheres escritoras do Brasil”, diz. “O problema é que indicar apenas literatura de mulheres só disfarça o real problema do ensino brasileiro: dar resultados em empregabilidade e inovação.”
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A estudante da USP também diz que é “complicado” que a Fuvest tenha mudado a sua grade de leituras por “ideologia”, principalmente porque está “usando dinheiro público”. “A USP só vem perdendo destaque no cenário internacional”, diz Izabela, que também é pesquisadora bolsista da George Mason University, dos Estados Unidos. “Ela só consegue se destacar na América Latina. Como essa medida favorece a educação? Se for um objetivo em si mesmo, tudo bem, mas qual é o impacto disso?”
Socióloga diz que medida da USP é uma resposta a uma “crise fabricada”
Já Geisiane Freitas, socióloga e escritora, destaca que a medida pode causar o efeito reverso, isto é, desestimular a leitura das autoras. E que também pode desvalorizar o trabalho delas. “Eu odiaria ter feito parte do Fio Diário, com Marco Antônio Costa, se eu estivesse ali somente porque eu era uma mulher negra, e não porque eu tenho algum tipo de qualidade, competência ou aptidão para fazer o trabalho que eu fazia lá”, diz. “Se eu sou uma autora como a Clarice Lispector, que está na lista, a primeira coisa que eu pensaria seria isso. Eu odiaria estar ali somente por uma coisa, por ser mulher.”
Para a escritora e socióloga, a decisão da Fuvest também vem em resposta a uma “crise fabricada, inventada” em relação às mulheres, como se houvesse uma repressão à leitura de escritoras ou à liberdade das mulheres de fazerem suas próprias publicações.
“É como se a esquerda dissesse: ‘Preciso solucionar essa crise empurrando uma autora’”, diz Geisiane. “É para os membros da bolha sentirem que estão fazendo algo pela representatividade feminina. Como se essas autoras não estivessem sendo lidas porque elas são mulheres. Mas, não: o brasileiro, em geral, não lê. Ele não lê nem livro de homem e nem de mulher.”
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Este movimento de enfiar goela abaixo diretrizes notadamente ideológicas não dá certo. Enquanto as pessoas estiverem anestesiadas, tudo bem. Mas um dia o efeito da anestesia passa, ou pode passar… Ficar pensando que, depois da anestesia, ninguém vai se lembrar do que se passou, funciona na anestesia médica; na anestesia ideológica, ainda falta verificar. Estão jogando todas as fichas numa teoria (fajuta, diga-se de passagem) mas eu posso apostar que o resultado vai dar errado. Brincar de sociologia… eu me lembro que isto já foi tentado, muitas vezes, sem sucesso
Como eu disse na gazeta do povo. É inevitável evitar essa onda progressista depois de tudo o que vem acontecendo desde o primeiro mandato do Mula. O que podemos fazer é educar nossos filhos em casa, para que possamos evitar desastre maior.
Quando estiverem com seus filhos e eles quiserem atenção, abandone tudo o que estiverem fazendo para dar atenção e educar de forma com que a esquerda não tenha acesso a mente de vossos filhos. Por isso eles proíbem o homescholling. Enquanto você descansa enquanto seu filho quer atenção, na escola eles estão a todo vapor para manipulá-los.