Um ataque com mísseis de longo alcance da Ucrânia danificou dois navios de guerra russos em uma base de reparos de navios, na Crimeia, nesta quarta-feira, 13. Autoridades russas confirmam que 24 pessoas ficaram feridas.
O local faz parte do Porto de Sebastopol, sede da Frota do Mar Negro da Rússia na Crimeia. A CNN definiu o ataque como aquele que parece ser o mais ambicioso ao porto desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Leia mais: “Ucrânia critica Elon Musk por interromper ataque à Rússia”
A ação ucraniana tem, além dos estragos, um caráter simbólico. Isso porque se trata de uma incursão na Crimeia, tomada pela Rússia em 2014. A região tem sua importância estratégica, vista como um ponto de honra do governo de Vladimir Putin.
“Atacar o Porto de Sebastopol é uma tática de combate para enfraquecer o poderio militar russo”, afirma o professor de Inteligência Militar, Ricardo Gennari, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). “Mas, acima de tudo, a ação visa a mostrar aos russos, aos ucranianos e, principalmente ao mundo, a fraqueza russa na defesa de seus interesses.”
A ofensiva da Ucrânia e o caráter simbólico dos mísseis
Nesta etapa da guerra, o objetivo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é realçar o caráter simbólico da guerra, atacando áreas sob o controle da Rússia — aquelas anexadas ilegalmente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Zelensky fala em “devolver” os combates a “centros simbólicos e bases militares” da Rússia.
Nos últimos meses, forças da Ucrânia aprofundaram os ataques a essas áreas tidas como inegociáveis pela Rússia, mas consideradas território ucraniano pelo governo de Zelensky. Sebastopol já tinha sido atacada por drones ucranianos recentemente. Mas, por mísseis de longo alcance, foi a primeira vez.
Isso ocorreu a partir do fornecimento, por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), de mísseis de cruzeiro Scalp-EG, franceses, e os Storm Shadom, do Reino Unido. Estes armamentos passaram a ser enviados para a Ucrânia no início deste ano.
Leia mais: “Além dos mísseis: Rússia acusa Ucrânia de terrorismo”
Assim, as forças ucranianas passaram a fazer esse tipo de ataque mais agressivo, que inclui bombardeio de pontes em outras regiões da Crimeia. Segundo informações das autoridades, o ataque a porto de Sebastopol foi basicamente realizado por meio de mísseis Storm Shadow.
Esse ataque das forças ucranianas foi ousado, por ter atingido o estaleiro Sergo Ordzhonikidze, em Sebastopol, que a Rússia utiliza há séculos como base de reparação para a sua Frota do Mar Negro, com dez mísseis de cruzeiro e três barcos não tripulados.
Segundo o Ministério de Defesa da Rússia, forças de defesa aérea russas derrubaram sete dos mísseis e os barcos foram destruídos pelo navio patrulha Vasily Bykov. O objetivo ucraniano, no entanto, já havia sido alcançado, conforme ressalta Gennari.
“A cada dia que passa a Ucrânia faz ataques cirúrgicos, minando a defesa e testando as forças russas”, observou o especialista. “A Rússia, porém, jamais irá abrir mão da Crimeia, já que a importância estratégica e militar é enorme para os russos.”
Guerra entra em momento delicado e Rússia busca aliança com a Coreia do Norte
Um inimigo poderoso acuado, porém, pode não ser um bom negócio. A guerra, conforme diz Gennari, está entrando em um momento delicado. E se torna cada vez mais imprevisível à medida que a imagem da Rússia se mostre enfraquecida.
“Quando se fala de Rússia, todo cuidado é pouco, já que a contraofensiva do governo Putin poderá ser desastrosa para a Ucrânia”, diz Gennari. “Outro ponto importante é o fornecimento de armas e equipamentos de países ligados à Otan, que poderá também levar a Rússia a tomar medidas contra estes aliados.”
Neste sentido, Putin tem buscado soluções para responder ao fornecimento de arma do Ocidente.
Exemplo disso foi o encontro que o presidente russo teve com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, na base de lançamento espacial russa de Vostochny, no extremo leste do país, nesta quarta-feira.
Leia também: “Ditador da Coreia do Norte chega à Rússia para encontro com Putin”
Com interesses em aprimorar seu programa espacial, depois do fracasso na tentativa de colocar em órbita dois satélites, Kim está disposto a fornecer armamentos para a Rússia.
O governo norte-coreano possui um arsenal feito segundo padrões soviéticos, que poderiam ser utilizados no conflito com a Ucrânia.
Putin, por sua vez, deu a entender que a Rússia vai ajudar a Coreia do Norte a construir satélites e a desenvolver foguetes.
“É por isso que viemos aqui [ao cosmódromo russo]”, disse Putin. “O líder da Coreia do Norte mostra grande interesse na engenharia de foguetes, eles também estão tentando desenvolver o espaço.”