Durante anos, o presidente Xi Jinping conseguiu minar a influência da segunda figura política mais poderosa da China, o primeiro-ministro, Li Keqiang. No entanto, o atual cenário econômico de dificuldades tem proporcionado uma oportunidade de protagonismo ao número 2 do Partido Comunista Chinês (PCC).
Com a China em seu pior momento econômico recente, Li Keqiang está ajudando a pressionar o líder autoritário da China a reduzir algumas medidas que afastaram o país do capitalismo de estilo ocidental. As políticas recentes de Xi Jinping contribuíram para a desaceleração econômica do país, segundo analistas financeiros consultados em artigo do Wall Street Journal.
Mas, sob a influência de Li Keqiang, o governo recentemente afrouxou a repressão regulatória a empresas privadas de tecnologia, aliviou os empréstimos a incorporadoras e compradores de imóveis e agiu para ajudar fabricantes a retomar a produção em tempos de restrições ligadas à covid-19.
Em paralelo, Li Keqiang vem tentando influenciar a escolha de seu substituto, já que o primeiro-ministro vai deixar o cargo em menos de um ano. Seu objetivo é achar outro líder que funcione como um contrapeso para Xi Jinping, que trabalha para governar o país por mais cinco anos.
Para quem olha do exterior, é difícil avaliar quanto apoio Li Keqiang tem dentro do tradicionalmente fechado Partido Comunista Chinês. Mas existe uma crescente corrente crítica a Xi Jinping no mundo dos negócios. Segundo essa visão, o presidente teria se concentrado demais em manter a ideologia socialista enraizada no poder, em vez de de priorizar medidas práticas de crescimento econômico.
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Os apoiadores dos esforços de Li Keqiang incluem funcionários ligados à Liga da Juventude Comunista, uma organização outrora poderosa que produziu líderes anteriores, incluindo o ex-presidente Hu Jintao.
No mês passado, durante uma visita de inspeção a Jiangxi, uma Província agrícola no leste da China, Li Keqiang visitou um parque industrial repleto de empresas de comércio eletrônico. Esse setor foi duramente atingido pela campanha de Xi Jinping para controlar as empresas de tecnologia e punir o que o presidente descreveu como ‘expansão desordenada de capital’.
Diante de uma pequena multidão de executivos de comércio eletrônico e seus funcionários, Li Keqiang prometeu revigorar a ‘economia de plataforma’, ou seja, negócios baseados na internet, como o varejista on-line Alibaba Group.
Segundo o Wall Street Journal, pessoas próximas à tomada de decisões disseram que o retorno que Li Keqiang e sua equipe receberam das visitas de inspeção desde o final do ano passado mostrou que a repressão de Xi Jinping prejudicou o emprego e o crescimento.
Essas mudanças, no entanto, não devem levar a uma redução da força de Xi Jinping no controle do país ou a aumentar o envolvimento da China com o Ocidente. O atual presidente continua sendo o líder chinês mais poderoso em décadas, e muitos dirigentes de primeiro escalão do PCC ainda concordam com suas políticas de linha dura.
Há um entendimento de que as recentes vitórias políticas de Li Keqiang podem ser facilmente revertidas. A desconfiança de Xi Jinping no capital privado tornaria difícil para qualquer outro político de primeiro escalão levar a China de volta à liberalização econômica.
Mas, de qualquer forma, é difícil negar que o capital político de Li Keqiang está crescendo. Uma análise das reportagens da mídia estatal feita pela agência China Leadership Monitor mostrou que o primeiro-ministro apareceu nas manchetes dos jornais 15 vezes mais em 2021 do que no ano anterior — e, em 2022, ele já está prestes a dobrar o número de aparições.
A história se repete nas terras dos Xinglings, uma nova “dinastia” está chegando e, com certeza, irá ficar, só uma questão de tempo. Onde não há democracia vence o mais forte!