Em 1° de agosto, a CPMI do 8 de Janeiro retoma os trabalhos depois de duas semanas de recesso parlamentar. Ao todo, 32 parlamentares devem marcar presença na primeira sessão após a pausa.
Na pauta, está marcada a oitiva de uma testemunha muito aguardada pela oposição: Saulo Moura Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O depoimento de Saulo pode ser o pontapé inicial para uma série de dores de cabeça do governo.
Isso por que ele é o primeiro nome a ser ouvido que foi chamado pela oposição. Até o momento, sete pessoas foram inqueridas pelo colegiado, sendo elas:
- O gerente de posto de gasolina George Washington;
- Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal;
- Coronel do Exército Jean Lawand Junior;
- Tenente-coronel Mauro Cid;
- Coronel Jorge Naime, ex-chefe do Departamento de Operações Especiais da PM-DF;
- Peritos da Polícia Civil Renato Carrijo e Valdir Pires;
- Delegado Leonardo de Castro.
Todos os citados foram convocados pela ala governista, em uma derrota inicial da oposição. A relatora do colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), inclusive, foi acusada de desvio de finalidade por montar uma linha de investigação que estaria blindando o governo Lula e jogando os holofotes no ex-presidente Jair Bolsonaro.
A estratégia traçada pela relatora enxerga o 8 de janeiro como algo que teve início desde o segundo turno das eleições de 2022. Desse modo, os primeiros dois meses de CPMI foram focados nesse ideal investigativo — o que provocou a ira da oposição, que é minoria na comissão.
Agora a expectativa é de que os aliados do ex-presidente iniciem uma atuação mais ostensiva no contra-ataque ao governo. Depois de Saulo, o general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do presidente Lula, deve ter sua oitiva marcada.
O nome de G. Dias, como é conhecido, foi blindado pelo governo inicialmente. Contudo, a oposição costurou um acordo para que o militar fosse ouvido na CPMI.
“Nesses 60 dias, só olharam para um dos lados, enquanto o outro foi blindado”, avaliou o senador de oposição Eduardo Girão (Novo-CE), membro titular da CPMI, a Oeste. “O governo Lula fez de tudo para que essa CPMI não existisse. O governo colocou sua maioria governista para blindar os poderosos. Eles tentaram colocar a própria narrativa goela abaixo, com oitivas que nada tem a ver com o dia 8.”
O que Saulo Moura pode elucidar
Conforme revelou o jornal O Globo, a comparação entre dois relatórios da Abin mostrou que o GSI — a mando de G. Dias –, adulterou um primeiro relatório de inteligência enviado a uma comissão do Congresso.
A fraude seria para retirar dos documentos os registros de que o então ministro do GSI foi alertado, por mensagens enviadas ao seu celular, sobre os crescentes riscos de tumulto e de invasões à Praça dos Três Poderes.
Em depoimento à CPI do 8 de janeiro do Distrito Federal, contudo, o general negou a autoria da fraude e jogou a responsabilidade para o então responsável da Abin. Saulo agora tem a oportunidade de contradizer G. Dias e comprometer ainda mais o governo Lula.
O bloco de requerimentos que o governo não queria aprovar
Em 11 de julho, última sessão do colegiado antes do recesso, o governo sofreu um duro golpe por desatenção. A base de Lula ajudou a oposição a aprovar requerimentos que vão contra a linha de investigação traçada pela relatora.
Oeste elencou os principais:
- Cópia das imagens internas e externas das câmeras de segurança do Palácio da Justiça, que foram capturadas das 7 horas às 22h de 8 de janeiro de 2023;
- Informações detalhadas sobre todos os planos de voos feitos pelo presidente Lula com destino às cidades de São Paulo e Araraquara, em São Paulo, entre 6 e 8 de janeiro deste ano;
- O compartilhamento do Plano Escudo elaborado para a defesa dos Palácios Presidenciais; entre 1° até 9 de janeiro deste ano;
- Informações do Sistema Nacional de Registro de Hóspedes sobre todos os hotéis, pousadas e hospedarias do Distrito Federal nos períodos de 5 a 15 de dezembro de 2022 e 4 a 14 de janeiro de 2023;
- A relação de nomes das pessoas idosas detidas em 8 de janeiro;
- A relação dos nomes das crianças e dos adolescentes que foram detidos/recolhidos em 8 de janeiro;
Conforme noticiado na Edição 169 da Revista Oeste, a maioria desses requerimentos foi rejeitada em bloco com uma ação do governo para blindar alguns personagens importantes e documentos sigilosos do 8 de janeiro. A oposição tem a oportunidade de investigar a fundo tudo o que o governo tentou esconder.
Governo diz não temer oitiva de ex-Abin e quer focar em quebras de sigilo
Apesar da falta de atença notória, a base governista saiu com algumas vitórias desta última sessão: as quebras de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático de Cid, de Silvinei e de George.
A estratégia governista é conseguir mais informações sobre esses três personagens, pois, segundo eles, o trio não contribuiu para as investigações durante as oitivas. Quando ouvidos pela CPMI, Cid e George permaneceram calados. Já Silvinei respondeu a boa parte das perguntas, mas foi acusado de estar mentindo.
“Nesse segundo semestre, os trabalhos da CPMI possuem dois eixos importantes: vislumbrar os responsáveis pelo financiamento da ‘tentativa de golpe’ e os autores intelectuais/mandantes”, disse o deputado petista Rogério Correia (PT-MG) a Oeste.
Conforme Correia, os sigilos de Bolsonaro também são importantes para o andamento dos trabalhos, mas o requerimento em questão ainda não foi analisado pelos parlamentares.
O petista destacou que o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa; e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; são alguns dos “autores intelectuais” dos atos de vandalismo do 8 de janeiro.
Por fim, conforme noticiou Oeste, a CPMI pode ainda reconvocar alguns personagens que já foram ouvidos pela CPMI, como: Cid, Silvinei e Lawand.
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A relatora além de desqualificada é pau mandado de Flávio Dino. Governo tem muito o que esclarecer tudo foi muito bem arquitetado, só não enxerga quem não quer, foi tramado para ganhar capital político. Por que motivo o governo não queria a CPMI e agora está dificultando em tudo que pode? O que tem a esconder? Está igual ao código fonte que não foi entregue as FFAA. Qual o motivo???? Deixaria o processo com mais transparência..
Uma CPI que tem a sra. Grama como relatora tem destino certo … cortar o papel em quadradinhos pendurar na privada e bom uso.
Esqueçam. O desvio de finalidade (esclarecer a verdade) é claro. O governo tomou conta da CPMI, tem todos os trunfos e poder e a minoria opositora não terá força pra nada. A verdade: as manifestações nas portas dos quartéis tinham que cessar e não tinha como, pois eram pacíficas e constitucionais. Então precisavam criar uma situação pra justificar a truculencia, a mentira, a intimidação e assim acabar com as manifestações com apoio de todos. Lula sempre foi capaz disso. Saiu de Brasilia no dia. Por outro lado, jogar a culpa em Bolsonaro, procurar bodes expiatórios, insistir em tentativa de golpe (um absurdo pois não havia ninguém armado), tudo isso, muito bem planejado, seria uma jogada de mestre. Lembram que no caso do plano de atentado contra MOro e outras autoridades, Lula disse que o próprio MOro teria planejado isso? Claro, ele faz isso sempre, é especialista em mentir, enganar, distorcer e isso confessado por ele mesmo. Pra verdade vir à tona precisa: todas as filmagens das cameras serem mostradas, inclusive de um dia antes da invasão; os srs. Lula, Alexandre de Moraes, Flavio Dino serem intimados a depor, todos os inqueritos secretos se tornarem públicos, isso, no mínimo. Não é a verdade que procuram?