Em uma das cenas de Eike: Tudo ou Nada, o ator Nelson de Freitas, que dá vida ao empreendedor Eike Batista, diz que “não é o tipo de empresário que precisa de governo”. Mas a desastrosa história de sua petroleira OGX contrariou a bravata nos anos que se sucederam. O homem à frente do Grupo X acreditava que poderia ser o grande vencedor na busca pelo pré-sal, personificando a euforia econômica do Brasil na primeira década do século.
Eike foi o rosto daquele período, tanto no momento de excitação da descoberta de novas bacias de petróleo, tanto na frustração do segmento na década seguinte. Num espaço de alguns anos, o empresário saiu da 7ª posição da lista de pessoas mais ricas do mundo, segundo a revista Forbes (com US$ 30 bilhões), para a figura de um detento do Complexo Penitenciário de Bangu, em meio a dívidas e credores.
Baseado no livro Tudo ou nada: Eike Batista e a verdadeira história do Grupo X, da jornalista Malu Gaspar, o filme dos diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo estreou nesta semana, levando às telas um recorte da trajetória extravagante de Eike. Como não era possível transformar 600 páginas em 100 minutos de cinema, como diz o produtor Tiago Rezende, a escolha artística foi descrever a ascensão da OGX, baseada em uma mentira que o mercado comprou.
A petroleira lançada com objetivo de dominar o mercado de pré-sal no país conseguiu atrair investidores, se capitalizou, mas em alguns anos o empreendimento acabou se mostrando inviável. Eike arrematou 21 blocos da extração nas bacias de Campos e Santos, mas não foi capaz de fazer o petróleo jorrar. Mesmo assim, usou os holofotes da mídia para especular o contrário e atrair dinheiro, dobrando a aposta sempre que se via contra a parede. Em alguns anos, quando a falta de credibilidade do empreendedor se espalhou pelo mercado, o valor de suas empresas na bolsa despencou.
“A história do Eike se mistura com a história do Brasil. É um país que tem um potencial enorme, mas sempre acaba derrapando por algum motivo”, comentou Tiago Rezende, produtor do filme.
“O momento econômico era muito bom na época da construção das empresas X. Foi quando o Brasil saiu na capa da revista The Economist, com o Cristo Redentor como um foguete. Acho que talvez hoje não seria possível fazer o que ele fez na época. Mas, talvez por um misto de ganância, não sei se ingenuidade e vaidade, ele derrapou, e deu no que deu. Uma ascensão meteórica e uma queda mais meteórica ainda”, acrescentou.
Assista ao trailer do filme “Eike: Tudo ou Nada”
“A Grande Aposta” brasileira
Uma crise financeira da vida real, que quebrou investidores comuns e abalou, de alguma forma, a economia do país. No mais, histórias complexas de se levar para a tela, cheias de detalhes numéricos e jargões de mercado. Quem assiste a Eike: Tudo ou Nada pode se lembrar do filme que definiu esse gênero, o norte-americano A Grande Aposta.
O longa nacional parece se inspirar no filme de Brad Pitt, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 2016 e que trata da crise imobiliária dos EUA na década anterior. Ambos carregam o clima de thriller, pontuado por ação intensa de gabinete, numa cadeia acelerada de negociatas e risco.
Há diálogos inteiros do livro transportados para a tela, mas há também uma família inteiramente fictícia, criada do zero, porém verossímil — é o núcleo que exemplifica o nível de confiança que Eike tentou imprimir ao seu negócio, levando até pequenos investidores a apostarem tudo o que tinham na sua OGX.
A história começa a ser contada em 2006 e segue até a prisão de Eike, quando o empresário foi alvo da Operação Eficiência, um desmembramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. O dono das empresas X foi acusado de fazer parte do esquema de corrupção articulado por Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, preso desde 2016.
O filme parte da criação da petroleira, quando Batista já havia feito fortuna com a companhia de minério MMX e quis expandir seu império para outros setores, mesmo contra a opinião de executivos de seu entorno. Um dos recursos artísticos adotados foi usar a clássica música Aquarela do Brasil como trilha narrativa. A composição de Ary Barroso é usada em vários momentos, em diferentes arranjos, para inspirar euforia ou depressão.
Para ajudar a acelerar a história, o roteiro também conta com as inserções do comentarista econômico Pablo Spyer num quadro de TV fictício, usado para ilustrar como a escalada da OGX era percebida pelo mercado. Convidado do OesteCast em junho, o analista falou sobre a participação na produção e relatou por que sentia desconfiança do empresário. Spyer diz que chegou a desaconselhar clientes a investir na petroleira de Eike Batista.
Entre os “campeões nacionais” dos governos petistas
Apesar da conexão íntima com Sérgio Cabral, Eike teve a ascensão empresarial coincidente com a ascensão e queda do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder. O empresário ajudou a personificar a política dos governos Lula e Dilma de escolher os chamados “campeões nacionais”.
O termo foi empregado para descrever as empresas que receberam financiamentos generosos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para se tornarem companhias de atuação global. O Grupo X, por exemplo, teria recebido R$ 10 bilhões do órgão estatal para viabilizar seus projetos.
Hoje em dia se sabe que o desempenho de vários “campeões nacionais” passava por práticas de corrupção. Empresários deste grupo pagavam propina a agentes públicos, davam agrados a autoridades ou faziam doações eleitorais a políticos em troca de facilidades em contratos com o governo e estatais.
Eike Batista, por exemplo, doou R$ 5 milhões para o PT na campanha eleitoral de 2012, mas nega que a contribuição tenha sido feita em troca de alguma contrapartida.
No auge desse período, quando as coisas estavam funcionando para os envolvidos, Dilma se referiu a Eike como “orgulho do Brasil”. A declaração foi proferida durante a cerimônia que marcava o início da captação de petróleo da OGX no Porto do Açu (RJ), com a presidente ao lado do empresário e do governador fluminense Sérgio Cabral — todos devidamente paramentados com o jaleco da petroleira.
Sérgio Cabral virou governador “Sobral” no filme
O ator André Mattos dá vida ao governador Sobral no filme. A adaptação pouco sutil não faz questão de disfarçar que a autoridade retratada em tela é Sérgio Cabral, ex-governador do Rio que cumpre prisão por desvio de dinheiro, entre outros crimes.
O filme descreve a relação promíscua entre os dois personagens do poder, que conta com repetidos empréstimos do jatinho de Eike para Cabral (ou Sobral). Num primeiro momento, o governador recebe o empresário no palácio e ajuda a desobstruir questões envolvendo licenças ambientais. Mais adiante, o político lava as mãos, já quando os negócios do empreendedor começam a ruir.
Uma das opções do longa-metragem foi mudar nomes de executivos que participaram da história empresarial de Eike, por recomendação do escritório jurídico que assessorou a produção. Não há outra menção a políticos, além da referência a Cabral.
Já a menção a Luma de Oliveira é quase descartável para a narrativa central, mas acaba sendo útil para ajudar a compor a personalidade extravagante e conquistadora de Eike. A ex-mulher aparece com seu nome verdadeiro, interpretada pela atriz Carol Castro, e é vista em um momento de quase alucinação do protagonista.
Uma das virtudes do filme é a personificação de Eike pelo ator Nelson Freitas. Um dos melhores exemplos é sua performance a cena da prisão, em gravação reservada ao último dia de filmagens, quando o artista teve que raspar a cabeça, deixando apenas alguns fiapos desordenados, ostentando um aplique como o que o empresário tinha ao ser preso.
“Num primeiro momento, o nome dele causou uma estranheza para mim e os diretores, foi uma provocação, porque o Nelson tem uma imagem muito associada ao humor. Mas, ao mesmo tempo, nos pareceu óbvio, porque a gente não queria estar no lugar-comum. A gente tinha plena convicção que o Nelson seria capaz de mergulhar nesse universo”, afirmou o produtor do filme.
Eike hoje
O final de Eike Batista é depressivo, com o ex-bilionário na cadeia, dividindo espaço com criminosos comuns. Mas o dono da OGX promete dar a volta por cima, “como uma fênix”, diz. A história real conta que o empresário ficou apenas três meses em Bangu, solto por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Desde a falência da MMX, no ano seguinte, há poucas informações sobre como Eike faz para pagar as contas. O que se sabe é que o empresário se manteve como controlador da OSX, ligada à indústria naval, e do restaurante Mr. Lam, o chinês mais badalado do Rio de Janeiro. De quebra, luta judicialmente para recolher ativos da mineradora falida.
Em 2020, a ministra Rosa Weber homologou o acordo de delação premiada de Eike com a Procuradoria-Geral da República. O caso está no Supremo porque o empresário mencionou pessoas que têm foro privilegiado. Ficou acertado que Batista vai cumprir um ano de pena em regime fechado, um ano em prisão domiciliar e dois anos em regime semiaberto, além do pagamento de R$ 800 milhões em multa.
Mas, como não vem cumprindo as parcelas, a PRG vem considerando cancelar o acordo. A detenção pactuada com o Ministério Público começará a ser cumprida depois de transitada em julgado e sentenciada por um juiz de execução penal. Mesmo com penas sobre crimes de manipulação de mercado que, somadas, excedem os 58 anos, Eike cumpre prisão domiciliar.
“Já desenhei mais de dez empresas de US$ 1 bilhão. Desenhei minhas próximas dez”, disse Eike Batista ao jornal Estado de S. Paulo, em 2019, sobre os planos de retomada, quando conseguir aliviar as responsabilidades com a Justiça. O renascimento da fênix, no entanto, ainda não aconteceu.
Todos os empresários que se envolveram nas roubalheiras do pt, estão colhendo os frutos. Derrocada, falência, e o julgamento do povo brasileiro.
O PT da era Dilma alimentou o pior tipo de empresário que existe, que é aquele que depende do governo para gerar o caixa da sua empresa, o maldito sistema de “capitalismo de estado”, que por misturar dois entes antagônicos, é um sistema natimorto.
Se o estado acaba, o empresário acaba e os empregos também, o que resume bem o governo Dilma.
Ele era aliado do sistema, mas o sistema não era aliado dele.
Logo após a descoberta do pré-sal, e vendo que o negócio era gigantesco, Dilma saudou a mandioca e criou o sistema de partilha para o pré -sal, que nada mais é do que a cópia do sistema de produção voltado para maximizar o lucro do governo e não da empresa exploradora.
Nesse sistema as empresas menores não poderiam adquirir os melhores blocos, que foram delimitados e leiloados para as grandes, e não por acaso a Petrobras foi adquirente única em alguns leilões da ANP.
Impedido pela amiga de adquirir os melhores blocos, acabou investindo nos piores, e deu com os burros n’água.
Foi detonado pelo próprio sistema de que participava.
Quem se deu bem nisso tudo ?
Governo e estatais chinesas.
Fiquei curioso em saber que a Sra. Rosa Weber homologou um acordo de delação premiada de Eike com a PGR. Por isso ele está em prisão domiciliar. Mas onde estão os delatados? Alguém está sentado em cima do processo? Sinto cheiro de podre nessa história.