(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 21 de junho de 2023)
A atitude geral do governo Lula diante da CPMI que investiga os atos de violência do dia 8 de janeiro em Brasília está se tornando uma confissão de culpa. Há uma suspeita que só um trabalho sério de investigação poderia afastar — a de que o governo permitiu que os ataques fossem feitos, ou até coisa pior, para se fazer de vítima de uma tentativa de “golpe” e, por conta disso, apertar a repressão contra os seus adversários políticos. Como tirar essas dúvidas da frente e apresentar a verdade ao público? Só há uma maneira: esclarecendo os fatos com honestidade e competência. O governo age de forma exatamente contrária.
Por que essa insistência em ocultar o que realmente aconteceu? O governo diz, desde o dia das depredações, que a “direita”, os “bolsonaristas” e as suas vizinhanças estavam tentando derrubar o presidente da República com o seu quebra-quebra; o próprio Lula declarou que está “provado” que houve tentativa de golpe, e que “Bolsonaro” comandou tudo. Não há um átomo de prova, e nem de simples lógica, numa afirmação dessas — a começar pelo fato de que jamais houve, em toda a história humana, uma única tentativa de golpe em que os golpistas não tinham nem sequer uma espingarda de atirar em passarinho, mas bandeiras do Brasil e cadeirinhas de praia. Mas Lula é assim mesmo; ninguém espera, de seus discursos irados, nada que tenha algum contato com a verdade. Deveria ser diferente com a CPMI. Afinal, para quem se apresenta como vítima, não poderia haver uma oportunidade mais óbvia de se apurar os fatos e revelar os culpados. Por que, então, o governo está fazendo tudo para impedir que os fatos sejam apurados? O que o público não pode ficar sabendo?
Os deputados e senadores do governo que estão na CPMI tentaram impedir, por exemplo, o depoimento do general G. Dias, íntimo de Lula, responsável pela segurança dos locais naquele dia e indispensável para se saber o que aconteceu de fato. Ele estava dentro do Congresso durante as depredações – quem melhor para ser ouvido? Ou: como investigar com seriedade alguma coisa se um dos principais envolvidos não pode falar? Mas os parlamentares governistas proibiram a convocação do general; acham que vai ser ruim se ele for interrogado em público. Proibiram, também, a convocação do ministro da Justiça, que como o general e dezenas de outras pessoas do governo, foi informado previamente das violências, mas não fez nada para impedir, nem ele e nem os demais; o ministro, inclusive, viu tudo da janela do seu escritório. Por que ele não pode falar? O governo, cada vez mais, joga na escuridão – é a única coisa que lhe interessa nessa história.
- J.R. Guzzo: “Moraes e as confissões espontâneas“