Perspectiva é que o Congresso analise oficialmente a mudança ao decorrer das próximas semanas

Há tempos, o calendário do pleito municipal deste ano estava definido, mas isso pode mudar devido à pandemia da covid-19. O adiamento das eleições 2020 começa a ganhar força no Congresso Nacional. Somente hoje nove parlamentares comentaram o assunto. Entre os deputados e senadores que se pronunciaram publicamente, a maioria defendeu a mudança do calendário eleitoral.
Na Câmara dos Deputados, a discussão sobre o adiamento das eleições 2020 começou entre líderes partidários. Efraim Filho (DEM-PB) e Wolney Queiroz (PDT-PE) participaram de videoconferência realizada na terça-feira, 16, com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso. Presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM) também participou da reunião online. Os três deputados entendem como positiva a possibilidade de adiamento.
“Com todo o cuidado, com todo o respeito”
“É preciso, sim, realizar as eleições, com todo o cuidado, com todo o respeito. É necessário preservar a democracia e não passar a mensagem de que se trata de um valor descartável”, afirmou o líder do DEM. Contudo, acreditando que a curva de contágio irá baixar no fim do ano, ele defende adiar o pleito. “É importante que o cidadão tenha preservado o seu direito de escolher quem vai lhe representar”, disse.
Tempo de TV
Mais do que apoiar o adiamento das eleições 2020, o líder do PDT registrou que já tinha sugerido a mudança de data à presidência da Câmara. Para ele, entretanto, é preciso ampliar o tempo do horário eleitoral. “Fizemos uma sugestão ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi acatada e será levada aos parlamentares, para que a gente, em virtude da ausência de campanha de rua, também possa ter um tempo maior para as campanhas de rádio e TV, como forma de facilitar o conhecimento dos candidatos pelos eleitores”.
Maia, por sua vez, concordou com a possibilidade de ter mais tempo nas mídias. “Aumentar o tempo de televisão, eu acho uma boa ideia”, disse. “[A propaganda nas redes de rádio e TV] é feita por meio de renúncia fiscal, por parte das emissoras, não seria nenhum valor absurdo, dada a importância de se conhecerem os candidatos”. Conforme registrado por Oeste, o presidente da Câmara já tinha se posicionado nesse sentido na própria terça.

Debate no Senado
No Senado, o assunto rendeu sessão temática. A pauta do dia foi justamente discutir, sobretudo, o adiamento das eleições 2020. Nesse sentido, três parlamentares mais alinhados à esquerda convergiram. Pois, para eles, o ideal é mudar o calendário eleitoral inicialmente previsto.
“Não vamos ter garantias no início de outubro”
“É um fenômeno da ciência, não da política. Não quero ser irresponsável para ir contra as recomendações emanadas pelos cientistas”, disse Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Zenaide Maia (Pros-RN) foi inegavelmente pelo mesmo caminho de argumentação. “É praticamente um consenso: não vamos ter garantias no início de outubro. Se tivermos como adiar, por que não?”, questionou a senadora potiguar.
Rose Freitas (Podemos-ES) foi além de propor eleições para novembro ou dezembro. De acordo com ela, o ideal é que o pleito ocorra em dois dias. Assim, parte do eleitorado votaria no sábado. A outra, contudo, indicaria na urna seus candidatos favoritos no domingo. “Não sei como o candidato poderá ir para a rua, bater no ombro do eleitor, fazer reuniões”, pontuou.
Impasses
Diferentemente de colegas, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) não emitiu sua opinião a respeito do adiamento das eleições 2020, mas reforçou qual deve ser o parecer do seu partido. Ele avisou que os tucanos tendem a apoiar a mudança de datas para 15 de novembro (1º turno) e 29 de novembro ou 6 de dezembro (2º turno).
Ciro Nogueira (PP-PI) sinalizou ser contrário à mudança. E de forma até direta apontou seus colegas deputados federais de se deixarem levar pela opinião dos mandatários municipais. “Sabemos que a Câmara dos Deputados é muito suscetível à opinião dos prefeitos. O Congresso Nacional tem que tomar uma decisão o mais rapidamente possível, se sim ou se não, se vai haver esse adiamento”, comentou.
O também senador Jaques Wagner (PT-BA) foi mais um a seguir a maioria — aos menos dos parlamentares que já falaram publicamente sobre o assunto. “A gente não deve correr o risco de fazer uma eleição em uma situação de absoluta interrogação e podermos ter um quórum baixíssimo nas eleições”, declarou o petista, indicando assim que boa parte quer adiar a eleição deste ano.

O quórum será baixíssimo sim. Resta saber quem se beneficiará com isso.