“Ó, seu Toninho,
Da terra do leite grosso,
Bota cerca no caminho
Que o paulista é um colosso”
O “Seu Toninho” do primeiro verso é Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais. O “paulista” é Julio Prestes, candidato à Presidência da República. E a marchinha Seu Julinho Vem, da qual foi retirada a estrofe acima, é o primeiro jingle eleitoral da história política brasileira, composto em 1929 por Francisco José Freire Júnior e eternizado pela voz do cantor Francisco Alves.
A novidade que caiu nas graças do povo durou pouco. Bruscamente interrompido pela ditadura do Estado Novo, o uso do rádio na propaganda eleitoral voltou em 1945, na disputa entre o marechal Eurico Gaspar Dutra e o brigadeiro Eduardo Gomes. Mas foi Getúlio Vargas, com o clássico Retrato do Velho, quem iniciou a popularização do uso do jingle no meio político, e quase todos os candidatos passaram a procurar um jingle para chamar de seu.
Um dos candidatos que apostou forte nas musiquinhas foi Juscelino Kubitschek (JK). Em 1955, o então governador de Minas Gerais mesclou patriotismo e nacional-desenvolvimentismo em seu jingle. “Queremos demonstrar ao mundo inteiro e a todos que nos querem dominar”, recita os primeiros versos. “Que o Brasil pertence aos brasileiros e um homem vai surgir para trabalhar.”
Se JK queria modernizar o Brasil “cinquenta anos em cinco”, Jânio Quadros prometia “varrer a corrupção do governo” com sua vassourinha. “Varre a bandalheira”, pede o início da música do candidato que, em 1960, venceria os adversários Teixeira Lott e Adhemar de Barros. “O povo já está cansado de viver desta maneira. Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado. Jânio Quadros é a certeza de um Brasil moralizado. Vassoura, conterrâneo.”
O tema da corrupção voltou anos depois, já no Brasil redemocratizado, com Fernando Collor. Em 1989, o deputado elegeria-se presidente da República com o lema “caçador de marajás”. “É a vez do povo anunciar um Brasil novo que vai chegar”, dizia o jingle de Collor, alvo de um processo de impeachment em 1992.
“Com FHC, o Brasil vai vencer”, garantia a música de Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda de Itamar Franco. “Vamos seguir nesse caminho para chegar lá.” Naquela época, o Brasil sofria com inflação de 40% ao mês e o tema da economia seria crucial para a vitória na campanha de 1994.
Oito anos depois, o “jingle chiclete” de “Lula lá, brilha uma estrela” fazia parte da campanha vencedora. Ao buscar a reeleição, em 2006, o então presidente resgatava o mote, aderindo “Lula de novo, na vida do povo”.
Com o fim da gestão Lula, a campanha de sua herdeira, Dilma Rousseff, investiria em um jingle colando a imagem da ex-ministra à de seu antecessor: “Ela já mostrou que é capaz. Ajudou Lula a chegar lá.”
“Quero novo rumo, e não estou sozinho, para um Brasil mais forte, só há esse caminho. Muda Brasil”. Com essas palavras, Deus, pátria e família voltaram a ganhar um lugar especial na disputa de 2018. Composta pela dupla sertaneja Mateus e Cristiano, a música foi o jingle de Jair Bolsonaro.
Faltou o do Quércia também.
A frase “Naquela época, o Brasil sofria com inflação de 40% ao mês e o tema da economia seria crucial para a vitória na campanha de 1994” está não está clara e impede a compreensão correta desse período histórico. Na verdade, no governo Itamar Franco, com FHC como ministro, foi implatado o Plano Real, a inflação foi zerada e tivemos até deflação. Este e foi o motor da eleição dele.
Uma curiosdade: o jingle de João Goulart em sua campanha para vice foi um estrondoso sucesso, e era adaptada para os eleitores de cada estado:
SP:
Na hora de votar quem é paulista, vai jangar!
É Jango é Jango, e o Jango Goulart!
RS:
Na hora de votar, o meu Rio Gande vai jangar!
É Jango é Jango, e o Jango Goulart!
E assim por diante.
Matéria realmente maravilhosa !Excelente ideia e muito bem exposta.
Parabéns !
Tinha 5 anos, em 1960, mas me lembro da música do Jânio e dos adesivos com a vassourinha, símbolo de sua campanha, o que eu curtia bastante, apenas pela vassourinha, claro.
Muito bom recordar.
Obrigado por isso e mais uma vez parabéns pela matéria !
O jingle mais antigo em atividade deve ser o do Eymael. E o cara não desiste, mesmo sabendo que não tem chances 😁😂
Muito bom recordar!
Matéria maravilhosa. Parabéns pela ideia.
Obrigado, caro José. Abração