(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 7 de setembro de 2022)
As ruas falaram, mais uma vez, e sua voz esteve mais forte do que nunca. Multidões se manifestaram, em cidades de todo o país, com um recado óbvio neste dia Sete de Setembro: querem a reeleição do presidente da República nas eleições de outubro. A festa foi da independência, e dos 200 anos de independência do Brasil, mas nunca houve dúvida nenhuma a respeito de que lado está a massa verde-amarela que lotou as principais avenidas e praças brasileiras, numa das maiores manifestações públicas que já se viu em tempo recente. Foi um ato político, e a massa declarou que está do lado de Jair Bolsonaro — por mais incômodo que seja admitir isso. É o exato contrário do que dizem as pesquisas de intenção de voto. É o contrário da “Carta aos Brasileiros” do dia “11 de agosto”. É o contrário do que querem as classes intelectuais, a mídia e o STF — ou o seu “tribunal” eleitoral, que faz os mais extraordinários esforços para ganhar a eleição no horário de propaganda política, na repressão às redes sociais e no controle do material de campanha. Proíbe o máximo que pode nas ações do candidato que declararam inimigo; permite o máximo que pode nas ações dos seus adversários.
Manifestação de rua é uma coisa. Urna no dia da eleição é outra. Não há, necessariamente, uma relação de causa e efeito entre as duas coisas — o resultado das eleições de outubro será o que for decidido por 156 milhões de eleitores brasileiros com o seu voto, daqui a vinte das. Mas é perfeitamente inútil fingir que não aconteceu nada neste dia Sete de Setembro — ou vir com teorias negacionistas para esconder que o único beneficiário das demonstrações que levaram a massa para a rua é o presidente da República, e não os seus adversários. Foi inútil, da mesma forma, a campanha de terror dos últimos dias, prevendo ou garantindo que os “bolsonaristas” iriam provocar todo o tipo de violência na rua; era muito mais seguro ficar em casa, mesmo porque, segundo a campanha, quem fosse às manifestações poderia estar violando alguma lei do ministro Alexandre de Moraes, ou coisa parecida. Não pegou, também, a espantosa ideia de que comemorar o Sete de Setembro seria um ato “antidemocrático”. No fim, centenas de milhares de pessoas foram para a praça pública no Brasil inteiro e não se quebrou uma única vidraça, nem se jogou uma única pedra ou se tocou fogo em nada. Para que serviu a palhaçada de colocar atiradores de elite em volta da Praça dos Três Poderes, em Brasília? Do que adiantou cercar o prédio do STF com um aparato de segurança ridículo, como se fosse uma casamata sitiada por tropa inimiga? De que adiantaram as ameaças e as análises dos “cientistas políticos”?
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Tanto quanto a massa que esteve presente no Sete de Setembro chama a atenção os que estiveram ausentes. Onde estava o candidato que as pesquisas até outro dia davam como eleito com 150% dos votos? Por que ele nunca aparece quando a população vai para a rua? Porque fica trancado com as suas plateias de intelectuais, sindicalistas e empresários de esquerda, cercado de seguranças e com ingresso controlado? Como se explica que o candidato que se apresenta e é apresentado como o candidato do povo se esconde no dia em que se comemoram os 200 anos de independência do seu próprio país? O fato é que Lula, o PT e as forças que o apoiam cometeram o erro trágico de abandonarem para Bolsonaro e a “direita”, de graça, a bandeira do Brasil, as datas nacionais, os símbolos da pátria, o verde-amarelo. O resultado é o que se viu nas ruas no Sete de Setembro: a bandeira brasileira, definitivamente, passou a ser o grande símbolo de um dos candidatos — nas costas das pessoas, nas janelas dos prédios, nos vidros dos carros.
Não há como, agora, parar com isso. O TSE do ministro Moraes, num momento especialmente insano, quis proibir o governo de divulgar qualquer material sobre a comemoração da independência; depois voltou atrás e permitiu, mas não deixou que ficassem menções á “proteção das nossas famílias” e à “construção de um Brasil melhor”. Não surpreende — essa é a imparcialidade do TSE, e vai continuar assim, numa tentativa cada vez mais desesperada para ganhar a eleição na base de despachos judiciais. O que Moraes, o STF e todos os “juízes eleitorais” não conseguirão mais fazer é tirar de Bolsonaro a bandeira e as cores verde-amarela; passaram a funcionar como o seu cartaz de campanha, ou como uma declaração de voto. Teriam, para tirar essa vantagem eleitoral do presidente da República, de declarar “antidemocrático” e, portanto, ilegal e sujeito à inquérito criminal, o uso em publico dos símbolos nacionais. Se pudessem, fariam isso, sem dúvida. O problema é que não sabem se podem. O Sete de Setembro veio para atrapalhar mais um pouco o seu projeto de país.