Por 53 votos a favor e nove contrários, o plenário do Senado aprovou, nesta terça-feira, 16, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2023, que criminaliza qualquer tipo de posse ou porte de drogas. A apreciação se deu em primeiro turno e, agora, segue para o segundo.
O PP, PL, Podemos, PSD, PSB, Novo, PSDB, União Brasil e PDT orientaram voto a favor da proposta. O MDB, o governo e a Maioria liberaram bancada. Apenas o PT orientou voto contra.
Somente depois de ter resultado favorável em dois turnos é que a PEC Antidrogas segue para análise na Câmara dos Deputados. Pouco tempo antes da votação, os senadores realizaram a quinta e última sessão de discussão do texto antes do primeiro turno de apreciação. Na segunda-feira 15, o plenário realizou uma sessão temática para que a sociedade civil pudesse se manifestar.
Senadores da ala governista argumentaram que a PEC Antidrogas não enfrenta os problemas da sociedade, mas que aumenta a criminalização.
De autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a PEC Antidrogas começou a tramitar na Casa como resposta a um julgamento sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal no Supremo Tribunal Federal (STF).
Como mostrou Oeste, o texto foi aprovado em 13 de março na Comissão de Constituição e Justiça do Senado em votação simbólica. Durante a apreciação do texto, o relator, senador Efraim Filho (União Brasil-PB), acatou uma emenda de redação proposta pelo líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).
A emenda de Marinho prevê que a criminalização observará a distinção entre o traficante e o usuário pelas “circunstâncias fáticas do caso concreto”, aplicando ao usuário penas alternativas à prisão e tratamento contra dependência. O relatório de Efraim já previa a diferenciação entre usuário e traficante.
“Descriminalizar é fortalecer o tráfico, o tráfico é quem financia o crime”, disse Efraim. “Se o Estado tem dificuldade na aplicação da lei, não adianta dizer que a solução é descriminalizar.”
Em 6 de março, o ministro Dias Toffoli, do STF, pedir vistas em um julgamento sobre a descriminalização do porte de maconha para consumo próprio. Falta apenas um voto para a Corte obter maioria em favor do tema.
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A PEC vai na contramão daquilo que o Supremo caminha para decidir, ao fixar uma quantidade do porte de maconha para caracterizar uso pessoal, e não tráfico de drogas. A quantidade ficaria entre 25 e 60 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas de Cannabis. Contudo, ela será definida quando o julgamento for finalizado.
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Pacheco já indicou não haver problemas caso o STF defina a quantidade de maconha que vai diferenciar um usuário de um traficante, desde que a Corte não descriminalize o porte do entorpecente.
O senador mineiro propôs a matéria em setembro de 2023, um mês depois de o Supremo pausar o mesmo julgamento por um pedido de vistas do ministro André Mendonça. Durante a sessão de hoje, membros de associações em prol do uso medicinal da Cannabis marcaram presença. Eles são contrários ao texto aprovado.
O que prevê a PEC das Drogas
A mudança que o relator da PEC das Drogas traz no relatório é que o texto dê ao usuário de entorpecentes alternativas de prestação de serviços à comunidade, e que a solução não seja o encarceramento do usuário. “A criminalização vai permanecer, mas separando o usuário”, contou, ao apresentar o texto.
Atualmente, a Lei de Drogas prevê oito circunstâncias para diferenciar o traficante do usuário de drogas, sendo: quantidade, natureza da substância apreendida, local e condições da ação delituosa, circunstâncias sociais, pessoais, conduta e antecedentes criminais.
O objetivo de Efraim é fazer com que a decisão sobre a quantidade que vai diferenciar um usuário de um traficante permaneça nas mãos da autoridade policial e judicial.
Durante a sessão de hoje, os senadores discordaram sobre o mérito da PEC. O petista Fabiano Contarato (ES), que atuou como delegado, destacou que a discussão sobre as drogas no Brasil tem um recorte sociológico.
“Essa PEC não inova em absolutamente nada”, disse. “Temos uma população carcerária no Brasil, [são] dados que saltaram de 58,4% para 68,2% de pessoas pretas, de pessoas pardas. Temos fontes de que um branco no Brasil, para ser definido como traficante, ele tem que ter 80% de substância a mais do que um negro. É o Estado criminalizando a pobreza, é o Estado criminalizando a cor da pele.”
Já Marinho citou uma pesquisa do Instituto Datafolha que mostrou que 72% dos brasileiros são contrários à legalização da maconha. “Nós representamos aqui o povo brasileiro”, disse o senador. “Temos a obrigação de acuarmos aqui, já com os eleitos da população brasileira, a vontade da população brasileira. É esquisito, é contrarrazoável estarmos aqui representando a população, contra o sentimento da população brasileira.”
Segundo o líder da oposição, não é permitindo que o cidadão comum continue portando uma “quantidade x” de drogas que vai resolver a “questão do desencarceramento” no Brasil.