Há poucas semanas, a Inglaterra surpreendeu o mundo com o anúncio de que eliminaria todas as restrições incorporadas ao dia a dia dos britânicos desde o auge da pandemia. Não seriam exigidas mais máscaras, nem passaportes sanitários, muito menos lockdowns. Neste 22 de fevereiro, o que parecia bom ficou ainda melhor: também os infectados estavam dispensados do isolamento. A vida, enfim, volta ao normal — com três anos de atraso.
Como registra a reportagem de Paula Leal e Artur Piva, “esse é o desfecho inevitável da pandemia, segundo a comunidade científica: a covid-19 se tornará uma endemia, ou seja, uma doença comum, como é a gripe”. Ao menos 20 países, entre os quais Espanha, Suíça, Israel e Dinamarca, já eliminaram várias proibições. “Não dá para seguir em um embate permanente contra a doença, tratando a liberdade como sinônimo de morte e as restrições infinitas como corretas e saudáveis”, constatam.
Enquanto isso, o Brasil permanece na vanguarda do atraso, que inclui um punhado de países. O Canadá é um deles. Numa democracia celebrada pela solidez, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, decretou estado de emergência. A limitação avançou mais um pouco: foram bloqueadas por ordem do governo as contas bancárias de manifestantes que exigiam o fim da obrigatoriedade da vacinação e dos exames de covid para caminhoneiros que trabalham na fronteira com os Estados Unidos.
O protesto, apoiado por boa parte da população, transformou-se num símbolo da luta contra o autoritarismo. A reportagem de Oeste esteve em Ottawa no início desta semana. “Não se passa por uma esquina sem cruzar com um policial”, informa o repórter Gabriel de Arruda Castro. “Algumas ruas estão bloqueadas por barreiras de concreto. Nas proximidades do Parlamento, quadras que normalmente têm um comércio movimentado agora estão completamente inacessíveis, bloqueadas por grades construídas da noite para o dia. Tudo lembra um estado de sítio.”
O repertório de más notícias foi engrossado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, violência consumada depois de dez dias de crescente tensão. “O presidente Joe Biden retirou sanções impostas por Trump aos russos e demorou para reagir às ameaças de Vladimir Putin”, afirma Flavio Morgenstern, na reportagem de capa desta edição. “A concretização da geopolítica russa é resultado do fracasso constante da política externa democrata.”
Desde o começo da pandemia, ficou evidente o sumiço de líderes apaixonados pela liberdade, como o inglês Winston Churchill e o norte-americano Franklin Roosevelt. Lamentavelmente, os governantes destes tempos de pandemia têm tristes semelhanças com ícones da intolerância autoritária, como Josef Stalin.
PS: Ana Paula Henkel volta a escrever na próxima edição
Boa leitura.
Branca Nunes
Diretora de Redação
Sentiremos saudades da Ana Paula nesta edição!
Triste edição a que anuncia o início de uma guerra.
Relatar os fatos como os fatos são e a resistência de Oeste às patrulhas merecem aplauso e reverência.