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Embraer
Ilustração do eVTOL da Embraer | Foto: Divulgação/Embraer
Edição 120

Uma revolução na mobilidade urbana

A projeção é certificar o eVTOL com a Anac em 2025 e começar o uso imediatamente um ano depois da aprovação

Bruno Meyer
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A Embraer mantém uma sala trancada no 2° andar de um dos prédios da sede da empresa. Nesse espaço, de uns 15 metros, a que poucos funcionários têm acesso, há um simulador de uma nova aeronave que é capaz de valer mais do que o valor de mercado da própria Embraer. A novidade, que nem sequer tem um protótipo, leva o nome de eVTOL, a joia da coroa da startup Eve, criada em 2017 pela EmbraerX, polo de inovação da fabricante de aeronaves brasileira. Apenas com este simulador, a Eve estreou, em maio na Bolsa de Nova Iorque, com um valor de mercado de cerca de US$ 2,4 bilhões. Oeste esteve na sede da Embraer, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, para conhecer a sala quase secreta do eVTOL — e confirma que o novo veículo elétrico pode, sim, renovar e trazer novos ares para a mobilidade das cidades no mundo. “É uma nova fronteira para a aviação”, resume André Stein, presidente da Eve. 

O trânsito e o eVTOL

Aos 48 anos, o engenheiro carioca André Stein é um funcionário de carreira da Embraer: começou como trainee e hoje lidera a Eve. Stein é, num primeiro momento, um pouco mais modesto sobre o impacto das novas aeronaves no mundo. “Nós não temos pretensão de resolver o trânsito da cidade ou de ter um futuro em que não vai haver mais carros no chão e todo mundo vai voar”, diz. “É mais uma opção de mobilidade para as pessoas.” A modéstia, porém, termina aí. Os estudos feitos por uma consultoria terceirizada mostram a força que a Eve pode ter, com uma receita potencial de US$ 4,5 bilhões em 2030 e participação global de mercado de 15%. A demanda atual é de quase 2 mil pedidos dos eVTOLs da Embraer, oriundos de 19 clientes de empresas aéreas tradicionais no mundo, sobretudo aquelas de leasing de aviões e helicópteros. Essas intenções de compra dão uma receita em torno de US$ 5,4 bilhões. O modelo de negócios da Eve não é apenas vender as novas aeronaves, mas também participar da operação das rotas e dos serviços, como o gerenciamento de tráfego aéreo e a venda de equipamentos. “A Embraer tem esse conhecimento”, diz Stein. “O Brasil tem tudo para ser pioneiro.” 

André Stein, CEO da Eve | Foto: Divulgação

O projeto brasileiro

Cerca de 600 empresas no mundo têm projetos de desenvolvimentos de modelos variados do eVTOL, a sigla em inglês do veículo elétrico de pouso e decolagem vertical. Os projetos mais avançados na área estão em Palo Alto, no Estado norte-americano da Califórnia; em Munique, na Alemanha; e São José dos Campos, no Brasil. O da Eve se tornou um dos mais bem-vistos no mundo. Esse status se deve ao projeto apresentado pelo time de engenharia da empresa e também ao fato de ter um apoiador de peso por trás: a experiência de um gigante como a Embraer, terceira maior fabricante de aeronaves do mundo, atrás apenas da Airbus e da Boeing. “Essa experiência acumulada nos ajuda”, afirma Stein. “Nos últimos 25 anos, a Embraer desenvolveu 30 modelos diferentes de aeronaves. Ninguém mais no mundo teve tanto desenvolvimento, e isso nos dá essa vantagem.” 

O Rio de Janeiro da Embraer

A revolução que um eVTOL pode imprimir na mobilidade das cidades no mundo se deve muito ao preço acessível do uso. Não será direcionado para uma classe dos super-ricos. A ideia é cobrar um valor acima do de um táxi ou Uber Black. “Vai variar de país para país, mas não será o preço de uma locação de um helicóptero, até porque a operação e a manutenção de um eVTOL devem ser seis vezes menores do que as de um helicóptero”, diz Stein. Em maio, a empresa fez os primeiros estudos com um helicóptero no Rio de Janeiro para verificar rotas. Os planos da Eve são ter 37 vertiportos, os aeroportos para aeronaves com pouso e decolagem vertical, e 245 eVOLTs em funcionamento até 2035 apenas na cidade. O projeto deu um pontapé num plano de ação na cidade. É o centro do Rio de Janeiro que está ao fundo no simulador. Um centro, aliás, bem mais limpinho e seguro do que o original. 

Foto: Divulgação

2026 é logo ali

Os planos são altos e rápidos: a projeção é certificar o eVTOL com a Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, em 2025 e começar o uso imediatamente um ano depois da aprovação. A certificação da Anac será um aval e facilitador para a liberação em outros países. Não é otimista demais esse prazo? Stein responde: “2026 está logo aí, eu sei. Há muitos desafios pela frente, mas vale lembrar que não começamos agora”.

A incubadora de inovação 

Com cem funcionários entre o Brasil e os Estados Unidos, a Eve nasceu de um incentivo interno da Embraer, a partir da incubadora de inovação, a EmbraerX. Em 2017, um grupo de funcionários partiu da premissa de criar um novo veículo elétrico para impactar o segmento aeroespacial. “Inovação nunca se faz sozinho”, diz Stein. “Um dos grandes fatores que mudam a mobilidade é a eletrificação. Ela permite criar novos tipos de veículos.” O mesmo time acompanhou também com lupa tudo o que acontecia no Vale do Silício, a terra das maiores inovações dos últimos tempos.

Foto: Divulgação

A necessidade faz um produto

Com o conceito e o projeto em mãos, o time da incubadora foi em busca de parceiros dentro da Embraer e ouvir o que possíveis usuários achavam da ideia. “Sabíamos que havia necessidade para esse produto. Qualquer um que está preso no trânsito quer voar para cima. É um segmento gigantesco”, diz Stein. É essa demanda que o eVTOL busca atingir: o usuário está na Avenida Paulista e tem um voo em poucas horas no Aeroporto de Guarulhos? Pode acionar uma empresa para ir com o eVTOL. Inicialmente, não há planos de usuários terem seu próprio eVTOL. 

A independência da Eve

Dos interiores da sede em São José dos Campos, cidade de 700 mil habitantes a 98 quilômetros de São Paulo, a Eve se tornou a primeira empresa a se graduar da EmbraerX. Listada na Bolsa de Nova Iorque, ela se prepara para deixar o espaço da Embraer e ter sua própria instalação. 

Foto: Divulgação

O piloto 

O engenheiro do ITA Filipe Baruzzi é um dos nomes que estão desde os primórdios da Eve. Ele sabe de cor e salteado como pilotar a nova aeronave. Estar dentro de uma cabine de um eVTOL aparentemente é muito mais simples e menos desafiador do que a sucessão de botões de uma cabine de avião. O piloto terá dois comandos nas mãos — um deles para subida e descida; o outro para a frente e para atrás. Cabem cinco pessoas, incluindo o piloto. E a ideia já nasce com outra ruptura: inicialmente, todos precisarão de um piloto para dirigir uma viagem, mas, no futuro, muitos usuários poderão pilotar o eVTOL. 

O astro

O futuro está mais próximo do que nunca. Nos prédios dentro do complexo da sede da Embraer, a Eve é tratada informalmente como o futuro, em tons meio cinematográficos. Carros voadores? Inspiração nos Jetsons, a animação criada em 1962 que apresentava uma sociedade fictícia e futurista de 2062? O time que está por trás refuta tais inspirações, mas o presidente deixa escapar à coluna que seu cachorro tem um nome peculiar. 

Chama-se Astro, o cãozinho dos Jetsons

Foto: Divulgação

[email protected] 

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3 comentários
  1. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Avante Embraer.

  2. Leonardo Leite
    Leonardo Leite

    Entre as ações listadas em bolsa de valores, acredito que a embr3 ten enorme potencial de valorização por conta deste projeto. O que está na ficção da literatura e do cinema cedo ou tarde chega no mundo real, a consolidação deste tipo de transporte, mais barato, mais ágil, menos poluente, menos barulhento que um helicóptero, mais fácil de operar, é uma questão de tempo.

  3. Jamil Zaki Namour
    Jamil Zaki Namour

    Sensacional
    Avante EVE

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