Já se registrou nesta coluna a existência de duas versões de Alexandre de Moraes: a escrita e a falada. A primeira se manifesta na penca de livros que assinou, vários deles de leitura obrigatória em dezenas de cursos de Direito. Os textos tratam o idioma com gentileza, embora não dispensem enxurradas de latinórios e pedantismos em juridiquês castiço. A segunda versão não sobreviveria a uma prova oral de língua portuguesa do Enem. Quando fala de improviso, Moraes estaciona em reticências, tropeça em vírgulas errantes, escava fossos entre sujeito e predicado, junta palavras que não conversam entre si e produz sopas de letras intragáveis.
Como atestou a sabatina no Senado que aprovou por 19 votos a 7 sua indicação para a vaga no Supremo Tribunal Federal aberta pela morte de Teori Zavascki, a versão falada derrapa em desempenhos bisonhos mesmo quando lê textos redigidos pela versão escrita. Quase 11 horas de perguntas e respostas confirmaram que o sabatinado nunca chega a algum lugar. Ele só chega em. Também ignora a diferença entre onde e aonde, e nem desconfia que os dois advérbios se referem a algum ponto geográfico, nunca a um espaço de tempo. “Estou falando da semana aonde me encontrei com o governador”, disse mais de uma vez à ilustre plateia. E o falatório foi frequentemente truncado por apostos que transformam parágrafos num cortejo de vogais e consoantes que não faz sentido e parece nunca chegar ao fim.
Depois da posse no Egrégio Plenário, tomaram forma o professor que ensina a coisa certa e o ministro que faz tudo errado
O descompasso entre a versão falada e a versão escrita se desdobraria em outra e mais perturbadora disfunção esquizofrênica: depois da posse no Egrégio Plenário, tomaram forma o professor que ensina a coisa certa e o ministro que faz tudo errado. A tese que o tornou doutor em Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo, por exemplo, afirma que não pode ser indicado para a Corte Suprema o ocupante de um cargo de confiança do presidente da República em exercício, “para que se evite demonstração de gratidão política”. Ao aceitar o convite de Michel Temer para substituir Teori Zavascki, ou Moraes não lembrou que era ministro da Justiça ou esqueceu a tese defendida quase 20 anos antes.
Em 21 de fevereiro de 2017, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o sabatinado jurou combater a praga do “ativismo judicial” — essa insolente mania que têm os ministros de intrometer-se em assuntos que não lhes dizem respeito. Baseado em argumentos expostos em livros que assinou, Moraes se dispôs a acabar com esse coquetel de onisciência, onipresença e onipotência. “Não são poucos os que apontam enorme perigo à democracia e à vontade popular na utilização exagerada do ativismo judicial”, constatou. “Um juiz ativista ignoraria o texto da Constituição, a história de sua promulgação, as decisões anteriores da Suprema Corte, que tentaram interpretá-las, e as duradouras tradições da nossa cultura política.”
O Moraes que louvara a amistosa convivência com o Legislativo pariu o flagrante perpétuo e abortou a imunidade parlamentar para encarcerar o deputado federal Daniel Silveira
É o que Moraes não para de fazer desde 14 de março de 2019, quando o então presidente Dias Toffoli promoveu o impetuoso parceiro a relator do inquérito inventado para investigar a disseminação de fake news e ameaças endereçadas a integrantes do Timão da Toga. “O juiz pode incorrer num perigoso grau de subjetivismo ao interpretar a Constituição impondo seu próprio ponto de vista sobre os demais Poderes”, dissera durante o sarau com senadores o Moraes que já não existia — se é que existiu um dia. O candidato ao Supremo que pregava um convívio harmonioso com o Executivo foi o ministro que proibiu Jair Bolsonaro de nomear Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal — cargo cujo preenchimento é atribuição exclusiva do presidente da República. O Moraes que louvara a amistosa convivência com o Legislativo pariu o flagrante perpétuo e abortou a imunidade parlamentar para encarcerar o deputado federal Daniel Silveira.
“É preciso adotar um prazo máximo para prisões preventivas”, sustentou na sabatina. Manteve Daniel na cadeia por cinco meses. E, ao fim do julgamento no STF, celebrou com um sorriso vitorioso a condenação do deputado a quase nove anos de prisão. Frustrado com a graça constitucional concedida por Bolsonaro ao perseguido predileto do carcereiro togado, mandou às favas o parecer expedido num vídeo divulgado em 2018. Nele, Moraes reafirma que a concessão do indulto — seja individual ou coletivo, seja graça constitucional — é atribuição privativa do presidente da República, “goste-se ou não”. Alheio à ressalva, continua aplicando multas escorchantes a um representante do povo transformado em preso político por um ministro decidido a revogar o preceito constitucional: nenhum deputado ou senador pode ser punido por quaisquer opiniões, palavras ou votos.
Até incorporar-se ao grupo de superjuízes, havia dois Moraes. Agora são quatro — o mesmo número de pontos de exclamação hasteados depois da última palavra do manifesto concebido por gente que enxerga soldados da democracia em torturadores da liberdade de expressão. O texto indigente parece ditado pela versão falada de Moraes, que não pode ficar fora da festa preparada para a leitura oficial do palavrório. Não são citados nomes de candidatos ao Planalto. Mas fica evidente que os signatários veem em Lula a sumidade enviada pela Divina Providência para livrar o Brasil de Jair Bolsonaro.
O ponto de exclamação é a bengala do idioma, feita para avisar aos distraídos que as vogais e consoantes que o precedem devem ser pronunciadas aos gritos. Os autores do manifesto — todos ex-alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, como Moraes — usaram um na entrada e quatro na saída. Que tal usar um desses sinaizinhos para chacoalhar a cabeça de Celso de Mello, escalado para a leitura inaugural do palavrório mambembe? Em 2012, durante o julgamento do Mensalão, o ainda ministro recitou centenas de vezes que os poderosos patifes envolvidos naquela ladroagem não tinham um programa de governo. Tinham um projeto criminoso de poder. Com a bengalada, o Pavão de Tatuí talvez consiga lembrar que o chefe do bando era Lula, que agora pretende devolver à cena do crime.
Leia também “De olho no Supremo”
Um Cabo e um soldado…
BELA COLUNA DE AUGUSTO NUNES, JORALISTA CRAQUE E INDEPENDENTE.
Texto primoroso.
Ele não está fazendo o contrário do que escreveu nos seus livros ”comentados”, porque simplesmente ele não escreveu os tais livros.
Em direito, é muito comum o copia e cola das obras alheias, bastando para isso mudar ligeiramente o texto.
São vários papagaios apenas se auto-repetindo infinitamente.
Augusto Nunes, é tudo que gostaria de dizer ao ministro elevado a 4.
Alexandre de Moraes não para de passar vergonha. Quanto mais ele fala mais ele entrega que sua incapacidade para ser um Ministro do STF. Um desqualificado que, ao que parece, subiu na vida com favores políticos. Como não teria passado na sabatina do Congresso? Teatrinho de cartas marcadas.
Parabéns, Augusto Nunes por esta matéria! Perfeito ao comparar os 4 Alexandres de Moraes. Aproveitando essa análise sobre o comportamento do Moraes, é hora de começarmos um movimento em direção a escolha de um novo presidente para o Senado Federal no início de 2023, independente das eleições de outubro, inclusive para reforçarmos A NECESSIDADE DE ESCOLHAS DE PARLAMENTARES IDENTIFICADOS COM UM PROJETO DE BRASIL MELHOR. Sugerirmos nomes que não tem medo dos iluministros do STF, senadores comprometidos com o Brasil, nomes como o do senador Eduardo Girão. Espero que ele tope esse desafio.
Cuidado
Os medíocres que se acham inteligentes, Quando perdem na palavra, partem pra porrada.
CARO MESTRE; ASSISTO QUASE TODA A PROGRAMAÇÃO DA JOVEM PAN,
NOS QUADROS EM QUE ATUA UM SUJEITO UM TAL DE FLAVIO PIPERNO, IGNORANTE, NITIDAMENTE COM PROBLEMAS MENTAIS, IRRITANTE, NÃO DEIXA OS COLEGAS CONCLUIREM O RACIOCINIO, ENTRA FALANDO, GESTICULANDO, SORRINDO COM DEBOCHE, A MINHA PRESSÃO ARTERIAL VAI ÀS NUVENS, CLARO QUE DEBATES COM CONTROVERSIAS É SALUTAR, ESTOU USANDO O CONTROLE ,REMOTO, QUE TAL UM PÉ NO TRASEIRO TROCANDO POR JORNALISTA EQUILIBRADO MENTALMENTE ?
Essa bobagem deve fazer parte da programação da emissora, para ver se consegue fisgar algum vermelhinho para aumentar a audiência. Tiro no pé pois isso só consegue irritar a audiência cativa. Aliás, o nome do programa é 3 em 1.
Caro Sarkis. Vi seu post para o Augusto e espero ver a resposta dele, mas permita-me uma pequena consideração: Não deve ser fácil encontrar alguém que pense com clareza e sem paixão para defender o indefensável. Então, como ter alguém para o contraditório é importante, que se mantenha pessoas como o PIPERNO e a AMANDA KLEIN. Melhor do que ninguém. Veja que o Augusto tem procurado juristas para defender as ações do Alexandre de Moraes e não encontra ninguém. Mas é claro, como um jurista poderia passar tamanha vergonha? Já um jornalista não, ele ganha para fazer aquele papel ridículo.
CONCORDO TOTALMENTE COM
O SENHOR!! NÃO SUPORTO VER QUANDO APARECE AQUELA FIGURA NA TELA DA JOVEM PAN, MUDO DE CANAL NA MESMA HORA!!!
SÓSIA DO MUSSOLINI.
Excelente texto! Parabéns, Nunes!
Além do domínio da língua e da lógica verbal, Augusto tem uma compreensão aguçada dos momentos insólitos pelos quais estamos passando, nos quais prosélitos históricos de doutrinas e governos ditatoriais de esquerda transmutam-se em defensores de uma democracia que, em questão de cinismo, só tem paralelo na República Popular Democrática da Coreia do Norte.
O mais assustador de tudo isto é a devoção cega destas pessoas à religião das urnas sagradas, que a toda esquerda acometeu nos últimos meses.
Impecável
O Moraeis, e na verdade um psicopata. Só não encheria que não quer.Deus a de nos proteger desse tipo de gente.
Belo artigo, digno de sua precisa lavra mais uma vez, mestre Augusto. Muito obrigada! Qto ao ministro em questão, já não existem adjetivos suficientes que qualifiquem um ser tão maligno e repulsivo. Menciono a observação do leitor abaixo como verdade absoluta: a esses tantos Morais falta um com moral.
Rogo a Deus todo dia que proteja nossa nação.
O que esperar qdo o que deveria representar o melhor da justiça se apresenta como um pesadelo, uma verdadeira versão da mais total tirania disfarçada de guardiã da democracia?
Excelente Augusto, disse muito, mas certamente ainda terá o que escrever sobre esse sujeito abjeto e amoral num futuro próximo.
Augusto, Lula não pode ser candidato. Ele foi condenado e não foi inocentado. Pela Lei da Ficha Limpa, políticos condenados em decisões colegiadas de Segunda Instância, são proibidos de se candidatarem. Lula não recebeu anistia, que é uma prerrogativa EXCLUSIVA do Presidente da Republica.
Recordando Saulo Ramos, o Pavão de Tatuí tá piorando seu currículo, passando de “um juíz de merda” a um Zé Ninguém agora a serviço da quadrilha que outrora ele condenava
Parabéns Augusto Nunes, a cada artigo que você escreve na “OESTE”, faz por merecer, com justiça, o título de Mestre. Dez com louvor. Como advogado há 40 anos, bani da minha bibliote jurídica os livros desse senhor. Talvez, essa definição da personalidade e caráter desse infeliz, sejá a mais completa e será, com certeza, insuperável. Parabéns
Caro Augusto, faltou mencionar o Alex do PCC, o fio do novelo a puxar está bem descrito no Wikipédia, aonde o PCC aparece como grande cliente do escritório do próprio ministro.
Eu fico imaginando esse senhor chutando cadeiras e socando paredes por ter que engolir essa última trincheira de Imprensa e Jornalismo isentos. Parabéns.
Augusto Nunes esbocou as visceras desse nefasto careca, literalmente e literariamente.
Parabéns a revista Oeste e em especial ao texto do Augusto, oxigenação total do meu cérebro
Isso é cria da pior espécie do diabo do Temer
Reflexão & abordagem precisa & cirúrgica ! Sua coluna é sempre motivadora! Obrigado !
Augusto é o nosso bálsamo das sextas-feiras. Mestre infelizmente esse gatuno do Lula poderá ser eleito daqui a dois meses e mais dois Alexandre de Moraes serão escolhidos, sabatinados e aprovados. Com isso, assim como na Venezuela, só falta a cooptação do alto comando das forças armadas. Com o passar dos anos, infelizmente, irá acontecer. Eles tem método.. nosso povo é inculto, não escolarizado, e está anestesiado pelas esmolas concedidas através de todo tipo de bolsas e vales, e vê o mal vencer o bem com a aquiescência da mais alta corte do país, não vê problema em eleger um quadrilheiro para o mais alto posto da nossa nação. Todos os dias eu penso: o que será de nós com esses marginais no poder?….
CARO AUGUSTO,
BOA TARDE,
COMO É BOM E EDIFICANTE,ASSISTIR SUAS OPINIÕES ,LER AUGUSTO E DEMAIS COLUNISTAS DA OESTE É UM APREBDIZADO.
TENHO 73 ANOS ,VI E VIVENCIEI MUITO DA ESQUERDA ,MEU FALECIDO PAI ERA GENERAL ,OFICIAL E ECONOMISTA BRILHANTE, NUNCA ACEITOU A FILOSOFIA DE MARX , APRENDI COM ELE O QUE É LIBERDADE .MAS EXISTE AUGUSTO,UM HÁBITO NA ESQUERDA ,QUE É DETONAR QUALQUER COISA QUE TENHA LIGAÇÃO COM O PODER ARMADO .
QUANDO CHEGUEI NA CIDADE ONDE TRABALHO,MINHA FICHA VEIO NA FRENTE,E FUI PREJUDICADO, POR MEU PAI SER GENERAL.ISSO EM 1978 ERA MUITO PESADO ,
E ELES NÃO TINHAM DÓ .
GOSTEI DO SEU ARTIGO SOBRE OS MORAES ,SERA´QUE NÃO É UM CASO/TIPO DE …PROFESSOR ALOPRADO..?
SERÁ QUE O PRESIDENTE QUER UMA DEMOCRACIA, O LULA NÃO QUER , E JÁ DISSE QUE A CLASSE MÉDIA (QUE ELE ODEIA),EXAGERA, QUE A MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO SERÁ CONTROLADA ,QUE TEREMOS UMA MOEDA ÚNICA NA AMÉRICA LATINA , E POR AÍ VAI ,ATÉ A DITADURA DO PROLETARIADO .
SÓ NÃO VE QUEM NÃO QUER
FORTE ABRAÇO
ROBERTO WAGNER
Brilhante! Augusto Nunes; você é brilhante!
Brilhante como sempre.
Infelizmente, caro Augusto, mesmo sabendo que você não irá concordar, a única saída do Brasil que presta é pedir (no dia 07/09) ao Presidente Bolsonaro que, em atendimento ao clamor popular, convoque as FFAA com a missão de destituir esse CANALHA e seus outros nove comparsas do lugar onde estão.
Como sempre, um excelente artigo do mestre Augusto Nunes. Com categoria e uma pitada de ironia, expõe a mente maligna e a falta de caráter dessa figura togada que só tem agido para prejudicar o país, atropelando até mesmo cláusulas pétreas da Constituição Federal. Parabéns Augusto Nunes.
São muiros Moraes, para uma pessoa sem moral.
Ou seja, um canalha.
Esse podre não tem culpa de ser o que é!!!
A culpa é desse Senado corrupto!!!
Bolsonaro errou quando aceitou a proibição de não nomear o chefe da PF, acatando a ordem do Ministro. Se o Presidente tivesse mandando às favas o Ministro e o mandado ler a constituição como qualquer alfabetizado faria, Moraes não estaria no lugar que está está hoje. Tem horas que tenho vergonha de pertencer ao gênero humano.
Concordo!! Deveria ter cortado mal pela raiz!!
Isso mesmo! Se o PR tivesse peitado aquela ordem lá atrás….. a cobra não estaria do tamanho que está agora!!
Perfeita observação – foi um erro fatal de Bolsonaro, que levou às seguidas intervenções inconstitucionais do Moraes contra seu governo. Se o presidente cumpria o que determina a Constituição, por que voltou atrás na nomeação do chefe da PF? Moraes se sentiu forte e foi em frente – e sempre tendo suas determinações cumpridas, mesmo inconstitucionais! E segue assim, um juiz arbitrariamente contra a lei, e ninguém dá um basta!!
Carlos, concordo contigo. Caso Bolsonaro, a época simplesmente tivesse ignorado o Moraes, nada poderia acontecer e esse teria se recolhido a sua insignificância.
Como sempre, o texto de autoria do Mestre Augusto Nunes, expressa com clareza as duas faces do ministro Alexandre de Moraes, que exerce sua função totalmente divorciado de seus “ensinamentos” doutrinários. (se é que ele é mesmo o autor das obras que assina)
Alexandre de Moraes, apenas um psicopata em seus melhores momentos.
Este Senhor cujos ADJETIVOS não podemos explanar tem em sua forma de agir e pronunciar uma ARROGÂNCIA que lhe é particular…
Fica evidente em todas Suas citações e decisões o quanto é parcial ,pouco podendo questionar suas ações .
Ficamos de mãos atadas a estes DEUSE DO OLIMPO do JUDICIÁRIO…….
Beleza de reflexão Augusto Nunes!
A perspectiva desse texto é que me surpreendeu!! Seria um “fantoche” o ilustre ministro??
Excelente texto, retrata de forma “hilária” as patifarias do Moraes. Celso de Mello como o Pavão de Tatui, impagável. Já disseram que “Ainda há juízes em Berlim” pois nós podemos parafrasear, “ainda temos Augusto Nunes e Guzzo no Brasil”