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Pier Antonio Panzeri, presidente da ong Fight Impunity | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Edição 147

Entidades oficiais da União Europeia + lobby dos ativistas = corrupção

O termo “não governamental” define ONGs pelo que elas não são. Na realidade, o status de uma ONG está ligado ao seu acesso a governos

Frank Furedi
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O “Catargate”, que assombra a União Europeia, não trata simplesmente de políticos e funcionários corruptos. Ele também expõe o papel deplorável da organização não governamental no centro desse escândalo.

A característica mais interessante do escândalo de corrupção que gira em torno da detenção da vice-presidente do Parlamento Europeu, Eva Kaili, e dos burocratas da União Europeia é a conexão com uma ONG supostamente íntegra que foi pega na celeuma do Catar. Esse imbróglio destaca a interconexão de ONGs, parlamentares da EU e tomadores de decisão.

A ONG no centro do escândalo se chama Fight Impunity. Seu atual presidente é Pier Antonio Panzeri, 67 anos, ex-membro esquerdista do Parlamento Europeu. Ele foi preso depois que 600 mil euros em notas foram encontrados em sua casa. Ele, a esposa e a filha supostamente receberam subornos de um diplomata marroquino. Mas ainda mais interessante é a revelação de que o diretor-executivo da Fight Impunity é Sergio Segio, um terrorista condenado. Segio é o antigo comandante do Prima Linea, um grupo italiano de esquerda que assassinou dois juízes milaneses. Ele ganhou mais notoriedade quando realizou um ataque a bombas a uma prisão para libertar sua antiga namorada. O ataque resultou na morte de um guarda prisional e de um transeunte.

A grega Eva Kaili foi destituída do cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu e está no centro do escândalo do Catargate | Foto: Divulgação/UE

Preso em 1983, Segio foi sentenciado à prisão perpétua e, depois de renunciar ao seu passado violento, se tornou um conhecido lobista e militante dos direitos humanos. Em anos recentes, ele se apresentou como a Greta Thunberg da indústria dos direitos humanos.

Em seu Report On Global Rights: State of Impunity In The World [“Relatório sobre Direitos Globais, Estado de Impunidade no Mundo”, em tradução livre], Segio discorre sobre a injustiça global, um planeta em chamas, ecocídio e etnocídio, além de declarar que, “sem justiça ambiental, não existe paz”. Evidentemente, ele é um defensor de toda causa da moda que circula na bolha de Bruxelas.

As ONGs gozam de autoridade moral com base em sua independência e ausência de obrigações para com partidos políticos, grupos de interesse e governos. Sua reputação de desprendimento é constantemente validada pela mídia, que as trata como organizações independentes, que são, por definição, objetivas e, portanto, confiáveis, por não serem maculadas por interesses políticos

Assim como muitas ONGs com sede em Bruxelas, a Fight Impunity é beneficiária da generosidade da União Europeia (UE). De acordo com o jornal belga Le Soir, a ONG recebeu € 175 mil do comitê de política externa da UE no ano passado. Apesar da afirmação magnânima de serem não governamentais e independentes, diversas ONGs consideram a União Europeia uma galinha dos ovos de ouro para financiar suas atividades. De acordo com um relatório redigido por Markus Pieper, um membro democrata cristão do Parlamento Europeu, em 2015, ONGs receberam financiamentos da ordem de € 1,2 bilhão da UE. Desde 2015, esses financiamentos continuaram aumentando. Em 2020, a UE comprometeu € 14,5 bilhões em apoio a ONGs.

Sergio Segio é o antigo comandante do Prima Linea, um grupo italiano de esquerda que assassinou dois juízes milaneses | Foto: Reprodução
Segio preso na Itália, cumpriu dez anos em regime fechado | Foto: Wikipedia

No papel, assim como todas as organizações não governamentais, a Fight Impunity parece ser da mais alta pureza. Famosos oligarcas de esquerda ficavam felizes em se associar a ela. Mas, na sequência das acusações de corrupção contra Panzeri, houve uma renúncia em massa dos membros do conselho. Federica Mogherini, ex-chefe de política externa da UE; Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro francês; Dimitris Avramopoulos, ex-comissário europeu para a migração; Cecilia Wikström, ex-membro do Parlamento Europeu; e Emma Bonino, ex-membro liberal do Parlamento Europeu e ministra de Política Externa da Itália, rapidamente renunciaram como membros do “Conselho Honorário” da Fight Impunity.

A hipocrisia dos vigaristas que comandavam a Fight Impunity é impressionante. A ONG se apresenta como uma zelosa defensora da responsabilização e da justiça internacional. Em seu site, ela afirma que seu objetivo é promover uma luta contra a impunidade nas violações graves dos direitos humanos e de crimes contra a humanidade.

Se alguém se der ao trabalho de investigar a Fight Impunity, logo vai se dar conta de que isso não passava de um site, uma máquina de relações públicas produzindo relatórios sobre os males do mundo. Muitos políticos de grande visibilidade e assessores ligados à ONG deviam saber que se tratava de uma fachada criada para enganar a União Europeia e outros financiadores. É difícil evitar a conclusão de que seu compromisso com os direitos humanos e a justiça transnacional não a impediu de aproveitar sua posição para obter benefícios financeiros.

O italiano Pier Antonio Panzeri falando durante uma sessão plenária em Estrasburgo | Foto: Marc Dossmann /União Européia/Parlamento Europeu

O mito da ONG desinteressada

Existem dezenas de milhares de grupos de interesse com base em Bruxelas cujo trabalho é influenciar os reguladores burocratas e políticos da UE. O número total de ONGs em Bruxelas subiu de 29 mil, em 2008, para pouco menos de 35 mil, em 2018. É provável que esse número tenha continuado aumentando desde 2018 e esteja se aproximando da marca de 40 mil.

Também existem 30 mil lobistas trabalhando na capital belga, o que torna a cidade a capital do lobby da Europa. A revista Economist concluiu no ano passado que cerca de 25 mil lobistas, com um orçamento anual estimado conservadoramente em mais de € 3 bilhões, tentavam influenciar as políticas da União Europeia. Assim como o atual escândalo de corrupção envolvendo membros do Parlamento Europeu e diversos membros da bolha da União Europeia indica, existem quantias consideráveis não declaráveis disponíveis para influenciar funcionários e membros do Parlamento Europeu.

Na prática, costuma ser difícil distinguir entre lobistas e ativistas de ONG. Ambos atuam como membros de um grupo de interesse especial. Com tantas leis nacionais europeias nascendo em um dos comitês da UE, não é difícil entender por que um verdadeiro exército de grupos de interesse especiais gasta milhões para influenciar o processo de formulação de leis.

Agentes da União Europeia consideram suas parcerias com ONGs essenciais, para dar um mínimo de legitimidade à sua instituição. Para se legitimar, a UE costuma usar da autoridade moral das ONGs. Líderes da União Europeia estão preparados até para ceder parte de seu poder para instituições não governamentais aparentemente mais “esclarecidas” com sede em Bruxelas.

As ONGs gozam de autoridade moral com base em sua independência e ausência de obrigações para com partidos políticos, grupos de interesse e governos. Sua reputação de desprendimento é constantemente validada pela mídia, que as trata como organizações independentes, que são, por definição, objetivas e, portanto, confiáveis, por não serem maculadas por interesses políticos.

Elas costumam se gabar de sua independência em relação ao mercado e aos governos, mas, na verdade, “ONGs são profundamente interligadas com ambos, em especial com governos”, concluiu Theda Skocpol, em seu livro Diminishing Democracy. Com frequência, elas são financiadas por fundações, empresas e órgãos públicos.

Diminished Democracy, de Theda Skocpol | Foto: Divulgação

O termo “não governamental” é curioso: ele define essas organizações pelo que não são. Em outras palavras, sua autoridade supostamente se baseia no que as ONGs não são. No entanto, o termo não governamental implica uma relação com seu oposto, o governamental. Na realidade, o status de uma ONG está ligado ao seu acesso a governos. Em algumas instâncias, elas atuam de perto com empresas e interesses privados. Interesses privados tentam subordinar a autoridade moral das ONGs, para buscar parcerias com elas. A parceria entre o Catar e políticos ligados à Fight Impunity ilustra como é fácil para uma ONG em Bruxelas atravessar a fronteira para o mundo da corrupção.

Leia também: Um Ocidente sem líderes

2 comentários
  1. RICARDO TEIXEIRA DA CRUZ RIOS
    RICARDO TEIXEIRA DA CRUZ RIOS

    Nunca acreditei em ONG’s. Isso não passa de picaretagem para obter dinheiro público.

    1. José Bento da Silva
      José Bento da Silva

      Certamente. As ONG´s são uma proposta esquerdista de minar o Estado e se saírem bem na foto. De minar o Estado ao Comunismo, é só uma questão de tempo. Matam dois coelhos numa cajadada só. Todo onguista trabalha com seu dinheiro é é socialmente benquisto. Socialismo é assim; nunca tem onguista não-socialista, e a razão é óbvia.

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