É uma realidade baseada na lógica, comprovada pela prática de séculos e que há muito tempo dispensa qualquer comprovação através da experiência; não está mais em discussão, ou talvez nunca tenha realmente estado. Ela ensina uma verdade simples e potente. Todas as vezes em que algum governo, em qualquer época, regime político ou lugar deste mundo, quis regular a liberdade de expressão, o resultado foi o mesmo, sem nenhuma exceção: essa liberdade foi reduzida, falsificada ou simplesmente extinta. Não é uma questão de ponto de vista. É a consequência inevitável da pretensão de melhorar algo que é um direito evidente, por natureza, do ser humano. Esse direito não pode, objetivamente, ser melhorado por leis — da mesma forma como não é possível melhorar, por alguma espécie de ato administrativo, o direito do homem a pensar ou a existir. Conclusão: em vez de melhorar, ele só piora, todas as vezes em que se mexe com ele.
É o que acaba de acontecer, nesta corrida cada vez mais descontrolada do Brasil rumo à escuridão, com a aprovação do “Projeto de Lei das Fake News” no Senado Federal — sem debate público, sem sessão plenária, por “voto eletrônico”, num momento em que o país está arrasado por uma epidemia a caminho de matar 60 mil pessoas e por apenas 44 votos, de um total de 81 senadores. Se não há acordo nem entre os próprios senadores sobre o tema, que respeito se pode esperar de uma lei dessas? A verdade, pela evidência dos fatos, é que o Senado Federal do Brasil tratou um direito fundamental do homem, incluído como “sagrado” nessa bendita Constituição que não sai da boca de políticos, juristas e pensadores brasileiros em geral, com o pouco-caso de quem está trocando um nome de rua em algum fundão perdido do interior.
Naturalmente, como fazem todas as ditaduras nos momentos em que tentam dar um cheiro de legalidade a ações de banditismo contra os direitos democráticos, os autores da lei disseram que seu objetivo era “aprimorar”, ou até mesmo “proteger”, a liberdade de expressão. É mentira, como se pode verificar pela leitura do que está escrito no texto aprovado pelos 44 senadores. A autoridade pública — também podem chamar de “polícia” — tem a partir de agora o direito de “rastrear” todas as comunicações feitas pelos cidadãos através dos meios eletrônicos. É, para começar, uma violação grosseira do direito à privacidade na comunicação entre as pessoas: pela nova lei, mesmo a sua conversinha num simples grupo de WhatsApp entre os familiares, os amigos ou os vizinhos do prédio pode ser gravada por quem manda nos governos, sem licença da Justiça ou de quem quer que seja. Para continuar, é uma agressão direta à liberdade de manifestação do seu pensamento, pois tudo o que você disser poderá ser utilizado contra você — ou contra as plataformas por intermédio das quais as suas conversas são feitas.
Como é possível uma sociedade livre entregar ao Estado a função de decidir o que é verdade e o que é mentira?
Como uma lei que pretende combater a mentira nas comunicações públicas, punindo a transmissão de “notícias falsas”, pode ser construída, ela mesma, em cima de uma mentira? O fato é que toda essa lei se baseia na falsificação da verdade. Ela pretende castigar o mau uso da liberdade de manifestação, segundo os autores asseguram piedosamente nos seus propósitos — mas isso já é feito, desde 1940, pelo Código Penal Brasileiro. A calúnia, a difamação e a injúria são os únicos três crimes que alguém pode cometer utilizando-se do seu direito à livre expressão; até hoje, ninguém foi capaz de descrever alguma outra possibilidade. Muito bem: esses três delitos estão previstos nos artigos 139, 140 e 141 do Código Penal, e caso o réu seja condenado está sujeito a penas de multa, prisão ou reclusão. Pode ser punido, até mesmo, o crime de calúnia contra um morto. Será que já não está bom assim? É a regra que vem valendo há 80 anos, sem nenhuma observação em contrário, para as mentiras ditas pela imprensa, ou por outros meios de comunicação. Por que, agora, estão achando que é preciso fazer mais?
No que talvez seja o seu pior momento, a lei manda que se forme um “conselho” para julgar o que há de errado e quem errou em tudo o que se diz na internet — um surto de mania de grandeza que, além do mais, pretende “certificar” (ou não) as virtudes dos serviços a ser criados pelos “provedores de redes sociais” e “serviços privados de mensageria” para controlar o que os brasileiros dizem na internet. “Conselho”? Que raio quer dizer isso? Então a Justiça brasileira, com seus 18 mil juízes, desembargadores, ministros, tribunais inferiores, superiores e supremos, não é o lugar certo para julgar as questões que envolvem uma das garantias essenciais da Constituição? É uma aberração: ao entregar a uma montoeira indefinida de deputados, senadores, burocratas, diretores de “agências reguladoras”, comunicadores e gente da “sociedade civil” o direito de definir o certo e o errado em tudo aquilo que se diz num celular no território nacional, a nova lei está privatizando a Justiça. Como é possível uma sociedade livre entregar a um “conselho” — entregar ao Estado, na verdade — a função de decidir o que é verdade e o que é mentira?
O que os políticos querem é combater tudo o que se possa dizer contra eles e comprar a tolerância do STF
A degeneração moral, lógica e política que os autores da lei criaram autoriza a coleta em massa de informações sobre o cidadão e sobre o que ele vai dizer daqui para diante em seus aparelhos de comunicação — se quiser exercer o direito legal de falar o que pensa, terá de se esconder num canto qualquer onde as autoridades não possam ouvi-lo. Você, por acaso, confia na honestidade de quem vai estar na escuta das suas palavras — um senador, por exemplo? Está seguro de que ele não vai usar em proveito próprio o que ouviu? A lei das fake news, em mais uma das suas deformações tóxicas, também exige que qualquer empresa que queira operar no país através de redes sociais terá de ter “sede no Brasil” — uma patriotada primitiva, ignorante e destrutiva que significa atraso tecnológico direto na veia. Acima de tudo, enfim, os senadores aprovaram a mais agressiva legislação de censura que o Brasil já viu. Nem o AI-5 de 1968, tido como a pior agressão à liberdade que alguém jamais escreveu num pedaço de papel em toda a história nacional, permitia a prática da censura em qualquer um dos seus 12 artigos. Permitia fechamento do Congresso, confisco de bens e negação de habeas corpus para crimes políticos. Mas não permitia censura.
Não adianta, como dizem os autores da lei, garantir que não há censura no texto aprovado, no sentido de proibir alguém de dizer alguma coisa. Não há a palavra “censura”, mas há a censura — sempre há, todas as vezes em que a autoridade tem a vontade, ou a pretensão, de julgar o bem e o mal naquilo que as pessoas pensam. O fato é que até hoje nenhum país civilizado, onde há o máximo possível de liberdades — e tantas notícias falsas circulando nas redes sociais como no Brasil —, fez nada de parecido com o que está se tentando fazer aqui. Não ocorreu a ninguém, até agora, banir a mentira da vida pública de uma nação. Alguém acredita que os senadores que aprovaram essa lei sejam os únicos a ver o que mais ninguém viu?
O que condena a “lei das fake news”, acima tudo, é a sua hipocrisia de nascença. Nunca foi objetivo de seus patrocinadores combater notícia falsa nenhuma. O que os políticos querem é combater tudo o que se possa dizer contra eles (e o que eles fazem) nas redes sociais — e, mais até do que isso, comprar a tolerância, o apoio e a cumplicidade do Supremo Tribunal Federal no julgamento dos seus atos. O STF é o verdadeiro inventor dessa deformação agora usinada como lei pelo Senado — e que teve por origem real o medo dos próprios ministros de responder penalmente pelos atos de que são acusados ou suspeitos. Todo o resto é conversa-fiada. “Protejam a gente; em compensação, vamos proteger vocês quando forem julgados aqui” — essa é a mensagem. Não poderiam encontrar parceiros tão dispostos a cooperar. O Senado, como todo mundo sabe, é a casa de gigantes da honestidade como Renan Calheiros, Jader Barbalho, Ciro Nogueira e tantos outros heróis da política nacional — esse último, aliás, acaba de ver o próprio STF, por 3 a 2, autorizar seu processo penal por corrupção e lavagem de dinheiro, na condição de chefe do “quadrilhão do PP”. Você acha que ele votou a favor ou contra a “lei das fake news”?
“A lei não é contra as notícias falsas, é contra as liberdades individuais. Não é contra a mentira; é a favor da censura. Não é para defender o cidadão; é para defender quem tem poder de quem não tem poder”, afirmou o deputado gaúcho Marcel van Hattem, do Partido Novo — que, junto com seus colegas de bancada Paulo Ganime, do Rio de Janeiro, e Vinicius Poit, de São Paulo, tem sido uma das vozes mais ativas na denúncia do projeto que passou pelo Senado. Eles vão lutar, agora, pela sua rejeição na Câmara dos Deputados. É um perfeito sinal dos tempos que as suas vozes não apareçam na mídia que chama a si própria de “grande”. Estão confinadas às redes sociais — essas mesmas que os donos do Brasil velho querem calar.
Sobre esse tema, leia também nesta edição os artigos de Ana Paula Henkel e Guilherme Fiuza
Os velhos políticos, contra a pandemia da informação.
Nem os maiores dramaturgos globais, seriam capazes de escrever tão elaborado e sórdido enredo, quanto o dessa nossa novela chamada Política Brasileira. Deixamos de ser o país do futebol para nos tornarmos o país da política, amém!
E esse big brother, de audiência quase unânime entre os brasileiros, não possui contrato exclusivo de transmissão com nenhum monopólio midiático, é de transmissão horizontal e descentralizada, e é esse o maior medo da velha classe política, o medo da pandemia da informação. Essa é a grande ameaça ao sistema eleitoreiro dos partidos, que perderam sua blindagem jornalística e agonizam com a disseminação da verdade.
Excelente!!
Cada vez mais me convenço de que a decisão de assinar a Oeste foi acertada. Dá gosto ler o que jornalistas de verdade aqui escrevem. Essa é a diferença entre uma revista que busca informar sobre assuntos de suma importancia e outra que nada mais é que uma revista de fofocas.
Caro Guzzo, você define claramente o que qualquer brasileiro que tenha neurônios em ordem precisa saber.
Entretanto, embora saiba que essa não é a função como jornalista, faltou dizer aos leitores que cabe ao povo brasileiro descruzar os braços. Enquanto milhões não fincarem os pés nas portas do Ninho de Ratos e da Pocilga, exigindo que esses vagabundos renunciem aos seus cargos, nada irá mudar.
Não é possível entender – e essa é a outra alternativa – como até agora as FFAA ainda não perceberam que simplesmente não dá mais pra prosseguir do jeito que está. Será que alguém em sã consciência dá mais valor às palavras de um “ministro” do “stf” que se ajoelha e beija os pés de uma corrupta? Ou será que irá ouvir o que um JURISTA de verdade como o Professor Gandra diz?
Há a convicção generalizada de que o Presidente ainda não invocou o Artigo 142 da Constituição porque não conta com o apoio integral que necessita. Esse apoio só irá se consolidar se a população entender que depende dela.
Parabéns Guzzo, excelente artigo, concordo plenamente.
Concordo 100%.
Aproveitaram a pandemia, como bem disse Guzzo, porque na câmara o buraco mais embaixo, os que votaram essa aberração, estão em sua maioria
com processos no STF, outro poder ideologizado e político, que não aceita
criticas, e juntos se acobertam na sujeira da corrupção e dos desmandos.
Cadê os manifestantes ?!!! Vamos gritar, espernear , não podemos ficar de braços cruzados aceitando que esses bamdidos do senado tirem a nossa liberdade de opinar, são uns aloprados nojentos !!!!
Parabéns Guzzo, excelente artigo.
Excelente texto Sr Guzzo. Lamentavelmente, o Congresso desceu ao último grau do aviltamento possível. Uma desonra.
Isso não é uma lei. É uma excrescência
Parabéns pelo excelente texto Guzzo! Essa revista veio pra dar voz à nossa indignação que estava quase sem representatividade.
Brilhante, como sempre, o nosso Guzzo!
Sem uma limpa no STF vai ser difícil melhorar alguma coisa neste país.
#STFVergonhaNacional
#PL2630Não
Muito bom e corajoso teu artigo. É o que todos nós gostaríamos de dizer a respeito dessa matéria aprovada açodadamente pelo Senado, “que nem o AI5 permitia a prática de censura”, mas nós leitores corremos o risco de estar promovendo manifestações antidemocráticas. Lembro que o ministro Salles do meio ambiente foi severamente criticado, por ter dito em reunião ministerial vazada, que o governo deveria acelerar na aprovações de regulamentações ministeriais, para solucionar as demandas necessárias da sociedade. E agora vem o Senado e aprova sem debate público, sem sessão plenário e por voto eletrônico, tão grave legislação.
Além do fato principal que você comenta, que são as proteções de interesses pessoais de envolvidos, entendo que essa aberração de CASA LEGISLATIVA composta de 3 senadores por Estado, é o cúmulo do desperdício dos recursos públicos. Para que 3 senadores se a representação é o Estado? Assim, temos Estados como Acre, Amapá, Alagoas, Distrito Federal, M.G do Sul, M.Grosso, Piaui, Rio G.do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe, Tocantins que totalizam 18.410.583 eleitores com 36 senadores e São Paulo com 33.04.411 com 3 senadores. Lógico que a comparação é simplesmente para mostrar quanto o Senado representa na população eleitoral do pais. Nesses Estados 20 votos foram favoráveis a essa censura. Esses dados são referentes ao eleitorado de 2018 que somavam no País 147.306.275 eleitores. Vale lembrar que o Estado de São Paulo, por uma ambiguidade na composição da Câmara Federal, não tem representação proporcional, portanto o voto dos paulistas vale muito menos que o voto do eleitor do Amapá. Aos jornalistas paulistas peço um empenho especial em mostrar ao eleitor paulista essa enorme inconstitucionalidade na legislação pertinente, e se empenharem junto aos políticos para muda-la.
Excelente artigo
Caro amigo que não fala mais com a gente por falta de tempo: o Brasil que eu quero… ui, desculpe lembrar dessa pegadinha da Globo. Gosta de falar o que a maioria não fala. O STF e o Congresso poderiam disponibilizar alguns exemplos do que eles consideram fake news (umas dez, cinco de direita, cinco de esquerda) para o povo ver do que estão tratando. Eu, por exemplo, que votei em branco no primeiro turno e no segundo votei para um candidato não ganhar, compartilhei e distribui diversos posts engraçados da campanha. Um deles é aquela do filme Planeta dos Macacos onde o macaco sussurra no ouvido do mocinho só uma palavra: Bolsonaro! E a outra que compartilhe foi o discurso da Chauí dizendo que odiava a classe média. Sei lá. Acho que vou em cana.
Brilhante como sempre, Guzzo !
Análise perfeita !
Parabéns !
No Brasil muito se fala em democracia, porem não se pratica, principalmente quem por ela deveria zelar.
O Governo proíbe ou criminaliza tudo que não consegue controlar. Atualmente, o Governo não consegui mais proibir as redes sociais, então ele vai transformar em crime aquilo que não consegue controlar nas redes sociais.
Texto irrepreensível!
Atenção, MINAS GERAIS: Antonio Anastasia e Rodrigo Pacheco votaram a favor. Somente Carlos Vianna votou contra.
Parabéns a você Guzzo e a todos da Oeste…mais uma matéria magistral! Pena que os “vagabundos” e outros velhacos não compreendem…
Acho que essa corja, Guzzo, já foi longe demais…!!!
Guzzo,
parabéns pelo seu artigo, mais uma vez. No meu modo de ver, o Brasil está se perdendo em discussões idiotas no campo politico com alto teor de emoção (Golden Shower, Cloroquina, entre outras inúmeras) e perdendo de vista questões extremamente importantes. Como Liberdade, qual o projeto de Educação de curto, médio e longo prazo para que o país possa promover o achatamento da curva da desigualdade social e aumentar a mobilidade social, e diminuir os privilégios de algumas castas (políticos, funcionários públicos, membros do judiciário dentre outros) e transformar o Estado em instrumento da população e não em privilégios de minorias.
Este processo irresponsável corre o risco de levar o pais a situações muito delicadas.
Preciso. Fiz a minha assinatura na revista ontem. Tenho certeza que fiz um bom negócio. Jornalistas sérios, compromissados com a verdade. Precisamos de mais jornalistas desse quilate.
A prática de repetir mentira até que virem verdade, usada por nazistas e comunistas, sempre foi eficiente quando controlava a mídia mas agora com a Internet não dá mais e o Ditadores do Pensamento Alheio ficaram “arrepiados ” com a falta de influências !!!
A lei da Mordaça é um conluio entre Congresso e STF: “vocês nos protegem contra a voz do povo e nós protegemos vocês”! Um escárnio, censura no mais alto grau que não houve nem durante a validade do AI5. Se a Câmara mantiver esse descalabro autoritário o Presidente terá que vetar. Essa afronta dos Poderes Legislativo e Judiciário às liberdades individuais a sociedade brasileira não vai tolerar! A politicalha passou dos limites!
Guzzo sempre assertivo. Um dos motivos da minha assinatura na Oeste.
O que congresso e STF querem é que a gente volte a ser informado apenas pela Globo e Folha como era na idade da pedra. Eles se assustaram com a era digital e viram que não a podem controlar, por isso essa lei da censura criminosa.
Políticos querem combater tudo q se diga contra eles e contra o STF. Querem o impossível. Toda sociedade hoje em qq esquina mesmo
Em Brasília fala mal dos ministros do STF e de todos políticos e jornais da tv
Guzzo, perfeito o sei artigo, para variar. A gente sente uma profunda tristeza cívica ao perceber o que está acontcendo em nosso pais… E a imprensa “que se diz grande”, como você fala, calada. O que o cidadão comum, honesto, que paga impostos, pode fazer, nesse contexto? Alguma sugestão? Até as eleições um monte de arbitrariedades estão acontecendo…
PAULO SAAB 03 07 20
NOS FALTA VERGONHA NA CARA
…nesta terra nenhum homem é republico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular…
O brasileiro, em geral, antes e acima de tudo, precisa tomar urgentemente um banho de civilização. O que está acontecendo na questão do auxílio emergencial para pessoas necessitadas é uma vergonha. Fraude em cima de fraude.
Recursos do tesouro nacional, escassos, faltantes (apesar da brutal arrecadação, pois a maior parte vai para custear folha de pagamento dos serviços públicos indecentes e havia/há desvios de corrupção) foram destinados emergencialmente às camadas da população que durante a pandemia ficaram privadas de mínimo poder de compra. Aplausos.
Em meio aos milhões de necessitados, o desvio de caráter e a falta de civilidade de parte da população, levou algumas dezenas de milhares de “espertos” a requerer (e receberam) esse auxílio que tem sido a possibilidade mínima de sustento dos efetivamente pobres.
Vergonha. Até dentro do próprio Palácio do Planalto houve advertência generalizada da impropriedade da requisição. Filhos, parentes, pessoas próximas a político, parlamentares e até filho de Willian Bonner, e, certamente, muitos outros que não chegaram ao conhecimento público. É uma verdadeira “expropriação” de dinheiro público por quem tem (e como tem) condições de vida de elevado padrão e subtraem dos pobres recursos públicos que para muitos, é a única forma de sobrevivência. Vergonha.
Isso é parte do que defende há décadas. O Brasil só vai sair de seu atoleiro de mediocridade e corrupção alarmante quando o país se dedicar a um projeto nacional de educação, conhecimento, civilidade, supra partidário, acima de governos, como proposta nacional de estado.
É quase utópico. A Coréia do Sul conseguiu. Para ficar num único exemplo. Em 25 anos saltou de um país atrasado como o Brasil para uma potência tecnológica, industrial, econômica, porque investiu maciçamente, sem viés ideológico que não a liberdade em todos os seus sentidos, na educação de seu povo.
Por mais que alguns torçam o nariz, somos um país ignorante, semialfabetizado, onde ainda prevalece a lei da vantagem individual em tudo e o salve-se quem puder em cima do dinheiro público.
Esse é o terreno fértil e, por isso, não se avança, para políticos, governantes, oligarquias, toda sorte de poder dominante, até o próprio estado brasileiro em suas instituições privilegiadas e viciadas no tesouro público. Adubados por vaidade, corrupção, e uma profunda dose de demagogia. Tudo se faz para manter privilégios e o discurso é em que o mal feito é para o bem dos mais necessitados. Exemplos não faltam. Basta olhar, ainda agora, ainda mais agora, para Brasília e estrados brasileiros.
Somos incivilizados. É só olhar em nosso redor. Cada um de nós.
A “cultura” é de esperar do poder público solução para cada um. Urge que cada um faça sua parte para o bem de todos.
É algo que precisa vencer o círculo vicioso que vem de séculos, como mostro abaixo na palavra do Frei Vicente de Salvador. Somente com a educação, a alfabetização efetiva e o conhecimento, os milhões de brasileiros ,incluo todos, cada um de nós, poderá discernir e entender a necessidade de ,dentro das liberdades públicas, econômicas e de expressão de pensamento e opinião, o país se desenvolverá e todos terão melhor qualidade de vida.
O quadro de hoje é desolador. Estamos, todos, sobrevivendo. E, ainda há, uma parcela de atores da cena política, artística, econômica, diria, geral, que prefere que tudo fique como está ou piore, por egoístas interesses pessoas de poder, dinheiro e dominação.
Nessas horas, dá vergonha sim de ser brasileiro.
Em meu livro “1500, A Grande Viagem”, romance de ficção histórica sobre a viagem de Cabral, cujas primeira e segunda edições são de 1994, transcrevi no final da obra uma declaração do Frei Vicente de Salvador, de 20 de dezembro de 1627. Chamei de “Reflexão de 4 Séculos”. Mais um quarto de século se passou até hoje, e o Brasil segue sendo o que o religioso escreveu:
“…nem depois da morte de el-rei Dom João Terceiro, que o mandou povoar e soube estimá-lo, houve outro que dele curasse, senão para colher as suas rendas e direitos. E deste mesmo modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados na terra estejam, tudo pretendem levar a Portugal. E isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá nasceram, que uns e outros usam da terra, não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e a deixarem destruída. Donde nasce também que nesta terra nenhum homem é republico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular. É assim que estando as casas dos ricos (ainda que seja à custa alheia, pois muito devem o quanto têm) providas de todo necessário, nas vilas muitas vezes não se acham coisa de venda. Pois o que é fontes, pontes ,caminhos e outras coisas públicas, é uma piedade, porque atendo-se uns aos outros, nenhum as faz, ainda que bebam agua suja e se molhem ao passar ,e tudo isto vem de não tratarem do que cá há de ficar, senão do que hão de levar para o reino. Esta são as razões por que alguns com muita razão, dizem que não permanece o Brasil, nem vai em crescimento; e a estas podem ajuntar a de lhe haverem chamado estado do Brasil, tirando-lhe o de Santa Cruz, com que pudera ser estado e ter estabilidade e firmeza…”
Excelente comentário. O meu desalento sobre nosso país é que nem a educação será solução. Basta ver a ideologia dominando a racionalidade em nossas universidades, povoadas de mestres, doutores, pós doutores e por aí vai. Patrulhamento ideológico e bullying com quem pensa diferente, a infame ditadura do politicamente correto, o corporativismo parasita da elite de funcionários públicos, a bipolaridade radical nas redes sociais, que cega e transforma pessoas até então equilibradas em convertidos cegos e irracionais. Todos educados, de nível superior. O que esperar? A marcha da insensatez não tem fim…
A Revista Oeste é o oxigênio de liberdade de pensamento e expressão da verdade do que ocorre com o Brasil de hoje. A mídia viciada em verbas pública$ perdeu a capacidade de enxergar o dano que o STF e o Congresso Nacional estão causando ao Brasil. Por via das dúvidas, já deixo declarado que escrevi isso sem querer…
Penso, logo existo! Exijo respeito! Prezado Guzzo, talvez fosse esta a maneira para todos protestarem subliminarmente. Parabéns por seu texto. Como sempre!
Com a aberração do foro privilegiado, esses ministros do STF deixaram de ser guardiões da constituição para se tornarem guardiões de políticos e empresários poderosos. Em troca ganharam do senado a lei da mordaça.
O Governo proíbe ou criminaliza tudo que não consegue controlar. Atualmente, o Governo não consegui mais proibir as redes sociais, então ele vai transformar em crime aquilo que não consegue controlar nas redes sociais.
Isto não tem nada a ver com o governo, é legislativo.
Por gentileza, tira a palavra “Governo”!
Não é o Governo que está criando a censura, é o Congresso, STF, Imprensa “mainstrean” et caterva…
O Governo Federal através de nosso Presidente é totalmente contra esse absurdo!
As “suas excelências” deveriam sair, às vezes, dos seus castelos morais e vir ao mundo real para ouvir opiniões contrarias às suas.
Não admito ter meu pensamento cerceado por 44 vagabundos, chefiadas por um vigarista do naipe de um Alcolumbre. Canalhas, não passarão !
Muito natural que o Brasil velho e atrasado esperneie contra o novo Brasil que está surgindo (em 2013 Brasília foi sacudida pelo tremor das ruas). O velho Brasil será surpreendido novamente nas eleições deste ano. As renovações na política continuarão acontecendo dando musculatura ao novo Brasil. Parabéns partido Novo!!
Ah, Guzzo, você é mesmo imbatível no quesito acertar na mosca…simplesmente sensacional seu artigo. Sinto-me privilegiada pela oportunidade de ser sua leitora assídua. Parabéns e obrigada por mais esse brinde!
Convém ressaltar que esse projeto de censura sequer passou pelas comissões.
Eles estão com pressa por causa das eleições. É muita lama!