— Esse negócio aí de fake news, você é contra ou a favor?
— Contra, claro.
— Por quê?
— Ué, porque sou contra a mentira. Qual seria a dúvida?
— Não, nenhuma. É que não é bem isso.
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— Não é bem isso o quê?
— Esse negócio de mentira.
— Como assim? Mentir agora é relativo?
— Depende.
— Depende de quê?! Você enlouqueceu?
— Depende da fake news. Vou te explicar.
— Por favor.
— Por exemplo: a eleição presidencial foi decidida por uma fraude de WhatsApp?
— Claro que não.
— E você leu notícias dizendo que a eleição foi maculada por disparos de WhatsApp?
— Li.
— E você viu algum desses checadores de fatos decretando que isso aí era fake news?
— Não.
— Então não era.
— Não era o quê?
— Fake news. Se os checadores não disseram que era fake news, não era fake news.
— Aonde você quer chegar?
— Já cheguei. Estou te provando que nem sempre mentira é fake news.
— Então o que é fake news?
— Está preparado para ouvir a verdade?
— Sempre.
— Então lá vai: fake news é o que a gente quiser que seja.
— A gente, quem?
— A gente que denuncia fake news.
— Tá meio confuso, isso. Dá um exemplo.
— Sabe o Supremo Tribunal Federal?
— E como sei.
— Pois é. Eles botam a polícia pra pegar jornalista, invadir casa de deputado, enfim, tocam o terror dizendo que estão combatendo fake news, né?
— Impressionante, não tinha me dado conta. E quais são as fake news que eles estão denunciando?
— Bobo.
— Qué isso? Olha o respeito!
— Desculpa. Eu quis dizer distraído.
— Tá certo. Ando meio distraído mesmo. Essa quarentena tá…
— Olha o foco. Estamos falando de fake news.
— Isso, obrigado. A denúncia do STF. Continua.
— Já terminei. O STF prende e arrebenta dizendo que é alvo de fake news. E ainda fala que tá defendendo a democracia. Aí não precisa explicar nada, é só sair amordaçando.
— Desculpe a minha distração… Ninguém reclama disso? Ninguém diz que é contra a lei?
— Só o povão da internet. Mas você não tá tão distraído assim: esse é um bom ponto e já está sendo resolvido.
— Como?
— Com uma nova lei. Pra ninguém mais poder dizer que é contra a lei.
— Interessante. E o que vai dizer essa lei?
— Basicamente isso que eu já te disse.
— O quê?
— Que fake news é o que a gente quiser que seja.
— Isso vai virar lei, é?
— Já tá virando. O Senado fez a parte dele. Foi uma coisa linda. Até os tucanos apoiaram.
— O pessoal do FHC apoiou a mordaça?
— Se você usar essa palavra mais uma vez, eu te acuso de fake news e mando o STF invadir a sua casa.
— Calma, desculpe. Foi só uma brincadeira. Entendi perfeitamente que criar um juizado da verdade suprema não é amordaçar ninguém. É só convidar as pessoas a pararem de se meter a besta e só falarem o que é certo, não é isso?
— Exatamente! Quem não falar coisa errada não vai ter problema.
— Perfeito. Só não entende quem não quer. Até eu que ando meio distraído entendi. Posso te fazer só mais duas perguntas?
— Se for pergunta certa, sim. Se for pergunta errada, não.
— Já tá no clima da nova lei, né?
— Tem que exercitar.
— Sem dúvida. Então aqui vai a primeira pergunta certa: a gente pode contar com a Câmara dos Deputados pra aprovar essa lei tão importante para a democracia brasileira?
— Gostei do “a gente”. Seja bem-vindo ao clube da verdade soberana. Sim, contamos com a Câmara para prestar esse serviço ao clube… digo, ao povo. Os deputados podem ter a certeza de que, se aprovarem a lei proibindo o eleitorado de dizer coisa errada, só vai ser eleito político certo. Isto é, os que aprovaram a lei. É dando que se recebe.
— Sensacional.
— E a outra pergunta?
— Essa é mais simples. Você vai ter influência na escolha dos checadores da verdade?
— Sim.
— É que eu tenho um sobrinho muito bom…
— O que ele faz? Neste momento tá em casa.
— Home office?
— Não. Home home, mesmo. Mas de vez em quando ele sai. De máscara.
— Pra evitar o contágio, faz muito bem.
— Não. Pra jogar pedra em vidraça. Ele luta contra o fascismo por um mundo melhor.
— Bom perfil. Com certeza o seu sobrinho saberá o que é fake news.
— Que bom! É isso mesmo, ele vive na internet mandando as pessoas calarem a boca.
— Então pode dizer a ele que vai continuar fazendo isso, só que com um ótimo salário.
— Oba! Muito obrigado! E viva as fake news! Quer dizer… morte às fake news! Desculpe…
— Relaxa. Dá no mesmo.
Sobre esse tema, leia também nesta edição os artigos de Ana Paula Henkel e J. R. Guzzo
Muito bom, Fiuza!
Caro Fiuza, viralizou no WhatsApp a troca de mensagens do “senador” Angelo
Coronel, da Bahia. O conteúdo ó o que segue abaixo:
– Coronel. como está o acordo de terça?
– O acordo está fechado com os líderes, supremo e Alcolumbre
– Muito bom, essa PL vai ajudar todos nós
– Sim. Vamos acabar com a liberdade deles e mandar prender todo mundo. Vai todo mundo ir pra cadeia se discordar de nós.
– Sim. Vamos acabar com esses politiqueiros
– Sim. O embaixador vai enviar uma verdinha para nós quando a lei passar é interesse deles também.
– Ata o Chinês ?
-Sim
Será que é preciso dizer mais alhuma coisa? Onde está o careca CANALHA pra mandar prender esse vagabundo? O que o Presidente Bolsonaro está esperando para invocar o artigo 142?
Parabéns Fiuza, excelente artigo que representa bem o absurdo que o Senado Federal fez.
GE-NI-AL!
Sensacional!
No final de tudo, e além de tudo, ainda nasce um cabidão de emprego para espetar no distinto contribuinte.
Tudo para sua proteção!
Até quando a elite do Judiciário vai se omitir quanto aos desmandos desses membros do atual Supremo e, agora também, do Senado?
Já não estava na hora dos Desembargadores “desembargarem”?
“O que preocupa é o silêncio dos bons…”
Caro jovem articulista. Vc entrou no assunto com muitas variáveis para pensar. Sou responsável pela montagem e disseminação da quele vídeo que milhões assistira, curtiram e compartilharam. Coloquei o Joaquim Barbosa criticando o Gilmar Mendes no plenário do Excelso STF. É fake, uma mentira deslavada. Estou esperando a policia do Moraes para me buscar.
Dr. Vc está certo. E entre outros assuntos é o que entendemos por validade e prazo de vigência das leis.
????????. Partido Novo em 2020!!!
Sensacional, Fiuza!
Essa lei da fake news é um aberração. Os políticos envolvidos em ladroagem e falcatruas não admitem que o pessoal das redes denuncie ou comentem suas sacanagens. Essa lei deverá ser levado para a latrina e sofrer uma descarga, juntamente com os 44 canalhas que votaram favoráveis.
Excelente, Fiúza, como sempre.
Estamos vivendo em regime ditatorial, exceto do Poder Executivo.
Isso é inédito e esquizofrênico.
Ótimo texto, só tratando com ironia os Poderes no Brasil.
Se o que aconteceu no Brasil nos últimos 90 dias fosse relatado por um jornalista como um cenário em qualquer jornal brasileiro há poucos anos atrás, o jornalista seria tachado de louco e que “as instituições” jamais deixariam esse tipo de coisas acontecer. Todas as instituições brasileiras estão paralisadas e coniventes com essa situação gravíssima. O país esta’ atonito e a corda que estava esticada ja’ se rompeu. O que mais poderá acontecer?
Sempre se superando Fiuza!!!!
Muito bom!!!!
Muito bom!
Como Nasrudin criou a verdade
Nasrudin
(Khawajah Nasr Al-Din)
— As leis não fazem com que as pessoas fiquem melhores — disse Nasrudin ao Rei. — Elas precisam, antes, praticar certas coisas de maneira a entrar em sintonia com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.
O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer com que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.
O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado: “Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso mentir, será enforcado.”
Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.
— Onde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.
— Estou a caminho da forca — respondeu Nasradin, calmamente.
— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo – respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é a verdade: é apenas a sua verdade.
TODAS AS INSTITUIÇÔES A FAVOR DA CORRUPÇÃO E ROUBALHEIRA , SIMPLESMENTE INCRÍVEL, CASO UNICO NO MUNDO DEMOCRÁTICO, VAI PERMANECER POR MUITO TEMPO NA MEMÓRIA DO PAIS.
A solução para este abuso dos ministros do STF, passa necessariamente pela eleição de um novo presidente do Senado, cuja proposta seja a mudança do regimento interno e abrir mão de impedir que os processos de impeachment sigam seu caminho natural que não seja a gaveta, neste momento veremos a careca do Moraes se enrugando. Mas o que vejo hoje já é uma campanha para que se “legalize” no STF uma nova interpretação da constituição para que Alcolumbre possa continuar no comando, quem duvidar é louco.
Brilhante!!! ?
O Xande vai mandar te prender pelo texto acima?
Talvez, não. Já que você não escreveu a palavra proibida: Bolsona…o.
Entre o cansaço pelo tanto de abusos que correm por aí, o nojo pela politicagem prenhe de segundas intenções e objetivos inconfessáveis, o ódio pela cretinice de tantos, preciso dizer que qualquer tutela ou limitação ao livre pensamento é, por definição, censura. Se a manifestação de opinião tipificar algum ilícito penal, deixa de ser opinião e é punida como crime. Se a manifestação contém “fato inexistente” (desculpem a contradição em termos), idem. Resumo: não dá para engolir esse arremedo legislativo! Que diabos!
Simples assim!
O Roberto Jefferson já matou a charada , é muita gente com o rabo preso!
O Supremo Tribunal Militar vem aí. É só uma questão de tempo. Oremos
Quanto ao Senado, é de se perguntar, seriamente: para que ele serve, a não ser para escorchar a sociedade, e para autolocupletar-se e autoproteger-se, ademais, a um custo enorme? Ressalve-se a minoria de Senadores que lá estão, e que lutam denodadamente contra a maioria fisiológica, a começar pelo seu Presidente. Tudo considerado, para quê sistema bicameral no País? Ou, pelo menos que – se necessário – se mude o Regimento Interno para afastamento a qualquer tempo, da Presidência daquela Casa, que pratique ou deixe da praticar atos (como não dar seguimento à (v. g), CPI da Toga ou pedidos de impeachment de ministros do STF).
Fiuza: juiz de direito da ativa por 20 anos (até outubro/2017), jamais imaginei que, como cidadão, vivenciaria tamanho achincalhe jurídico, repetidamente praticado pela nossa Corte Constitucional. Cláusulas pétreas da Constituição insertas no seu art. 5º, simplesmente pisoteadas. Não há interpretações (lembremo-nos que a literal deve ser a primeira delas), e sim distorções aberrantes do seu texto. Incongruências e contradições, são recorrentes. O STF chega ao cúmulo de ignorar a suas próprias Súmulas, inclusive – pasme-se, acerbadamente – Vinculantes. Onde, então, a segurança jurídica??? Onde o Congresso, para coibir tais excrescências, na forma da lei? Onde o protesto veemente das Instituições, como a OAB, e das Associações (Oficiais) de Magistrados, do MP, e da Defensoria Pública? Onde o protesto da (grande) mídia, e da ABI sobre prisões teratológicas, inclusive de jornalista? Tudo parece uma concertação ideológica que causa repulsa, mesmo aos apartidários, como eu. Tristes tempos.
Dr. Vc está certo. E entre outros assuntos é o que entendemos por validade e prazo de vigência das leis.
Muito bom! Você deixa claro como está fácil se “enganar” com os discursos!
O “1984” de George Orwel está se consubstanciando no Brasil pelas mãos do legislativo e do judiciário.