Nesta semana, deputados, sob a liderança de Thiago Manzoni (PL), lançaram a Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade e do Conservadorismo. Fui convidado a fazer uma breve palestra, que teve de ser à distância por motivos de força maior. O que se segue é um resumo da minha fala, para que o leitor de Oeste tenha acesso ao que penso sobre liberdade. Fui um liberal com viés libertário quando mais jovem e, com o tempo, me tornei um liberal com viés mais conservador. Já expliquei essa transição no livro Confissões de um Ex-Libertário.
O meu foco continua sendo a defesa da liberdade individual. É o indivíduo de carne e osso que importa, pois os coletivistas tendem a defender abstrações como nação, raça ou classe, transformando indivíduos em meios sacrificáveis, em peões num tabuleiro em que eles, coletivistas, sempre se colocam como deuses.
O princípio de subsidiariedade prega os círculos concêntricos em que tudo que pode ser feito pelo próprio indivíduo assim deve ser feito, e depois passa para sua família, sua vizinhança, seu Estado e, finalmente, seu país. O coletivista estatizante subverte essa ordem, prioriza o “planeta”, depois a nação representada pela União, aí vêm os Estados e, finalmente, o bairro e o indivíduo, lá na rabeira das hierarquias.
Colocar o foco no indivíduo, porém, não quer dizer defender uma visão atomizada dele. O entorno importa. O foco no indivíduo não pode ser sinônimo de indiferença ou sociopatia, ou seja, devemos combater o coletivismo, mas ao mesmo tempo valorizar o coletivo. A liberdade individual não sobrevive num vácuo de valores — eis do que o muito libertário às vezes não se dá conta.
O próprio indivíduo só é inserido na sociedade por meio do núcleo familiar. Somos animais sociais e dependemos dos valores transmitidos pela nossa família para nos tornarmos bons cidadãos. Delegar ao Estado essa missão de formação moral é sempre um grande perigo.
O liberal com viés conservador entende que o indivíduo precisa de virtudes para se tornar um ser humano pleno e realizado. Ele também aborda com prudência o legado civilizacional, que nos fornece o caldo cultural para absorvermos essas virtudes. Por isso os arquétipos de heróis são importantes: no rito de passagem, os mais jovens miram em exemplos, referências morais. Se estas forem as erradas, tudo fica bem mais complicado.
O conservador rejeita, portanto, as utopias que falam em “novo homem” e paraísos terrestres. Ele é realista o suficiente para saber que isso é impossível, partindo da premissa da imperfeição humana
O conservador escolhe a cautela contra a arrogância revolucionária. Ele não é contra mudanças, mas joga o ônus da prova para quem propõe as mudanças, em especial aquelas mais radicais. Ele não pretende derrubar tabus por rebeldia irresponsável, ignorar as tradições, pois ele assume com humildade que seu conhecimento é limitado perante esse arcabouço que sobreviveu ao teste do tempo. O conservador não confunde liberdade com licenciosidade ou libertinagem. Ele quer acrescentar alguns tijolos sobre o edifício que herdou, e não colocar abaixo todo o edifício em nome do niilismo ou de utopias.
O conservador rejeita, portanto, as utopias que falam em “novo homem” e paraísos terrestres. Ele é realista o suficiente para saber que isso é impossível, partindo da premissa da imperfeição humana. Ele também sabe que o inferno está pavimentado por boas intenções. O conservador valoriza a experiência, os cabelos brancos de quem já viveu o suficiente para acumular decepções e feridas.
Isso, claro, é uma grande síntese, uma generalização incompleta. Serve apenas como reflexões introdutórias. Mas esses pontos bastam para compreendermos como os “pragmáticos” maquiavélicos erram quando defendem que seus “nobres” fins justificam quaisquer meios. Bastam também para rejeitarmos a visão “progressista” de mundo, que deposita no Estado o papel homérico — e inviável — de ser a locomotiva do progresso e o responsável pela “justiça social”. O poder corrompe.
Nesse contexto, fica evidente que o atual governo brasileiro, com viés esquerdista, vai na contramão de tudo que um liberal mais conservador prega. Já o Partido Liberal, do ex-presidente Jair Bolsonaro, lançou um decálogo que se aproxima bastante dos valores conservadores. Ele defende: a Constituição; a família; a vida desde a concepção; a liberdade de expressão; a propriedade privada; o legítimo direito à defesa; a diminuição da carga tributária; a liberdade econômica; a agroindústria; o combate às drogas. Trata-se de uma agenda louvável. Se o PL efetivamente pretende seguir isso tudo, aí é outra questão.
Quem ousaria chamar essa agenda de radical? Onde está o radicalismo em pregar tais valores? Não teríamos um país mais decente e livre se seguíssemos essa agenda? Não teríamos mais ordem externa e um ambiente de mais oportunidades para quem assume as rédeas do próprio destino e as responsabilidades por suas ações? Quem poderia em sã consciência ser contra a defesa da vida como sagrada, das liberdades básicas do indivíduo e da família?
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Em minhas leituras em artigos e livros, tenho visto diversas colocações de nossos problemas sociais, econômicos e políticos. Os problemas estão colocados sobre a mesa. Eles são muitos. Mas gosto de trabalhar nas soluções dos problemas. De que maneira é possível trabalhar as soluções dos problemas brasileiros?
Ótimo texto. Algumas passagens me lembraram do excelente Thomas Sowell, a respeito das visões de mundo restrita e irrestrita.
Eventos da direita, seja presencial ou virtual, precisam ser realizados com mais frequência.
O ser humano é um animal racional e social com desejos, aspirações e competências totalmente diversos.
E foi isso que impulsionou o progresso da ciência e por extensão melhor qualidade de vida para os humanos.
Quando Clítenes lançou as bases da democracia em 514 a.C. que ampliava a participação popular nas decisões políticas. Foi um grande avanço.
O que vivemos hoje é algo semelhante ao que a civilização Viking anunciava no longínquo século XI.
“A política é um ligar muito perigoso. Ela atrai os ruins e corrompe os bons.”
Muito objetivo e esclarecedor sua coluna. Parabens Constantino.
Excelente artigo, terei que relê várias vezes para reflexão.
Não gosto do termo bem coletivo mas defendo o bem comum, como uma praça por exemplo. Somos antes de mais nada indivíduos.
Existe no parlamento muitos parlamentares preparados, só precisa se reerguer e fazer o papel de poder independente
Excelente Consta, perfeito !!!!
Amei, Consta. Parabéns! Irretocável.
Parabéns, Consta!! Pena que existem poucos liberais conservadores como nós. A grande massa ignara quer vida fácil.
QUEREMOS SIMPLESMENTE VIVER EM UM BRASIL QUE CONSERVE A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, E SEJA VERDADEIRA.
ESTAMOS CANSADOS VIVER EM UM BRASIL CHEIO DE CORRUPTOS E DESIGUAL DE TODOS OS TIPOS E DE TODAS CLASSE SOCIAIS.
O poder nas mãos dos esquerdopatas corrompe. E o poder absoluto, corrompe absolutamente.
Estamos chegando ao ponto em que o que antes era inacreditável se tornou banal. Algumas verdades são tão surpreendentes em suas ramificações que nós brasileiros simplesmente encolhemos os ombros e as ignoramos, como se fossemos estranhos em uma terra estranha.
Brilhante, como sempre