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Foto: Shutterstock
Edição 182

A propriedade é um direito inegociável

Vem causando preocupação a decisão unânime do STF que permite a desapropriação de terras que não cumpram sua função social, mesmo que sejam “produtivas”

Ubiratan Jorge Iorio

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É impressionante como, não poucas vezes, o óbvio — até mesmo quando é ululante — precisa ser explicado. Prova incontestável disso é a expressão função social da terra. Chega a ser patético e desanimador precisar esclarecer para muitas pessoas que tudo — sim, rigorosamente tudo! — o que existe em uma sociedade possui uma determinada finalidade e que, portanto, função social é uma redundância, uma prolixidade somente explicada por razões políticas e ideológicas. Mas, aos olhos das massas, a ideologia parece ter a capacidade de transformar pleonasmos em poesia heroica.

A palavra “social” possui um encanto semelhante ao do som da flauta daquele famoso personagem do conto dos irmãos Grimm que, contratado pelos habitantes de Hamelin, hipnotizou com sua música todos os ratos da cidade e os afogou no Rio Weser. Trata-se de um vocábulo revestido de magia, sedução e fascínio, que funciona como uma senha que, uma vez recitada, faz imediatamente subentender solidariedade, santidade e boas intenções. Basta pronunciá-lo ou escrevê-lo e — voilà! — a pessoa ganha incontinenti admiração, respeito e, mais importante, os votos de que precisa para alcançar algum cargo e continuar iludindo milhões de ouvidos surdos ao óbvio, para em seguida lançá-los no rio do abandono.

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