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Ilustração: Shutterstock
Edição 182

Como se proteger em tempos ultratecnológicos

Entrar na paranoia de que 'a tecnologia é perigosa' é o verdadeiro caminho para o perigo

Dagomir Marquezi
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Você soube pelo grupo de WhatsApp da prima da vizinha do dentista que um homem deixou cair o cartão de crédito no chão de um restaurante enquanto pagava a conta. Como o cartão caiu perto de um fio elétrico, todos os seus dados bancários foram roubados, e ele ficou na miséria.

Entrar nesse pântano de lendas urbanas e dizer que “a tecnologia é perigosa” é o verdadeiro caminho para o perigo. 

Tecnologia é como saúde. Não adianta fugir desse assunto e deixar que o médico cuide de tudo. Cada um de nós precisa cuidar de sua própria saúde. E cada um de nós deve aceitar que a tecnologia avançada vai estar cada vez mais presente em nossa vida. Ela carrega perigos, sem dúvida. Mas a melhor forma de combater esses perigos é saber se defender deles.

Aqui vão alguns temas relacionados com internet e segurança. Primeiro, pensando em formas de defender nossos celulares e computadores. E, com isso, proteger informações vitais, como nossos dados pessoais e bancários. Depois vamos ver como aplicativos podem nos proteger dos perigos da vida moderna. 

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Começando pelo começo: as senhas

Nick Berry, consultor de tecnologia da Data Genetics, com sede em Seattle, nos Estados Unidos, fez um levantamento estatístico de senhas de quatro dígitos já invalidadas em bancos, celulares etc. E descobriu alguns dados interessantes. 

A combinação de quatro dígitos (com os quais conseguimos entrar em nossos celulares) gera 10 mil possíveis combinações. 

Pois quase 11% de todas as senhas pesquisadas eram “1234”. Em segundo lugar vinha “1111”, com 6%. Em terceiro lugar, com menos de 2%, vinha o clássico “0000”. 

Nick Berry calculou que, das 10 mil combinações, um criminoso que usasse apenas 20 delas teria a chance de invadir 27% dos sistemas. Mais de um quarto dos sites e contas bancárias estaria à disposição de hackers preguiçosos que tentassem apenas os clássicos “0000”, “1111”, “2222”, “3333” etc.

Mesmo entre as senhas de seis dígitos, segundo levantamento da empresa SplashData, a campeã era “123456”. E, quando o sistema pedia uma password (que quer dizer “senha”) com letras, a senha mais escolhida era… “password”. Assim não há sistema que se defenda. É o caso do usuário que coloca como senha do banco “1981”. Aí perde a carteira que contém o cartão de débito e a carta de motorista — que informa que ele nasceu em… adivinhe que ano.

Assim fica difícil reclamar da tecnologia e desejar um retorno aos tempos em que a gente levava maços de dinheiro no bolso para as agências bancárias. Esse tempo acabou. Vamos em frente.

Ilustração: Shutterstock

Existem vários aplicativos que geram automaticamente senhas mais complexas. E você não precisa decorar essas senhas, elas são guardadas e utilizadas automaticamente. Várias empresas oferecem esse serviço, além do Google: LastPass, Avast, Norton, 1Password, Delinea, Bitwarden, NordPass etc. Em vez de decorar muitas senhas complexas, você decora apenas a senha de um desses aplicativos. O Bitwarden, por exemplo, é capaz de gerar senhas de 128 caracteres. Para quebrar uma senha dessas são necessários séculos.

Tranca múltipla

Seu computador, suas contas e programas podem ter várias trancas, e não dependerem só de quatro algarismos. Um exemplo disso são os chamados authenticators, como os do Google e da Microsoft. Eles exigem uma confirmação de que você quer entrar num programa ou aplicativo. Para tornar essa entrada mais difícil, usam mais de um terminal.

Não dependa de senhas numéricas. Explore todas as possibilidades de segurança — impressão digital, reconhecimento facial, desenho na tela, o que estiver à disposição

Em outras palavras: se você está no seu computador e quer entrar na sua conta bancária, o authenticator vai pedir uma confirmação no seu celular. E vice-versa. Isso dificulta a realização de golpes, pois o golpista tem que invadir dois sistemas diferentes. 

O segurança do banco

As fintechs (como C6, Inter e Nubank) ignoram meios analógicos de pagamento, como notas e cheques. Movimentação bancária hoje se faz apenas teclando números e letras. Se você não está acostumado, pode parecer assustador abrir uma conta de casa, pelo celular. O aplicativo pede seus dados, fotos de seus documentos e imagens de seu rosto em vários ângulos. E, no entanto, esse é o novo normal. Funciona para milhões de clientes.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Fintechs não precisam de agências, frotas de motoboys, exércitos de caixas e seguranças. Podem concentrar todo o investimento em aplicativos cada vez mais seguros. É por meio do aplicativo que todas as ações são feitas, todos os movimentos são registrados e toda a comunicação funciona.

Para a sua segurança, esqueça o telefone. Não se arrisque a receber a comunicação de um bandido disfarçado de “subgerente” que pede segredos de sua conta numa conversa mole. Em matéria de banco, use apenas os meios de comunicação disponibilizados pelo aplicativo. No máximo, utilize uma conta de WhatsApp direta com seu gerente, desde que a identidade dele esteja confirmada.

Não dependa de senhas numéricas. Explore todas as possibilidades de segurança — impressão digital, reconhecimento facial, desenho na tela, o que estiver à disposição. Use todos esses sistemas ao mesmo tempo.

Eu sei onde você está

Qualquer um pode “desaparecer”. A pessoa sofre um acidente, fica inconsciente, vai para um hospital. Ou, por alguma condição médica, perde a memória. São possibilidades reais, que podem gerar longos pesadelos para quem cuida dessa pessoa.

Hoje, os usuários podem dividir permanentemente suas localizações com outras pessoas. Isso pode gerar redes de vigilância dentro de uma família, por exemplo. Ou coordenar amigos que estão viajando juntos. Ou os membros de uma equipe de trabalho que precisam se deslocar coordenadamente.

Ilustração: Divulgação/Google Maps

É um instrumento poderoso — e que pode gerar problemas. Como o excesso de controle em relações pessoais. Ou uma crise de ciúme que acabe com um relacionamento. 

A opção pelo compartilhamento precisa ser pensada nas suas consequências antes de ser utilizada. Deve seguir regras com as quais todos concordem. O instrumento mais simples e mais popular de geolocalização é o Google Maps, em que é possível controlar o tempo de duração desse compartilhamento.

De olho nas crianças

O aplicativo Find my Kids foi criado especificamente para pais controlarem seus filhos através do celular. Os pais não ficam sabendo somente onde os filhos estão. Se a criança colocar o celular no silencioso, é possível mandar um sinal sonoro escandaloso para que não haja dúvida de que é urgente que ela atenda.

Foto: Reprodução/Find my Kids

E se mesmo assim seu filho não atender? Com outro comando, você pode ouvir sem pedir licença o que está acontecendo ao redor dele. Vai saber quando ele chegou em casa e até o tempo que passou jogando games.

Tudo isso pode representar uma espécie de tornozeleira eletrônica para seu filho. Se for usado como instrumento de controle tirânico, não vai ser nada saudável para o estado emocional dele e para o relacionamento com os pais. Antes de começar a usar esse tipo de aplicativo, é bom ter um diálogo aberto com os filhos para que as duas partes conheçam bem seu funcionamento. E o transformem num instrumento racional de segurança, e não numa prisão remota.

Emergência médica

Você está na rua. Teve algum problema médico. Desmaiou antes de conseguir se comunicar com qualquer pessoa. Alguém chamou o Samu. Agora você está numa ambulância, e dois atendentes olham para você sem saber por onde começar.

Alguns aplicativos médicos possuem a capacidade de aparecer na tela, mesmo que seu celular esteja bloqueado. O Medical ID, por exemplo, exibe um aviso na tela que diz “em caso de emergência, pressione aqui para informações médicas e contatos de emergência”.

Interface do aplicativo Medical ID | Foto: Shutterstock

Você registra seus dados vitais mais básicos nesses aplicativos: data de nascimento, altura, peso, tipo sanguíneo, problemas recorrentes (como pressão alta e asma), alergias, medicações de uso contínuo, telefones de emergência, o contato do seu médico, plano de saúde etc. O My Health Records permite ainda mais recursos, como anexar radiografias, testes de laboratório, vacinas tomadas etc. 

Os atendentes do Samu e o pessoal do pronto-socorro agradecem.

Leia também “A internet sem fronteiras de Elon Musk”

6 comentários
  1. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Ótimos pontos.

  2. Antonio Carlos Neves
    Antonio Carlos Neves

    Gostei Dagomir, difícil é aos 78 anos decorar tudo isso.

  3. Maria Antonieta de Andrade
    Maria Antonieta de Andrade

    Ótimas dicas!!!

  4. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Tá difícil pra velho como eu, ainda bem que tô partindo pra conviver só com almas. Espero que não tenha muito sebo por lá

  5. Jenielson Sousa Lopes
    Jenielson Sousa Lopes

    Tenho a curiosidade de saber quantos assinantes tem a revista Oeste

    1. Valeria Minchillo Coura
      Valeria Minchillo Coura

      Muito interessante

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