— Tive uma ideia genial pra equilibrar as nossas contas.
— Opa! Isso é fundamental. Qual é a ideia?
— Vocês vão dar mais dinheiro pra mim.
— Espera aí! Que equilíbrio é esse?
— É o equilíbrio mais moderno que já existiu. Totalmente inovador. Daí o seu estranhamento inicial.
— Explica essa mágica.
— Não é mágica. É ciência.
— Certo. E qual é o princípio científico dessa forma inovadora de equilíbrio fiscal?
— É simples e genial. Com o aumento das contribuições de vocês, eu vou enriquecer. E vou ser um rico mão-aberta, que vai melhorar a vida de todos.
— Contribuições? Então nós podemos optar entre participar e não participar do seu plano?
— Não. A participação é obrigatória e a contribuição é compulsória.
— Não haveria um paradoxo nisso aí?
— Depende do ponto de vista. A minha administração está justamente escolhendo ver as coisas pelo lado bom. Isso muda o mundo.
— Mas como você vai fazer pra conseguir que todos vejam as coisas pelo lado bom?
— Já resolvi isso. Nomeei um amigo meu pra chefiar o setor de estatística. É um grande coreógrafo.
— Coreógrafo? Não entendi.
— Não se preocupe. Inovações muito arrojadas suscitam dúvidas mesmo. Não é um problema cognitivo seu.
— Que bom. Fico mais tranquilo. E como será essa coreografia?
— Os números não mentem. Mas se movem, se transformam, enfim, os números são organismos vivos que respiram, crescem e dançam. Nós só vamos fazer com que eles dancem conforme a música.
— Qual é a música?
— É a música do otimismo, da beleza e do amor. Sempre que os números ficarem com cara feia nós lhes daremos injeções de plasticidade e alto-astral. É a estatística contra a onda de ódio.
— Incrível. Nunca tinha ouvido falar nessa modalidade.
— A ciência evoluiu muito nos últimos meses. Os contribuintes estão chocados com a nossa inventividade.
— É chocante mesmo.
— Você ainda não viu nada. Com o melhoramento genético dos números da economia, teremos um novo ciclo de fartura.
— Agora me perdi. É coreografia ou genética?
— De acordo com a ciência moderna, dá praticamente no mesmo.
— Ah, tá. E como vai ser esse ciclo de fartura?
— Vai ser uma delícia. Eu vou poder gastar mais, sem aqueles limites reacionários impostos por administrações anteriores.
— Mas o aumento do gasto não compromete o equilíbrio das contas?
— A sua cabeça está velha, amigo. Com todo o respeito. Nas novíssimas doutrinas econométricas, quanto mais gasto, mais equilíbrio.
— Impressionante.
— Eu também me impressionei no início. Agora já estou acostumado. Inclusive porque, pra gastar mais, a gente se acostuma rápido.
— “A gente”?
— A gente, que eu digo, eu. A modéstia sempre me empurra para o plural.
— Então vê se eu entendi a ideia geral: nós vamos dar mais dinheiro pra você, você vai gastar mais e nós ficaremos todos equilibrados e felizes. É isso?
— Quase isso. Só faltou um ponto.
— Qual?
— Como vai ter dinheiro sobrando, vocês vão reconstruir a vida dos meus amigos ricos que perderam tudo na jogatina.
— Acho justo. Felicidade gera solidariedade.
— Que bom que você entendeu.
Leia também “O funeral da virtude”
A classe acadêmica, que teve sua mente pasteurizada, chama a destruição do Brasil de transição, ela está em curso, só falta destruir ao agro, a coluna econômica que impediu até agora, que essa tragédia fosse concretizada,
Será que o povo acordará a tempo?
Quando acordar, o estrago será grande. haverá suor e lágrimas para todos!
Antigamente cortavam-se os zeros, destruiram o poder da moeda, agora, o neo escravagismo, reduz ao máximo as possibilidades de ORDEM e PROGRESSO e o mantra é vassalagem !
RETROCESSO !
Fiuza, o assunto é muito sério mas com suas ironias só consigo rir quando deveria estar chorando pela iminente destruição do país.
Por que o resto da imprensa ignora isso?
Já me sinto muito feliz e satisfeito em participar compulsoriamente desse belo empreendimento! Por que os governos passados não pensaram nisso?
A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia.Humberto Castello Branco
Genial!
Grande Fiúza!
Inteligente e sarcástico!
Extremamente criativo esse artigo. Gostei demais. Parabéns Fiuza.
Revolução dos bichos
Sempre bom!
Adorei o texto! Parabéns, Fiúza! Agora consegui entender onde chegaremos com este arcabouço fiscal!!! Rsrsrs! Sem brincadeiras: seu texto é Inteligentíssimo e sua ironia é rara! Parabéns!
” você não terá nada e será feliz” agenda 2030
Como sempre, perfeito!
Texto maravilhoso como sempre.
Fantástico texto. Típico Fiuza. Como nos tempos das receitas caseiras.
Fiuza é o lieterato
O danado do Fiuza é metafórico parabólica de raio tangencial e oblíquo, que fi dunha égua homi!!!
Um texto muito preciso e certeiro de Fiuza, que através de um diálogo ironiza o governo que se diz moderno, mas com práticas descompassadas com a atualidade. O arroubo está na gastança sem qualquer escrúpulo e sem medir consequências perigosas para a economia ao ignorar medidas de contenção de gastos. Deduz-se também um leve toque, que Fiuza dá, ao expor as vísceras podres do regime, onde faltam as garantias de liberdades individuais, coletivas e de comunicação regidas pela voz do abuso de poder.
sensacional artigo Fiuza !! esses imbecis acham que estão nos enganando sem que percebamos ! quem não sabe que esse “ARCA BOLSO”
vai custar caro pra nós brasileiros