Usina de desencantos

Lula sugeriu voto secreto no Supremo e agora fez uma quase secreta posse tripla de ministros. A portas fechadas em seu gabinete, deu posse ao ministro Fufuca no Esporte, ao Ministro Silvinho no Portos e Aeroportos e ao ministro Márcio França no Micro. O que parecia fofoca sobre a posse de Fufuca se confirmou: Ana Moser não foi entregar o cargo. A saída de Ana Moser desagradou o PT e, principalmente, a senhora Janja. A entrada de Silvinho não fez o Republicanos aderir ao governo; o partido explicitou isso. E desagradou o PSB do vice Alckmin. A foto da posse é eloquente: Lula, Fufuca e Silvinho estão com polegares para cima; Márcio França, com as mãos para trás. E a entrada de Fufuca fez o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira, lembrar que ele deve deixar a direção do partido no Maranhão. E o Progressistas quer mais. Espera a Fundação da Saúde, a presidência da Caixa e a Diretoria de Habitação, que o PT não quer largar. Como se vê, distribuir ministérios a partidos, em troca de apoio, pode acumular insatisfações mais que votos. Bolsonaro não fez isso e não teve essa incomodação.

Lula passou rápido por Brasília e tomou o rumo de Cuba e Nova York. Será que tantas viagens ao exterior dão um alívio a ele? Ou à distância ele fica remoendo problemas que cada vez ficam mais intrincados? Na Índia, as dores no quadril não o deixaram, e agora Lula tem problema até dentro do próprio Palácio do Planalto, com o ex-deputado Jean Wyllys, trazido pela primeira-dama e lotado na Secom do ministro Paulo Pimenta. Previsível que não daria certo. O ex-BBB chamou seu chefe de mau-caráter, criticou o governador do Rio Grande do Sul, falou em gado do PT e declarou que, se não puder apontar os equívocos do próprio Lula, não quer ficar. Lula, ao tirar a petista Ana Moser, provocou queixa de Janja nas redes sociais. Vai ter que mexer com o Jean Wyllys e ficar entre a cruz de Paulo Pimenta e a espada de Janja.

Na Esplanada, as mexidas no Ministério desagradaram petistas, socialistas, progressistas e republicanos. O União Brasil teve direito a posse palaciana festiva do ministro do Turismo, Celso Sabino, mas progressistas e republicanos tiveram posse quase secreta. O União Brasil, no caso de Juscelino Filho, tem o Ministério das Comunicações, e Lula, que na primeira reunião ministerial prometeu que “quem estiver errado só tem um jeito, ser convidado a sair”, nada faz diante do bloqueio de bens do ministro, em razão de emenda em favor da irmã prefeita, além dos casos conhecidos do asfalto, do leilão de cavalos e do uso de jatinho da FAB. É que o ministério é do União Brasil. 

Na eleição de outubro, a centro-direita ficou com maioria ampla na Câmara e no Senado, mas Lula trata de oferecer ministérios e liberar emendas para fazê-la esquecer a vontade dos eleitores, que devem estar se sentindo traídos. Por sua vez, os que elegeram Lula para governar não votaram no centrão, que está assumindo lugares que eram do PT e do aliado PSB. Os três deputados que assumiram ministérios também devem ter provocado sentimentos de traição nos milhares de mandantes que os escolheram como seus representantes na Câmara. Os três jovens deputados decidiram ter Lula como mandante único e deram as costas para seus eleitores, enfraquecendo a chance de reeleição. Uma usina de desencantos.

Lula vai para o exterior e fica longe desses problemas. Mas, distante, parece saudoso deles e cria mais alguns, como o convite a Putin e o desprezo ao Tribunal Penal Internacional e aos 123 “bagrinhos” — os países que fazem parte do Tratado de Roma. O presidente, se tivesse lido a Constituição que jurou cumprir, encontraria o tribunal citado no parágrafo 4º do artigo 5º. Se estivesse com boa memória, lembraria da juíza brasileira que indicou para aquele tribunal. Quando voltar de Cuba e Nova York, os problemas políticos que foram criados por ele próprio estarão à sua espera. E também os da economia, gerados pelo excesso de gastos e pela queda na arrecadação, num país em que a insegurança jurídica se avoluma tanto quanto as despesas do Estado. 

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