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Foto: Montagem Revista Oeste/Lana Sham/Shutterstock
Edição 199

A revolta contra o capitalismo woke

Bud Light perdeu o posto de cerveja mais vendida nos EUA depois de 20 anos por causa de campanhas 'progressistas'

Joanna Williams, da Spiked
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O ano de 2023 foi uma série de golpes impressionantes contra o capitalismo woke e a irritante tendência das empresas da atualidade de passar sermão em pessoas comuns sobre “justiça social”, mudanças climáticas e outras causas pseudoprogressistas. De longe, o golpe mais impressionante foi o boicote à cerveja Bud Light.

Tudo começou quando Alissa Heinerscheid, então vice-presidente de marketing da Bud Light, supervisionou a contratação de Dylan Mulvaney, influenciador do TikTok e imitador de mulher, como o novo rosto da marca de cerveja de baixo teor calórico. Em um vídeo das redes sociais que viralizou rapidamente, Mulvaney segura uma lata personalizada de Bud Light criada para celebrar o aniversário de sua transição de gênero.

A reação dos consumidores foi rápida e impiedosa. Em apenas duas semanas, as vendas da Bud Light caíram 17% em relação ao ano anterior e, em poucos meses, ela deixou de ser a cerveja mais vendida nos Estados Unidos — posição que ocupava havia 20 anos. Apesar da saída de Heinerscheid e de um novo posicionamento da marca, as vendas continuam caindo.

Dylan Mulvaney | Foto: Lev Ravin/Shutterstock

A Bud Light não foi a única atingida. Em 2023, várias empresas descobriram que o meme que diz que “o woke é um péssimo negócio” é real. Em 2021, a Victoria’s Secret passou por uma grande reformulação woke. Suas campanhas de marketing inspiradas na diversidade começaram a trazer modelos plus size, mulheres com deficiência, refugiadas e, claro, mulheres trans de roupa íntima. Mas no ano passado, com perdas projetadas de quase 1 bilhão de libras, a marca foi forçada a abandonar as mensagens politicamente corretas e prometeu trazer o “sexy” de volta para seu marketing.

Quando aqueles que estão no comando das finanças da nação parecem mais preocupados com sentimentos ofendidos do que com produtividade econômica, sabemos que o capitalismo woke continua em ascensão

Da mesma forma, depois das reações negativas de consumidores e investidores, o conglomerado de bens de consumo Unilever prometeu reduzir suas demonstrações de virtude vazias. O novo CEO da Unilever anunciou em outubro que as centenas de marcas do grupo — do sabonete Dove à maionese Hellmann’s — não vão mais exaltar nenhum propósito social ou ambiental falso.

Até o Black Lives Matter (BLM) caiu em desgraça entre as corporações em 2023, apenas alguns anos depois de o apoio ao movimento se tornar obrigatório para executivos woke. Várias subdivisões do BLM nos Estados Unidos manifestaram apoio ao Hamas depois do brutal ataque do grupo terrorista contra Israel, provocando uma grande indignação pública. Pouco tempo depois, a Coca-Cola discretamente retirou toda menção a doações passadas ao Black Lives Matter de seu site.

Imagem da publicação no X do movimento Black Lives Matter de Chicago, Estados Unidos, em apoio ao Hamas | Foto: Reprodução/X

O ano passado mostrou que as empresas vão controlar as ostensivas demonstrações de virtude se os consumidores furiosos se fizerem ouvir. Isso é bem-vindo. Mas como argumentei em outra edição da Spiked no começo de 2023, o capitalismo woke sempre foi mais do que apenas um exercício de posicionamento de marca. O pensamento woke está agora completamente enraizado não apenas nas grandes redes de varejo dos EUA, mas em todas as partes de nosso sistema econômico.

Vemos isso nos bancos, que tentaram negar serviços financeiros a clientes “problemáticos” como Nigel Farage. Também vemos isso nas principais agências econômicas estatais, como o Banco da Inglaterra e o Tesouro do Reino Unido, inundadas por iniciativas de diversidade. No início do mês passado, veio à tona o pedido para que os funcionários do Tesouro incluíssem uma gravação de áudio do próprio nome nas assinaturas de e-mail, presumivelmente acompanhado de seu pronome de preferência. “Quando os nomes são pronunciados incorretamente repetidas vezes, isso pode fazer as pessoas se sentirem invisibilizadas”, disseram os economistas do Tesouro. Essa mensagem foi aprovada por alguém chamado Sam, cuja gravação confirmou que seu nome rima com “ham”. Quando aqueles que estão no comando das finanças da nação parecem mais preocupados com sentimentos ofendidos do que com produtividade econômica, sabemos que o capitalismo woke continua em ascensão.

Atualmente, muitos executivos parecem se importar menos com gerar valor para os acionistas do que com atingir metas de sustentabilidade ou subir nas classificações do índice de igualdade no local de trabalho da Stonewall. Muitas grandes empresas estão inscritas em esquemas como o B Corp, que certifica corporações como “líderes no movimento global por uma economia inclusiva, equitativa e regenerativa”. Esses esquemas não têm nada a ver com aumentar a receita e têm tudo a ver com as empresas se exibirem no palco global. No fim das contas, tudo o que eles fazem é recompensar empresas que têm tempo e recursos para preencher a papelada necessária.

Cada vez mais, os trabalhadores também são forçados a aceitar valores woke. Na verdade, iniciativas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) são uma ferramenta ideal para disciplinar os trabalhadores. As autoridades de DEI conseguem até influenciar a vida pessoal dos funcionários por meio de treinamentos sobre preconceito e outras intervenções politizadas no local de trabalho. Com muita frequência, as ideias woke são uma forma de os gerentes colocarem os trabalhadores na linha, muitas vezes com a bênção dos sindicatos.

Mas a função mais importante que o woke desempenha no capitalismo é proporcionar uma sensação de propósito moral a empresas e executivos. Aqueles que se sentem desconfortáveis com o lucro como um fim em si mesmo agora podem se considerar cruzados pela justiça social. Em 2023, foi ótimo ver as empresas sendo forçadas a fazer grandes reviravoltas. Os consumidores estão votando com a carteira e não podem ser ignorados. Mas os valores woke se tornaram tão fundamentais para o funcionamento do capitalismo hoje que boicotes de consumidores só conseguem arranhar a superfície. Precisamos de uma mudança política radical se realmente quisermos colocar os capitalistas woke na linha.

Ilustração: Roman Samborskyi/Shutterstock

Joanna Williams é colunista da Spiked e autora de How Woke Won (2022).

Leia também “Por que os jovens se solidarizam com o Hamas?”

4 comentários
  1. MB
    MB

    Isso aí.????????????

  2. RODRIGO DE SOUZA COSTA
    RODRIGO DE SOUZA COSTA

    O movimento Woke ainda causar muitos danos em logo prazo. Ele nasceu para criar divisões na sociedade e evitar que avanços sejam concretizados. No Brasil está servindo para muitas coisas, manter a oligarquia no poder e diminuir os benefícios para a população. Maldito seja movimento Woke.

  3. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Pra o capitalista pode ser woke ou não, o objetivo é o money. Nada disso importa, nem são regras, o mercado é quem direciona

  4. Ricardo Gouveia Vitale
    Ricardo Gouveia Vitale

    ÓTIMO!
    O melhor instrumento de inclusão social é o lucro (honesto) como objetivo número um!
    Quanto mais ricas as corporações, mais ricos os empregados, os governos (sócios que não trabalham, e só sugam) e mais ricas as cadeias de fornecedores e clientes.
    Com lucro e dinheiro sobrando, estimulam-se os estudos, a meritocracia e o respeito. Isso faz uma sociedade mais justa, e ninguém precisa divulgar suas opções sexuais. Basta produzir.

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