É uma ópera-bufa, uma pornochanchada ou um filme de terror? Fiquei na dúvida de qual analogia utilizar no título, pois creio se tratar de uma mistura dos três estilos distintos. Tem um pouco de tudo. Ou muito de cada coisa. O Brasil não é para amadores, dizem. E não é um país sério, sabia Charles de Gaulle.
Toda essa narrativa de que Bolsonaro tramou um golpe de Estado, editada com muito empenho pela assessoria de imprensa do sistema, a velha mídia, não tem sido suficiente para convencer o povo, segundo pesquisas. O motivo talvez esteja na memória dos acontecimentos recentes, que dão o contexto da tal reunião com “dinâmica golpista”.
Fernão Lara Mesquita, um dos poucos jornalistas que ainda fazem análises independentes e corajosas no país, gravou um vídeo chamado “Um país em frangalhos”, em que resgata a cronologia dos fatos até a fatídica reunião “golpista”, que a imprensa apresentou como “prova” das tramas antidemocráticas do ex-presidente. Quem acompanha os quase 30 minutos do vídeo jamais pode cair na ladainha midiática, pois entende perfeitamente de onde veio o verdadeiro golpe.
A tese de que Bolsonaro, louco pelo poder, reuniu seus ministros do nada para tentar “virar a mesa” e evitar sua saída iminente do governo no caso de uma derrota eleitoral não se sustenta nem por dois minutos de reflexão. Fernão começa a sequência dos fatos em 29 de setembro de 2009, com a minirreforma eleitoral. O Congresso Nacional aprova o uso do voto impresso acoplado às urnas, com relatoria de Flávio Dino na CCJ. O tema já era debatido na política havia anos, com apoio da esquerda e da direita, e a maioria das democracias modernas utiliza modelo semelhante.
Em 2012, a ministra Cármen Lúcia alega que custaria muito caro utilizar esse modelo já para 2014. O “caro” era coisa de R$ 1 bilhão, troco em Brasília. Em 2015, a Casa do Povo vota novamente a aprovação dessa ferramenta de segurança no processo eleitoral. A presidente Dilma veta a medida, e o Congresso derruba o veto com ampla maioria. O Brasil não quer mais ficar ao lado de Butão e Bangladesh com modelos sem transparência. Mas a alegria dos patriotas dura pouco.
Enquanto isso, o então candidato Jair Bolsonaro leva uma facada quase fatal de um militante esquerdista ligado ao Psol. Advogados caríssimos pegam jatos para defender Adélio Bispo, mas o sistema não permite uma investigação mais detalhada sobre o caso. A narrativa oficial é de que foi um louco solitário, sem hierarquia alguma, sem mandante do crime. Os mesmos que ficaram anos perguntando quem mandou matar Marielle — e, quando descobriram, perderam o interesse — nunca questionaram quem mandou matar Bolsonaro. Faltava curiosidade?
Em março de 2019, Dias Toffoli instala o “inquérito do fim do mundo” e, sem sorteio, coloca a relatoria sob o comando de Alexandre de Moraes. O pretexto era investigar “ataques” aos ministros supremos e seus familiares. O inquérito elástico corre em sigilo desde então, e cabe tudo lá dentro. Buscas e apreensões são autorizadas, prisões arbitrárias são efetuadas, censura a jornalistas é imposta.
Em junho de 2019, surge a “Vaza Jato”, divulgada pelo esquerdista The Intercept com base em conversas de integrantes da Lava Jato obtidas de forma criminosa por hackers. Em novembro do mesmo ano, o STF decide por um voto desfazer sua própria decisão de prender condenados em segunda instância, evidentemente sob medida para beneficiar Lula. O voto de desempate vem do mesmo Toffoli, que havia sido advogado do PT.
A partir daí, segundo Fernão, tudo começa a degringolar mais rápido. O ministro Barroso resolve impedir a dissolução dos “conselhos” pelo presidente Bolsonaro. Como todos sabem, esses “soviets” são os instrumentos utilizados pelo PT para aparelhar com seus “movimentos sociais” todas as instituições. O poder passa a ser usurpado do Congresso e do Executivo. Demitidos dos conselhos eram restituídos em seus cargos por decisões do STF.
Em abril de 2020, Moraes proíbe a nomeação de Ramagem como diretor-geral da PF, ferindo uma prerrogativa básica do presidente. Muitos consideram este o ponto de inflexão, mas a decisão já veio num rastro de arbítrio
Em 8 de novembro de 2019, um juiz de uma vara de Curitiba manda soltar Lula, com base em decisão do STF. A roubalheira toda flagrada na Lava Jato basicamente deixava de existir juridicamente, estava “anulada”, sob o pretexto de conversas pouco republicanas entre o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sergio Moro. O único juiz suspeito do Brasil seria aquele que prendeu Lula, sendo que outros nove juízes atestaram seus crimes, com “provas sobradas”. Mais à frente, Fachin, que havia sido garoto-propanda de Dilma e é simpatizante do MST, faz um malabarismo e, com base no CEP do julgamento, anula o processo contra Lula e o torna elegível. “Você não deve mais nada à Justiça”, diz William Bonner na Globo ao “sabatinar” o então candidato Lula.
Neste momento, não há mais um Poder Judiciário efetivo, pois uma decisão monocrática anula a decisão de todo o processo legal. É algo mais parecido com uma monarquia absolutista, impondo o fim dos Três Poderes independentes. Fernão Lara Mesquita lembra que este foi o modelo do golpe venezuelano: tomar de assalto a Suprema Corte e transformá-la em instrumento de poder pelo Foro de São Paulo.
Aí chega a pandemia, em março de 2020. Foi um acelerador do processo totalitário. O país já estava desprovido do mecanismo de freios e contrapesos. A pandemia fornece o pretexto para que o sistema passe a confrontar Bolsonaro de forma bem mais direta, sem qualquer necessidade de sutileza. Inúmeras decisões supremas retiram poderes do governo Bolsonaro, e uma perseguição implacável tem início.
Em abril de 2020, Alexandre de Moraes proíbe a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal, ferindo uma prerrogativa básica do presidente. Muitos consideram este o ponto de inflexão rumo ao abuso total de poder pelo STF, mas a decisão já veio num rastro de arbítrio. As decisões supremas em provocações contra o governo passam a ocorrer de forma bem mais célere.
Bolsonaro é até incluído no tal inquérito ilegal das fake news, tudo porque o presidente havia mostrado provas de que os sistemas eleitorais, “invioláveis”, sofreram invasões. Alegam que Bolsonaro não é capaz de provar fraudes, mas seu ponto sempre havia sido este: no modelo atual é impossível provar a fraude, como os especialistas contratados pelo PSDB em 2014 descobriram.
Em agosto de 2021, o voto impresso vai novamente ao Congresso e ganha. Mas Barroso, com ativismo escancarado, consegue impedir um quórum mínimo necessário, criado justamente para barrar o projeto. Barroso chega a se vangloriar de ter sido o responsável por enterrar esse “retrocesso”. Mais à frente ele diria a comunistas da UNE: “Nós derrotamos o bolsonarismo”.
Foi nesse contexto, sintetizado aqui, que a tal reunião “golpista” ocorreu, com falas de Bolsonaro que deixam clara a sua intenção de impedir qualquer violência no país. A preocupação com as eleições se mostrou totalmente legítima, quando lembramos a postura partidária do TSE, impedindo o uso de imagens do 7 de Setembro pela campanha bolsonarista, assim como sua visita ao Reino Unido ou mesmo lives do Palácio, sua residência oficial. Enquanto isso, o mesmo TSE proibia a imprensa e Bolsonaro de lembrarem dos elos evidentes e históricos de Lula com ditadores comunistas, enquanto intimidava o principal canal mais independente, a Jovem Pan, com claras ameaças. Os comentaristas sequer poderiam usar o termo “descondenado” para se referir ao “ladrão que queria voltar à cena do crime”, como diria Alckmin.
Esse é apenas um resumo da cronologia até aqui. Daria para acrescentar muito mais coisas. Mas qualquer pessoa minimamente honesta, capaz de deixar sua eventual antipatia pela pessoa de Bolsonaro de lado, consegue perceber de onde veio o golpe de fato. É ou não o roteiro de uma ópera-bufa?
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O Fernão é fantástico. De uma clareza absoluta. Perfeita redação cujos detalhesmais sutis podem ser perfeitamente notados nas entrelinhas do conteúdo.
Acredito que esse artigo é histórico. Quem tiver impressora, tenha-o em papel. Pela escalada autoritária que vivemos, permitida bovinamente pelos homens da lei, logo será banido.
No longínquo século 19, Machado de Assis, monarquista convicto já alertava para o perigo do movimento republicano que vicejava naqueles tempos, escreveu um artigo em um jornal carioca, que alertava para o perigo que a república representava: a tomada de poder para as oligarquias. Quem tiver paciência para procurar pela verdadeira história do Brasil, verá que a proclamação da República (1889) não passou de um golpe militar, o 1º de uma série de três. Sendo o 2° em 1968, com a instauração do Ato Institucional n°5 e agora com o golpe de Estado que empossou Lula em 2022. Todos tendo o Exército como o executor. Cabe uma ressalva com relação ao de 68, pois a contrarrevolução de 1964 foi necessária, mas o AI-5, trouxe a censura generalizada, o que, sob o pretexto de combater os subversivos, impôs um regime duro que limitou a liberdade de expressão de todos.
A grande verdade é que hoje as oligarquias escancaram sua criminalidade sem nenhum pudor. Bastou um corpo estranho ao sistema (Bolsonaro) ameaçar a estabilidade cleptocrata, para a sacanagem despudorada tomar conta de todo o establishment.
Excelente análise!
O áudio do Fernão merece um grande destaque jornalístico e ampla divulgação, pela seriedade e dedicação, lucidez e coragem. Infelizmente, o Brasil atualmente tem muito povo que não escutariá até o final, mais povo disposto a não se interessar, e mais ainda se acomodando com os restos da LIBERDADE. Eu, não sou de desistir, e aos 69 anos sempre acreditei na Democracia e no país, mas atualmente confesso que estou vendo tudo desabar em torno, e apesar de manter minha FÉ, percebo claramente que tudo que o Mesquita fala é uma verdade satânica. Pela primeira vez, e passei momentos bem difíceis na minha existência, me encontro perguntando até onde vou suportar. A angústia, a preocupação, o asco. Pela primeira vez. Porque REALMENTE é imundície demais.
Obrigado Constantino! Você é capaz de liderar um movimento para a obrigatoriedade do voto impresso nas próximas eleições. Nossa gratidão será eterna.
Constantino, parabéns, acompanho o Fernão Lara Mesquita, jornalista de primeira linha, muito inteligente, com uma visão de mundo fantástica! Você soube dar ao publico da Oeste, um resumo isento, muito antes de Bolsonaro se candidatar! Chegou a hora de acordarmos! Hoje foi com o Militar, ontem o Pastor, amanha o vizinho, quando precisar de ajuda, não haverá mais ninguem! Para quem conhece a historia isso eh de arrepiar!
É muito mais do que isso, mas “os dias não sabem o que só os anos conhecem”!
Haverá um ponto de inflexão e o STF entregará a cabeça de Alexandre de Moraes no momento que as suas atitudes ditatoriais, ilegais, inconstitucionais e perversas afetar em um grau muito significativo a imagem da instituição supremo tribunal federal. É questão de tempo! Nada é eterno!
Constantino, não teria sido do PSDB o planejamento desse plano antidemocrático? Como pode não ter defendido o voto impresso em 2022, quando em 2014 o defenderam? A esquerda não teria tanta força para esse planejamento mesmo tendo boa parte do STF em suas mãos. Seguramente a Carta pela Democracia teve a mão das celebridades juridicas tucanas, assim como indicar o vice para Lula, não defender o voto impresso, unir a imprensa tradicional tucana ao Consorcio da Imprensa para desavergonhadamente fazer o “L”.
Essa foi a cambada que admirei no passado como tucano desde a fundação do partido até 2019 ano que se revelaram esses maus caráter e inúteis.
Acredito que tenha sido de José Dirceu e ele avisou! “Nós vamos tomar o poder, o que é diferente de ganhar a eleição” e o sinistro barroso confirmou “eleição agente não ganha, agente toma”. Mais recentemente o José Dirceu falou sobre o plano do PT para 2024. Eleger prefeitos e vereadores em grande quantidade para ter uma base política representativa para a reeleição de lula e 2026. Depois a intenção e se perpetuarem no poder. Para isso querem anular a oposição e se possível tirar da jogada o PL e Bolsonaro. Pelo que temos visto, eles vão conseguir!
Acho que Lula passa a faixa para a Janja.Só pela questão da idade. Quem consegue dar emprego, qualquer emprego, à Dilma, consegue por a faixa presidencial em quem quiser.
Segundo o Estadão e a VEJA (outrora ferrenhos críticos da turma da estrelinha vermelha), foi sim tentativa de golpe. A tal Cantanhêde não pára de papagaiar. Antes eram a Folha… UOL… agora todo mundo entrou na dança. Ou quase todo mundo. A Venezuela é aqui…
Não se engane! O Estadão, que se apequenou e virou “estadinho”, é um veículo de esquerda. Esquerda caviar (PSDB), mas esquerda!
Ótimo resumo da Opera . Foi muito bom fazer este resumo usando a cronologia dos fatos. Tá na cara q tudo ocorreu de forma ilegal e imoral. Uma vergonha!
Excelente resumo e análise da nossa triste realidade! Infelizmente ainda tem muita gente alheia aos fatos atuais.
Todos eles pertencem a mesma quadrilha de desonestos e sem caráter
Parabéns Constantino.
Fernão Lara Mesquita foi inspirado na fala, muito bom você ter colocado em sua coluna assim mais pessoas tem acesso.
Constantino sempre perfeito e cirúrgico no fato, aliás o fato é que parte do povão brasileiro tendo carnaval, samba, cervejinha, churrasco na laje e feriadões gosta de ser enganado. Um outro fato, Constantino citou o valente general Charles de Gaulle que merecia as medalhas penduradas na farda, por ter dito que o Brasil não era um país sério, acrescento….o velho general (aqui com respeito, De Gaulle era conhecido como Le Vieux) disse isso na década de 50/60 imaginem se tivesse conhecido o Brasil hoje, teria palavras???????
Quero ver quando voltará a discussão sobre aprimoramento do sistema de voto. Por parte do congresso.
Nao vai…
muito bom Consta ! valeu a dica, vou ver o vídeo do Fernão
é sim é triste ver esse jogo sujo do petismo e seu parceiro STF !
Parabéns para Consta e Fernão. Cronologia perfeita, com muita clareza dos fatos. O grande golpe quem deu foi o STF ao descondenar o maior corrupto do país e com apoio do TSE elegê-lo PR.
Rodrigo, sempre forte, claro, valente. Estamos em situação desesperadora. Obrigada pelo vídeo do Fernão Lara Mesquita. Não sei mais se é possível recuperar o País.
Está faltando outro golpista na foto acima: Lira e seus processos( e dos fs
Ele deu uma desculpa e faltou à festa dos indecentes.
este é sem sombra de duvidas um resumo do que acontece neste país onde o congresso está acovardado e submisso, apoiando uma minoria de juízes qua ditam as regras ao bom sabor de suas intenções, pobre país onde impera a falta proposital de educação básica que causa a cegueira tão desejada por políticos mal intencionados.
Incrível sua análise! Que bom! Você teve a sensibilidade de resgatar a análise do Fernão. Foi uma pena a Oeste tirá-lo o Oeste sem Filtro. Como você, ele fazia análises dos fato com perfeição.
Uma pergunta que me faço e provavelmente eu seja idiota ou ignorante mas, sabemos que o golpe foi dado por todos eles, o que nos falta para acusá-los do golpe que claramente foi dado pelos ilustríssimos governantes.
Haveria prisões, perseguições, guilhotina, enforcamento, ameaças… tudo isso está em pleno andamento, então cadê o verdadeiro patriotismo? O levante popular parece que não foi feito para os brasileiros, talvez devamos esperar pela próxima, próxima geração e aí o Brasil, talvez terá uma democracia, porque por enquanto estamos em plena escravidão no século XXI.
Agora eu pergunto, tá faltando o que pra laigá-le a espoleta nesses fi de uma égua?
“Você não deve mais nada a justiça” diz Willian Bonner, porta voz da máfia Consórcio dos Veículos da Imprensa”, leia-se Rede Glóbulo. Essa fala equivale ao beija mão na cena final de O Poderoso Chefão quando Michel assume “oficialmente” a chefia, tornando-se o capo de tutti capi. É a sacralização do Capeta. Bonner, o gesto final seria inclinar-se respeitosamente, beijar a mão do Diabo e dizer: Dom Corleone.
Constantino, simplesmente perfeito. Esses são os fatos. Parabéns a você e ao Fernão.
*Revista Oeste – Edição 204* *Parabéns e não abandonem o Brasil*
*Revista Oeste – Edição 204* *Parabéns e não abandonem o Brasil* ????????
Importantíssimo lembrar. Ouso dizer que a humanidade só se salva pela memória.