[Esta é a introdução de Conformity Colleges: The Destruction of Intellectual Creativity and Dissent in America’s Universities, de David R. Barnhizer (Skyhorse Publishing, 2024). Ela ganha nova relevância diante dos eventos em Harvard e do que eles revelam sobre quem ascende e quem cai na hierarquia da elite acadêmica e por quê.]
A covid-19 parece ter sido um ponto de virada, um momento em que as universidades abraçaram completamente a ideologia do controle, da censura e da compulsão, representada por quarentenas universais, uso de máscaras e conformidade com a vacinação, tudo fundamentado em simbolismo em vez de realidades científicas. No entanto, esse período pode ser observado mais corretamente como uma codificação dos problemas profundos que já existiam, como faz o brilhante livro de David Barnhizer.
O expurgo de vozes dissidentes que se opõem à religião progressista/woke começou há muitos anos, se não antes. Já na década de 1950, William F. Buckley Jr. (God and Man at Yale, 1951) observou grandes problemas na Universidade de Yale, que o autor atribuiu à deificação da liberdade intelectual. Mas nem mesmo ele poderia antecipar que essa liberdade era apenas um apelo para a máxima oportunidade de controle total.
Liberdade é a última coisa que você vai encontrar nas instituições de elite hoje em dia. As burocracias ESG [sigla em inglês para ambiental, social e corporativo] e DEI [diversidade, equidade e inclusão] estão profundamente enraizadas, e um currículo anti-Ocidente, anti-Iluminismo e antirrazão permeia toda a elite. Ele é reforçado em todos os níveis, incluindo exigências de publicação, promoção e estabilidade. Em 2019, qualquer pessoa nesse universo que se identificasse como conservadora estava em extrema minoria.
Era preciso ser ao mesmo tempo humilde e destemido, criativo mas governado por regras metodológicas, criativo mas também cumulativo. E desse paradigma nasceu a ideia de ciência. Todos os setores de especialização se beneficiaram dele
A covid-19 criou uma oportunidade para completar o expurgo. Houve três rodadas completas. Começou com quarentenas e confinamentos solitários. Era preciso estar disposto a impô-los, celebrá-los e suportá-los para entrar nos portões do paraíso woke. Houve mais um teste: depois de sair da quarentena, era preciso cobrir o rosto o tempo todo. Para aqueles que passavam nesses dois testes, restava o maior desafio de todos: aceitar a poção do governo no braço, mesmo que, na melhor das hipóteses, ela não fosse necessária ou, na pior, ela colocasse sua vida em risco.
Com o fim desse calvário, o expurgo final de estudantes, professores e administradores estava completo. As vozes não woke que restam estão muito desmoralizadas e com medo de se manifestar. A revolução está completa. O resultado é que a antiga ideia da universidade aparentemente se perdeu quase completamente ou agora pertence a apenas algumas pequenas escolas de artes liberais, mas parece estar ausente nas grandes instituições que costumavam definir o que significa ter uma formação educacional de elite.
Ferocidade doutrinária
A experiência universitária é algo que as pessoas acham que ainda conhecem e valorizam. Isso é um vestígio do passado, uma noção romantizada que tem pouco em comum com a realidade atual.
O conceito medieval da universidade, que decorreu institucionalmente da experiência monástica, era que a verdade final existia como um todo unificado, mas era fugidia para uma compreensão mais ampla, devido à falibilidade da mente humana. O objetivo do trabalho intelectual era descobrir cada vez mais facetas dessa verdade, desvendá-las para que os alunos desenvolvessem uma tradição de pensamento e, gradualmente, reunir sistemas de pensamento que apontassem para essa verdade. Fosse qual fosse a disciplina — matemática, música, lógica, teologia, biologia, medicina —, elas se encontravam em uma confiança de que, se alguma característica da verdade fosse elucidada, ela não poderia e não viveria em contradição com aquela verdade final e universal que era Deus. Essa confiança, essa missão, sublinhava um éthos de investigação e ensino. Era preciso ser ao mesmo tempo humilde e destemido, criativo mas governado por regras metodológicas, criativo mas também cumulativo. E desse paradigma nasceu a ideia de ciência. Todos os setores de especialização se beneficiaram dele.
Com base no que sabemos da história das ideias, em termos amplos, o conceito sobreviveu por muitos séculos no Ocidente até a segunda metade do século 20, quando toda a razão de ser da universidade — e até mesmo da própria erudição — se desvinculou desse entendimento. Com o fim das preocupações transcendentais, da tradição e até das regras da lógica, veio a evaporação do significado e, em seguida, da confiança intelectual, que acabou sendo substituída por uma ferocidade doutrinária abrangente que teria chocado a mente medieval.
‘Go woke, go broke’
Hoje, nem mesmo está claro por que a universidade existe. É um treinamento vocacional? A rigorosidade das certificações profissionais parece dar conta disso na maioria das indústrias. É puramente para a obtenção de conhecimento? A internet disponibiliza isso de graça. Para adiar a vida adulta ao máximo e socializar os alunos em um círculo mais ideal de amigos e contatos? Talvez, mas o que isso tem a ver com a vida intelectual? Ou seria apenas uma sinecura institucional para elites privilegiadas exportarem visões irrestritas de como deveria funcionar uma sociedade da qual não são meros participantes?
Sem dúvida estamos vivendo o declínio e a queda do conceito mais antigo de universidade. Agora podemos também viver para ver o fim da universidade em si e sua substituição por algo completamente diferente. As reformas podem funcionar, mas provavelmente não virão de dentro das instituições. Elas devem ser impostas pelos ex-alunos e talvez pelas legislaturas. Ou talvez a regra “go woke, go broke” [“vire woke, vá à falência”] acabe forçando uma mudança. Independentemente disso, a ideia de aprendizado com certeza vai retornar. Estamos na transição, e David Barnhizer é nosso Virgílio para oferecer um excelente tour pelos destroços deixados e quem sabe até um caminho para sair da escuridão.
Jeffrey Tucker é autor, fundador e presidente do Instituto Brownstone. Ele também é colunista sênior de economia do Epoch Times e autor de dez livros, incluindo Liberty or Lockdown, e de milhares de artigos na imprensa acadêmica e popular. Ele fala amplamente sobre economia, tecnologia, filosofia social e cultura.
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As Universidades surgiram, na Alta Idade Média como fruto de jovens que queriam o saber. Então se reuniam, contratavam um professor de determinada matéria e assim sucessivamente. Uma fórmula simples e predestinada ao sucesso.
Hoje é justamente ao contrário, é o Estado que patrocina as Universidades, antro de bobocas que nada querem saber e são facilmente doutrinados por esse mesmo Estado, que quer saber de tudo. Uma fórmula ainda mais simples para se chegar ao completo fracasso.
É muita profundidade de conhecimento,, leio e fico atônito, não sei o que digo. Vou consultar Ana Paula Henkel
Cheias provocadas pela inapetência dos poderes da República e dos Estados. Ha 62 anos que o Acre Estado convive com as CHEIAS no chamado inverno Amazônico e com as VAZANTES no chamado verão Amazônico.
Se as autoridades Federais, Estaduais e Municipais tomassem a iniciativa de construir pequenas barragens nos pequenos afluentes dos rios, já não teriam as catástrofes que anualmente acontecem. Não as fazem, as providências, porque comprar sem Licitação Pública rende muito para centenas.
Se quiserem eu posso desenhar, o por quê nunca serão resolvidos tais problemas. Os políticos não moram onde alaga.
Esse artigo condiz com o que penso atualmente. Não desejo que meus filhos vão para a universidade. Prefiro que façam cursos tecnicos especializados e realmente aprendam algo de util para terem empregoa onde o apliquem. As universidades são antros de vadios, drogados e esquerdistas
A covid-19 também foi um marco em minha vida. Mas no sentido de me afastar dos ”empáticos” que fomentaram a quebradeira no comércio enquanto tinham seus ganhos garantidos, notadamente em cargos públicos.
Torço para que o progressimo seja uma nuvem passageira e que a razão volte a dominar o intelecto humano.
Por que é que está tão difícil essa gente progressista voltar a acreditar no cientificismo. Essa história de cultura woke é um modismo que não deve ser abraçado pelas universidades. A nova ordem mundial está comprando as pessoas que tem crédito com as populações, cabe a corrente das premissas éticas apontar esses distúrbios de corrupção
É tudo muito simples, mas a raça humana gosta de dificultar e complicar, vamos aprender chorando, que dó!!!!!!!
O interessante é que o autor se refere à universidade medieval como a pedra angular da ciência, verdade, porém fala em idéias anti-Iluministas, sendo o iluminismo uma ideologia que contribuiu de maneira significativa para o momento atual de irracionalismo. Iluminismo, liberalismo, modernismo, irracionalismo e “wokismo” são apenas faces da mesma corrente ideológica. “Ego vox clamantis”.
Já escrevi o comentário