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Foto: Revista Oeste/Midjourney
Edição 206

Quando a ideologia se fantasia de reportagem

Quem passou anos na faculdade estudando técnicas de jornalismo provavelmente aprendeu a olhar o mundo, analisá-lo e descrevê-lo segundo a ótica da esquerda

Roberto Motta
-

“Os que giram em volta do tirano e mendigam seus favores não poderão se limitar a fazer o que ele diz, têm de pensar o que ele deseja e, muitas vezes, para ele se dar por satisfeito, têm de lhe adivinhar os pensamentos.”
(Étienne de La Boétie, Discurso da Servidão Voluntária, Avis Rara, 2023, p. 51)

No mundo inteiro, a maior parte dos “intelectuais” é de esquerda. Minha experiência diz que mais de 80% dos professores — das escolas primárias às universidades — são de esquerda. A ideologia de esquerda atingiu a hegemonia na cultura, nos meios de comunicação, nas artes, no ensino e no entretenimento.

Quase todas as pessoas que têm voz pública adotam posições “progressistas”.

Nada disso deveria ser novidade. Mas há quem ainda se surpreenda. Então aqui vai outra informação importante: a esmagadora maioria dos jornalistas é de esquerda.

Isso acontece por uma razão simples: os cursos de jornalismo são estruturados com esse objetivo — assim como os cursos de história, direito, geografia, ciência política, filosofia e outros cursos de “humanas” (e, cada vez mais, até os de “exatas”).

Quem passou anos na faculdade estudando técnicas de jornalismo provavelmente aprendeu a olhar o mundo, analisá-lo e descrevê-lo segundo a ótica da esquerda. Poucos passam por esse processo ilesos.

Do ponto de vista de quem sofreu essa doutrinação, não existe outra visão possível além da “progressista”. Qualquer outra forma de fazer jornalismo só pode ser “fake news” ou “fascismo”.

Meu livro A Construção da Maldade descreve a destruição da segurança pública brasileira. Eu mostro como a mídia — jornais, sites e TVs — protege criminosos, glorifica o crime e ataca a polícia. Há alguns dias, no programa Os Pingos nos Is, mostrei um exemplo. Era uma matéria sobre a morte de criminosos em confronto com a polícia. O redator da matéria dizia que, “segundo a versão da polícia, os criminosos tinham morrido em supostos tiroteios”.

O livro A Construção da Maldade, de Roberto Motta, descreve a destruição da segurança pública brasileira | Foto: Divulgação

Eu apontei o óbvio: quem colocou a palavra “supostos” na frente de “tiroteios” mostrou evidente desconfiança na polícia. Isso foi feito de uma forma sutil, indireta, mas que será entendida e absorvida por todos os leitores. Não é preciso dizer explicitamente que a polícia não merece confiança. O uso da palavra “supostos” é suficiente.

Essa mídia, tão preocupada com “investigação”, é a mesma que usou as palavras “terroristas” e “golpistas” para se referir a manifestantes — por acaso, sempre de direita

Um dos colegas me interrompeu e tentou me dar uma aula. Segundo ele, a questão se resumia ao fato de que eu não era jornalista. Ainda segundo meu colega, eu estaria incapacitado de compreender que o uso da palavra “supostos” naquela frase era “técnica jornalística”. Meu colega afirmou que o redator da matéria não poderia tê-la escrito de outra forma já que, como ele não teve a oportunidade de investigar pessoalmente o ocorrido, não podia ter certeza do que realmente aconteceu, e, portanto, precisava usar o termo “supostos”.

Não é preciso muito esforço para desmontar essa falácia. Basta olhar as notícias: a mídia que usa “supostos” para desqualificar uma declaração da polícia é a mesma que, em casos de criminosos flagrados em vídeo assassinando vítimas — ou dando um tiro na cabeça de um policial —, faz questão de chamá-los de “suspeitos”. Mas as imagens estão mostrando o crime sendo cometido.

Essa mídia, tão preocupada com “investigação”, é a mesma que usou as palavras “terroristas” e “golpistas” para se referir a manifestantes — por acaso, sempre de direita. Se fosse aplicado o mesmo critério usado pela mídia para criminosos violentos, esses manifestantes teriam sido tratados como “suspeitos”. Mas eles foram processados, condenados e sentenciados pelo jornalismo progressista, sem direito a defesa.

O esquerdismo da mídia é estrutural. Ele é difuso e está embutido na essência do trabalho. Para a maioria dos profissionais, não é mais possível separar a atividade jornalística do patrulhamento ideológico e da panfletagem. Mas eles não têm consciência completa do que fazem. Por isso, muitos reagem com genuína surpresa e indignação quando apontamos seu viés. Eles pensam: “Se foi isso que aprendi na faculdade de jornalismo, se é assim que todos os meus colegas trabalham, se é assim que o meu chefe me manda trabalhar, como pode estar errado?”.

Quem passou anos na faculdade estudando técnicas de jornalismo provavelmente aprendeu a olhar o mundo, analisá-lo e descrevê-lo segundo a ótica da esquerda | Foto: Revista Oeste/Midjourney

Mas está. Como eu expliquei ao meu colega, o lugar para um veículo de mídia emitir opinião é no editorial, e não no noticiário.

O coletivismo esquerdista sempre idolatra um Estado todo-poderoso no qual a individualidade deve ser dissolvida. O caminho para esse Estado-deus é a revolução. O progressista usa a expressão “supostos tiroteios” ao relatar a morte de criminosos em confronto com a polícia por uma razão simples: ele enxerga o criminoso como uma vítima da opressão capitalista ou um combatente que luta pela revolução.

O progressismo não é uma ideologia. O progressismo é um culto religioso. É a religião da dependência: dependência de drogas, dependência do Estado, dependência de um líder iluminado que controla vida e morte.

No Brasil e no mundo existe apenas um punhado de veículos de mídia que não são de esquerda. Honrem esses heróis. Façam assinatura dessas revistas e sites, inscrevam-se nos nossos canais.

Somos a resistência.

Leia também “Polícia política não é polícia”

23 comentários
  1. Ubiratan Bianco Pereira
    Ubiratan Bianco Pereira

    Zé Maria é ” progressista” dissimulado .

  2. Pedro Henrique
    Pedro Henrique

    Pura verdade! Hoje não tem um só jornal neste país que tenha um real compromisso com a verdade! Rssa doutrina e seys fantoches não entenderam que quem sustenta esse sistema são os empresários porque o Estado não produz absolutamente nada!

  3. Ubiratan Bianco Pereira
    Ubiratan Bianco Pereira

    Muito bom Motta ! Sua ausência do “Pingo nos is” empobrece muito o programa .

  4. Elziana Alves da cruz
    Elziana Alves da cruz

    ola , que leitura esclarecedora . obrigada

  5. Odilon Soares Teixeira da Silveira
    Odilon Soares Teixeira da Silveira

    Brilhante, irretocável!!!!

  6. Paulo César da Conceição
    Paulo César da Conceição

    Ótimo artigo Motta, parabéns e muito obg por dar luz a muitos que andam nas trevas. Estamos juntos nesta batalha!

  7. Antonio Saggese Netto
    Antonio Saggese Netto

    Motta, você é sensacional! Me permita uma opinião: você não “combina ” mais com a jovem pan.

  8. gustavo reboucas da palma
    gustavo reboucas da palma

    Ser ou parecer de esquerda ” financeiramente” é ótimo…

  9. JOSÉ OTAVIO
    JOSÉ OTAVIO

    Fui estudante do terceiro grau em Administração de Empresas e Economia na década de 80 e não consigo entender como nos dias de hoje esses universitários podem ter essa cabeça de mer………da , não são burros, mas não conseguem ver o que acontece no Brasil e em outros países quando a esquerda esta no poder.

  10. Candido Andre Sampaio Toledo Cabral
    Candido Andre Sampaio Toledo Cabral

    Acompanhei esta discussão, se não me engano também com o Palumbo. Inclusive continuo acompanhando também o Pingos nos Is. Me permita dizer que o Zé Maria Trindade é muitas vezes incompreendido, e tachado como esquerdista. Na minha opinião, de maneira injusta. Tanto o Zé Maria quanto o Roberto Motta são grandes comunicadores e merecem nossos respeito, cada um do seu modo.

  11. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    O Roberto Motta tem toda razão, no mundo todo a mídia é de esquerda, porque a mídia além de ser analfabeta política, ela se vende com mais facilidade, afinal de contas o capitalismo é um sistema Ruim, mas não existe outro melhor, o coletivismo é uma ferramenta que transforma o líder num ditador

  12. João Gomes De Melo
    João Gomes De Melo

    Mota, corretíssimo! Parabéns !

  13. Marcus Magalhães
    Marcus Magalhães

    Mota, como sempre autêntico e perfeito em sua análise parabéns faz assinatura da oeste ser o melhor investimento que fazemos em nós mesmos.

  14. Valter Silva Galvão
    Valter Silva Galvão

    Valeu Mota. Por isso que sou assinante da Oeste desde a sua fundação, pois me identifiquei com o time de craques que fazer esse Jornal de verdade. Parebêns Oeste pelo brilhante trabalho.

  15. Guilherme Marchiori de Assis
    Guilherme Marchiori de Assis

    É verdade Motta. Parabéns ao trabalho da Oeste e da Brasil Paralelo, veículos de comunicações independentes, nesse país dominado pela narrativa!

  16. Marcus Borelli
    Marcus Borelli

    Eu acho que eu sei quem é o colega de programa, seria o José Maria, o dúbio? Sou também da sua geração Motta pois nasci em 1960. Ótimo texto.

  17. James
    James

    A própria esquerda confessou publicamente seus objetivos!
    “Ali Babá”, fã do Hamas, o maior ladrão do mundo, insiste, em cada frase que saí de sua cabeça oca :
    – Devemos DESTRUIR nossos adversários com narrativas!
    Ele usufrui da coordenação de um exército de zumbis, hipnotizados com a idéia de subverter a ordem e o progresso do estado brasileiro.
    A mídia mundial é esquerdista, seus proprietários a utilizam de forma premeditada, para impedir o surgimento de novas civiizações, que podem interferir na hegemonia de controle sobre o mundo.
    Estamos perdendo terreno faz séculos, até as igrejas possuem comunistas infiltrados, afinal, o diabo não está proibido de se sentar nos bancos das igrejas, para louvar ao Santíssimo, mas os usa de forma que a classe política o adora!
    Depois que a política pública tomou o lugar do futebol e das novelas no radar do povo, os progressistas passaram a ter um grande problema:
    -O povo brasileiro acordou!
    Querem judicializar a política para impedir o avanço e a criação de partidos de direita.
    O estado loteado versus o povo na rua dará no quê ? Guerra civil ?
    Os embates serão medonhos!
    Povo na rua, em ano de eleição?
    VIVA A DEMOCRACIA !

    1. Marcus Borelli
      Marcus Borelli

      Se formos ver o percentual da esquerda na Câmara veremos que os 140 deputados em comparação aos 513 do total dá 28%. Eles são a minoria. O povo brasileiro majoritariamente é conservador e liberal, arrisco até a dizer que é cerca de 70% da população.

  18. Vanildo
    Vanildo

    Bom dia Mota. Obrigado pelo artigo. Tem minha leitura e meu apoio pela firmeza. Somos da mesma geração e me sinto representado nas suas falas e nos seus posicionamentos. Confio que jamais perderá sua força e coragem. Por oportuno: o livro A Construção da Maldade é excelente. Um abraço.

  19. Jonas Ferreira do Nascimento
    Jonas Ferreira do Nascimento

    Perfeito, como sempre, Motta.

  20. Emilio Sani
    Emilio Sani

    explicou muito bem, e toda ex imprensa está completamente dominada e escrevem tudo sempre com mensagem subliminar para transformar tudo na ‘narrativa’ esquerdopata

  21. NERISSON DA SILVA MEDEIROS
    NERISSON DA SILVA MEDEIROS

    Excelente essa matéria que descortina e expõe o jornalismo ideológico que estamos vivenciando no país. Não sei se os jornalistas ideológicos formados nos últimos anos conseguem se desvencilhar desse véu que encobre suas mentes. Creio que nossos jovens pré-universitários devam ser cada vez mais orientados a não caírem nessa falácia ideológica que se auto intitula “progressista”, mas na verdade é destrutiva dos valores familiares, morais e cristãos!

    1. Geremias
      Geremias

      Boa análise.

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