— Estou aqui para me confessar.
— Está no lugar certo.
— Não sei se estou.
— Está, sim. Aqui você tem a garantia da discrição e a chance do perdão.
— Compreendo e agradeço. Mas tem um problema.
— Qual?
— Eu.
— Como assim?
— Não sei se tenho estômago para ouvir o que tenho a dizer.
— A confissão é libertadora.
— Ok. Mas posso me confessar com fone de ouvido e uma música aos berros?
— Hum… Não existe uma lei que proíba isso, mas é uma contradição com o princípio da confissão.
— E se eu lhe emprestar os fones e colocar o volume no máximo?
— Aí não vou escutar a sua confissão.
— A ideia é essa.
— Bem… Se não vou escutar, você não precisaria ter vindo aqui.
— É que há algum tempo eu finjo que penso, finjo que analiso e finjo que explico, então queria experimentar fingir que confesso.
— Talvez você possa fingir que confessa no carro, na cozinha ou no banheiro. No confessionário não dá.
— Será que dá pra abrir uma exceção? Tenho bons contatos no Palácio.
— Então talvez você possa fingir que se confessa no Palácio.
— Lá não ia fazer efeito.
— Então tem que ser aqui mesmo. Sem fone de ouvido.
— Será?
— Coragem!
— Bom… Vamos lá: eu menti.
— Existe perdão para a mentira também.
— Mas é que eu menti muito.
— Mesmo assim.
— Menti compulsivamente.
— Desabafe. Tudo tem salvação.
— Traí a missão de informar a verdade mentindo sobre coisas sérias.
— Que coisas?
— Tratei desonestidade como honestidade.
— O que mais?
— Fiz vista grossa para o crime.
— Continue. Vamos em busca do perdão.
— Levei o público a achar que a incúria, a inépcia e a ruína são o caminho da prosperidade.
— Certo…
— Falsifiquei premissas para defender o indefensável.
— Sim…
— Usei minhas credenciais para legitimar o abuso.
— Ahã…
— Tratei conluio e prevaricação como defesa da democracia.
— Humhum…
— Ajudei a ludibriar inocentes dando apoio moral e intelectual aos seus algozes.
— …
— Não vai dizer nada sobre as minhas confissões?
— Vou. Me empresta o seu fone de ouvido?
Nota do autor: Quando a sutileza não funciona (como noto por vários comentários nas redes sociais) a culpa é do autor. Então, para que a intenção não se perca, segue a explicação: esse texto é sobre o cinismo da imprensa. Obrigado.
Leia também “Que beleza de derrota”
Achei fantástica essa sua explicação…Parabéns….
Fiuza do céu, você é espetacular ! O humor é essencial, mesmo diante das desgraças. Diante de seus textos, vem sempre o conflito: rio, choro ou me enfureço? Mas nossa capacidade de rir, entre muitas coisas, nos mantém atentos. Parabéns e muito obrigado por seu trabalho.
Sensacional
Muito bom, como sempre! Kkkk
Sensacional Fiúza! Sou apaixonada pelo seu trabalho. Vou comprar seu novo livro. Parabéns e sucesso !
Muito bom, parabéns Fiuza!!!!!!!!!
Como sempre, certeiro.
👍👏👏👏👏 adorei
Qto a mim, não precisa se desculpar. Gosto demais das suas ironias. Tanto q vou comprar mais um livro seu. Parabéns!
Esse Fiuza é um cachorro da mulesta, ele passou do horizonte. Que jornalista féla da puta! Quem tá falando aqui é Jessier Quirino
Saudades querido Fiúza de suas análises ao vivo, da sua voz cheia de indignação e suas palavra mais que verdadeiras!!
Só vc Fiuza. Quanta impotência a nossa.
Parabéns e obrigada, Fiuza. Toda aquela indignação que existia pelo cerceamento da libertade não era real. É muito louco…
Suas matérias me remetem as letras das músicas, que objetivavam a expor os abusos da ditadura da década de 60. A ironia é quem escrevia as letras e sentia-se censurados, hoje apoiam quem censura é tenta manipulare esconder a realidade.
Suas matérias me remetem as letras das músicas, que objetivavam a expor os abusos da ditadura da década de 60. A ironia é quem escrevia as letras e sentia-se censurados, hoje apoiam quem censura é tenta manipulare esconder a realidade.
Obrigada Fiúza. É inacreditável como a estupidez chegou a um nível tão alto que precisamos explicar quando usamos de ironias. Tenho que conviver com muita gente assim. Acredite. É sofrível.
Fiuza, mais que visseral!
Quando criança, meus pais com suas honestidades em me educar dizia que a mentira era algo pecaminoso, feio, intolerável e que prejuticava na formação do caráter. Para mim, criado numa família com valores cristãos e colocando a mentira como pecado naquele momento foi carregar um peso tremendo, pois estava em preparação espiritual para fazer a minha primeira comunhão. Como iria eu me revelar naquele confessionário diante de um pároco que era amigo da família. Como esconder dele uma mentirinha que fosse, pois sabendo que isso podia manchar na formação do meu caráter. Fique tão aflito diante daquela que seria a minha primeira confição que recoria à minha avó materna para ali sim fazer a minha primeira comunhão/confição. Ah, sempre os avós. Ela percebendo a minha afiliação e o medo, livrou- me logo daquela que foi possívelmente minha primeira tortura espiritual.
Disse-me ela então: vá ali em frente ao oratório e reze um Pai Nosso e uma Ave Maria que Deus irá perdoar a sua mentira e assim você estará livre desse pecado. Ah, daqui prá frente não minta mais.
Há muito observo um certo governante que vem mentindo sem a menor pudor e que ainda reverência esse seu ato mostrando sua total falta de caráter.
Aí fico pensando a falta que faz em recorrer há uma avó e não ter feito a primeira comunhão.
A necessidade da NOTA explicativa só aumenta o desalento. Que tempos!
Precisava mesmo essa explicação adicional? Entendi logo de cara do que se tratava.
Ter de colocar a NOTA … misericórdia ! Hahaha final dos tempos ta difícil!
Descreveu muito bem essa imundície!!
Felizmente me distanciei deste tipo de gente que muito bem relata o Guilherme Fiuza. Sem briga, nem ofensa, apenas distanciar. Espero que uma hora a consciência pese e façam esta confissão.
E os donos do Brasil fingem que somos uma democracia.
Sensacional . Aqueles que se acham jornalistas talvez se confessem.
Tragicômico.
Sensacional!
Parabéns Fiuza!
Brilhante, como sempre!
Tenho muito a confessar,mas será que vai adiantar alguma coisa ou ter perdão do que não consigo falar(medo) pior se vazar
vai faltar fones de ouvido nos confessionários, a demanda é grande !!
Empresto. Queres no volume mais alto?
Confesso que não acredito em mais nada e em ninguém!
Serve para jornalistas, políticos e STF. A que ponto chegamos!
Vale para inúmeros jornalistas que se dizem “formadores de opinião” mas que à medida que o tempo passa vão vendo seu público derreter. Logo estarão dispensados de qualquer confissão. Nem os clérigos acreditarão.
kkkkkkkkkk
É a confissão da velha imprensa mofada e prostituída pelo atual regime brasileiro.
Mas quem é esse personagem? William Bonner?