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Ministro Alexandre de Moraes | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.
Edição 245

Togas fora da lei

20 perguntas e um aparte retratam a arrogância do Supremo

Augusto Nunes
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Poderiam ser 50 perguntas. Ou 100. Ou mais. Mas 20 produzem um bom razoável resumo da Ópera dos Fora da Lei. Pode qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal…

Fachada STF | Foto: SCO/STF

1) …abrir um inquérito por conta própria para investigar um possível crime ocorrido fora das dependências do STF?

2) …indicar o relator do inquérito que transformara em cúmplice em vez de obedecer à regra que determina o sorteio?

3) …basear-se num vídeo exibido na internet para expedir um mandado de prisão em flagrante?

4) …decretar a prisão de um deputado federal que talvez tivesse cometido crimes contra a honra por ter insultado integrantes do STF?

5) …condenar à prisão um parlamentar contemplado com o indulto individual pelo presidente da República?

6) …conduzir um inquérito ainda não concluído depois de cinco anos?

7) …impedir o acesso aos autos do processo ou ao inquérito dos advogados de defesa dos acusados?

8) …condenar à mesma pena centenas de acusados sem que tenha ocorrido a indispensável individualização de conduta?

9) …desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, juiz e carcereiro?

10) …condenar ao uso de tornozeleira prisioneiros liberados da cadeia por falta de provas?

11) …prender alguém sem que o acusado tenha exercido o amplo direito de defesa?

12) …abolir as normas adotadas para que ocorra o devido processo legal?

13) …transferir para o STF o julgamento de acusados sem direito a foro especial?

14) …negar assistência médica a prisioneiros com gravíssimos problemas de saúde?

15) …proibir o Congresso de ouvir o depoimento de acusados libertados por inexistência de provas?

16) …transferir para o acusado o ônus da prova?

17) …recomendar a assessores que recorram à criatividade para a fabricação de provas que incriminem inocentes?

18) …destruir provas que incriminam culpados de estimação?

19) …assassinar impunemente a língua portuguesa?

20) …brincar de ditador togado quando lhe der na telha?

Os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, em sessão no Supremo Tribunal Federal
Os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, em sessão no Supremo Tribunal Federal | Foto: Nelson Jr./SCO/STF

A resposta é um vigoroso NÃO para as 20 questões. Mas tais obscenidades se tornaram rotineiras no tribunal dominado pela regência trina composta por Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes — que opera em sintonia com Dias Toffoli, especialista em soltura de bandidos irrecuperáveis e restituição de dinheiro roubado aos gatunos de fina linhagem. Nunca a Corte foi tão insolente, atrevida e temerária. Mas eles acham pouco. Tanto assim que os limites da arrogância foram novamente expandidos neste 27 de novembro, durante a sessão que começou a debater o que o Supremo batizou de “regulação das redes sociais”.

Enquanto o advogado do Facebook escancarava, com argumentos sólidos e linguagem sóbria, os perigos que rondam a liberdade de opinião e o direito à informação no mundo digital, Moraes fingiu ignorá-lo: olhos grudados na tela do laptop, o Supremo Inquisidor seguiu desferindo socos na gramática e na ortografia usando o teclado como arma. Minutos mais tarde, o presidente Barroso ressalvou aos representantes das empresas ameaçadas que aquilo não se tratava de um interrogatório. “O senhor fique tranquilo, que não é uma inquirição”, acabara de dizer Barroso quando se ouviu o aparte grosseiro: “Ainda…”, avisou Moraes. Barroso deveria mostrar de alguma forma que não endossava o deboche autoritário. Em vez disso, gargalhou.

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1 comentário
  1. Lauro Patzer
    Lauro Patzer

    Augusto Nunes foi didático com um artigo onde o recurso do emprego de perguntas penetra na alma do arbítrio. Destaco uma delas, que atinge o homem que atribuiu a si o poder absoluto: (…) Pode qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal… ‘desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, juiz e carcereiro’. Vou repetir as atributos que Moraes se vale ao colocar a toga sobre os ombros: VÍTIMA, DETETIVE, DELEGADO, PROMOTOR, JUIZ E CARCEREIRO. Ou seja, pode tudo! Pode tudo até quando?

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