O Office for Students (órgão independente regulador do ensino superior da Inglaterra, ou OfS) afirma que “adolescentes brancos pobres” estão sendo deixados “para trás” na corrida para chegar à universidade.
Chris Millward, diretor de participação e acesso justo do OfS, observou uma “combinação de fatores como raça, pobreza e local” e identificou 90% desses jovens no quintil mais baixo da participação no ensino superior como britânicos brancos. Esses jovens também receberam auxílio-alimentação na escola ou cresceram em bairros com baixos índices de participação no ensino superior.
A palavra-chave na classificação de Millward, “adolescentes brancos e pobres”, é pobres. Mas ele pode ter usado o termo proletário. Ele afirma que não porque essa categoria pode ser confusa, dada a “complexa mistura de padrões de vida e trabalho, renda e riqueza”.
Mesmo assim, fica claro pelas descobertas do OfS que o contexto socioeconômico dos jovens, seu acesso a recursos e a riqueza de seus bairros contribuem para sua possibilidade de chegar ou não à universidade.
As estatísticas são reveladoras. Enquanto 40% dos jovens britânicos brancos chegam à universidade, esse é o caso de apenas 16% dos que recebem auxílio-alimentação na escola. Em comparação, 59% dos jovens africanos negros e 73% dos asiáticos chineses que recebem o mesmo auxílio continuam seus estudos depois do equivalente ao ensino médio inglês. Como o escritor Kenan Malik comentou recentemente, classe é importante. “Imigrantes caribenhos, paquistaneses e bengaleses na Inglaterra vêm principalmente de origens proletárias e camponesas”, ele escreveu. “Indianos, chineses e africanos tendem a vir da classe média.”
Que belo privilégio branco. É deprimente que seja preciso apresentar estatísticas de jovens em desvantagem em locais como Hillsborough, Skegness ou Great Yarmouth para provar a idiotice — e o elitismo — das políticas identitárias. Os proponentes dessa ideia de “privilégio branco” afirmam que simplesmente não nascer negro abre portas e caminhos para que as pessoas progridam na vida sem muitas dificuldades. Mas, como mostram os dados do OfS, a questão é menos a cor da pele e mais onde você mora e a que você tem acesso que determina quanto sua vida é “privilegiada” ou com poucas oportunidades.
Em Londres, muito mais jovens brancos que recebem auxílio-alimentação na escola chegam à universidade do que jovens na mesma situação em East Midlands. Não é preciso ter um doutorado em demografia para entender que viver na capital — mesmo que você seja pobre — pode significar acesso a melhores oportunidades educacionais (clubes esportivos, trabalhos de fim de semana, bibliotecas e museus) do que viver em Mansfield ou Sleaford.
Quem progride depois do curso superior ainda são os que podem acumular capital social de outras formas
Uma questão importante é não apenas por que jovens brancos da classe trabalhadora não estão chegando à universidade, mas por que tantos políticos e analistas de conjuntura acham que eles deveriam, que o único caminho para o avanço social é um diploma universitário.
A universidade deveria ser um lugar no qual qualquer pessoa que tenha paixão por um tema e um comprometimento com o estudo possa ir em busca de seus sonhos. Mas não é assim que ela é comumente vista. Em vez disso, o ensino superior é tido por muitos como uma tática para adiar o inevitável ou algo para colocar no currículo.
O mais triste para muitos jovens de origem proletária que de fato chegam à universidade é a ideia de que ela seja um atalho para o emprego bem remunerado. Isso é um golpe. Aqueles que galgam esses degraus ainda são os que podem acumular capital social de outras formas. Claro, essas pessoas podem ter estudado em uma universidade de ponta, mas também passaram um ano fazendo trabalho voluntário, concorreram à presidência do grêmio estudantil, frequentaram uma escola secundária que ensinou línguas estrangeiras e vivem a pouca distância de uma cidade vibrante.
Além do mais, outras avenidas para aqueles que não estão interessados em frequentar uma universidade são negligenciadas ou foram extintas. Em 2018, a Open University publicou seu relatório Business Barometer, dando conta de que a “carência de competências” estava em alta. Destacando a ausência de formação específica, 91% das organizações afirmam ter tido dificuldade de “encontrar talentos com as competências necessárias”. E então, com as avenidas abertas apenas para empregos de curto prazo e pouca qualificação (muitas vezes baseados em contratos temporários), muitos jovens da classe trabalhadora se deparam com chances limitadas de encontrar bons salários ou seguir uma carreira.
Alguns manifestaram o desejo de transformar cada habilidade, profissão ou área de atuação em um curso universitário, presumindo que a medida melhoraria os salários e as oportunidades de emprego. Em 2013, por exemplo, muitas pessoas criticaram o governo britânico por definir que futuras enfermeiras precisam de curso superior — uma abordagem que, sem dúvida, voltou para assombrar as autoridades, uma vez que a escassez de profissionais de enfermagem continua dificultando a resposta à pandemia.
Se jovens das classes trabalhadoras sofriam antes da pandemia, está claro que sucessivos lockdowns só vão intensificar seus problemas. Mas a solução para “os adolescentes brancos e pobres” (e, em especial, aqueles do sexo masculino) que ficam para trás não é mandá-los em bando para a universidade. Em vez disso, precisamos pensar em como vamos oferecer oportunidades para jovens inteligentes que têm pouca rede de apoio. Não existem soluções rápidas, claro. A longo prazo, precisamos rever nosso sistema educacional, em especial para jovens maiores de 16 anos. E precisamos impulsionar de maneira significativa a produção de riqueza e aumentar os empregos em diferentes áreas da Inglaterra.
Talvez um ponto de partida possa ser desafiar o medo e o ódio da classe trabalhadora que emanam dos identitários que maldizem o privilégio branco. Chame-os de brancos pobres, se quiser, mas está claro que, neste momento, estamos falhando com nossos jovens da classe trabalhadora.
Leia também “A formação que deforma”
Ella Whelan é colunista Spiked e autora de What Women Want: Fun, Freedom and an End to Feminism (O que as Mulheres Querem: Diversão, Liberdade e um Fim para o Feminismo, em tradução livre).
Muito bom artigo. A que ponto as coisas estão chegando.
Lá como cá.