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Edição 57

A vida como ela é em tempos de coronavírus

O depoimento de brasileiros e estrangeiros espalhados pelo planeta revela o cotidiano de quem sente na pele as consequências da pandemia

Branca Nunes
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Em Soest, na Alemanha, as creches fecharam por apenas duas semanas desde o início da pandemia. Hoje, as crianças mais novas podem ficar na escola, todos os dias, das 7 às 14 horas. Na Austrália, quem chega ao país é obrigado a fazer quarentena de 15 dias em hotel, sendo monitorado de perto por agentes do governo. Mas, depois que se entra em Sydney, Melbourne e outras cidades, a vida volta ao “antigo normal” — e apenas dentro do transporte público uma ou outra pessoa ainda usa máscara de proteção. Nos parques de Toronto, no Canadá, as cerejeiras foram cercadas para tentar evitar as aglomerações daqueles que querem fotografar as árvores floridas.

Em Kuala Lumpur, na Malásia, Busan, na Coreia do Sul, e Istambul, na Turquia, os moradores fazem uma espécie de check-in, escaneando um código de QR Code ao entrar em restaurantes, academias de ginástica, supermercados e até em táxis e carros de aplicativo. Assim, é possível avisar se algum caso de novo coronavírus for registrado naqueles locais. Em Miami, nos Estados Unidos, as festas, churrascos e passeios de barco só deixaram de acontecer no começo da pandemia, e por um período que não chegou a duas semanas.

Para saber como está o dia a dia em diferentes cidades no mundo — sem o filtro das informações oficiais —, Oeste colheu mais de 30 depoimentos de brasileiros e estrangeiros espalhados pelo planeta. Todos responderam às mesmas perguntas, e ajudaram a compor o gráfico que acompanha este texto. A seleção de trechos das respostas revela o cotidiano de quem sente na pele as consequências da pandemia. Gente que tem muito a dizer, mas raramente é ouvida.

A seguir, a vida como ela é em tempos de coronavírus.

Alemanha

Alexandre Epping de Barros, fotógrafo

Soest

As creches fecharam por duas semanas, mas agora estão funcionando com horário reduzido. Deixo minha filha de 5 anos às 7 horas e vou buscá-la às 14 horas, de segunda a sexta-feira. Meu filho, de 8 anos, fez ensino remoto por três meses, mas depois pôde voltar para a escola em dias alternados, das 7h15 às 15 horas. Todas as crianças realizam uma vez por semana o teste rápido para covid-19 e os adultos também têm direito a um teste gratuito por semana. O bom senso é que determina o uso das máscara em locais abertos. Em geral, não se usa em parques e ruas sem grande circulação. Desde o começo da pandemia, a Alemanha foi muito coerente em suas ações. Preservou empregos, deu suporte às empresas, distribuiu auxílios e subsídios. Apesar de criticar a velocidade da vacinação, acredito que o governo tem conseguido manter a economia e salvar vidas. No fundo, eu me sinto abençoado. Sinto falta da parte cultural, mas tive o privilégio de conviver com meus filhos de forma intensa e de viver num lugar seguro, onde nunca existiu medo com relação ao desemprego ou à falta de acesso à saúde. Aqui, as pessoas se respeitam e respeitam o coletivo.

 

Argentina

Andrea, 35 anos, engenheira-agrônoma
Rosário

Não é preciso usar máscara em parques nem durante atividades físicas ao ar livre, mas nas ruas e em lugares fechados o uso é obrigatório. As missas e cultos religiosos são permitidos, mas com limitação de público. A vacinação está lenta, mas satisfatória. Tenho muitos conhecidos com mais de 70 anos que já foram vacinados. Recomenda-se que sejam evitados eventos com mais de dez pessoas e a circulação está proibida entre a meia-noite e as 6 horas. A empresa onde trabalho está fazendo home office desde março de 2020, e não há previsão de retorno presencial pelo menos até 30 de junho. Tenho vários conhecidos que perderam o emprego e estão enfrentando muita dificuldade financeira.

 

Austrália

Amanda Panicucci, 38 anos, managing director
Sydney

Quando chegamos à Austrália, no começo de abril, tivemos que vir do aeroporto direto para o hotel, tudo organizado pelo governo australiano. Depois de desembarcar numa área especial do aeroporto, passamos por uma triagem para mostrar o resultado negativo do exame de PCR que fizemos no Brasil e medir a temperatura. Na alfândega, a cada passaporte que eles abriam, as luvas eram trocadas. Sem ter contato com nenhum outro passageiro que não estivesse no nosso voo, fomos levados de ônibus até um hotel escolhido por eles. Em todo momento fomos acompanhados por policiais e agentes do Exército, que levavam nossas malas. No total, a quarentena dura 15 dias. As comidas são acondicionadas numa sacola em frente ao quarto e somente podemos abrir a porta para retirá-las. As roupas de cama e toalhas são trocadas por nós a cada cinco dias e um agente do governo liga diariamente para saber se estamos bem física e psicologicamente. Fizemos outros PCRs no terceiro e no 12º dia, inclusive meu filho de 2 anos. Em Sydney todos os restaurantes, bares e comércios estão abertos. Algumas pessoas nos contaram que nunca precisaram usar máscara, pois ela estava sendo exigida apenas em alguns Estados e dentro do transporte público. De forma geral, sinto que já não existe mais covid aqui e todos estão tendo uma vida 100% normal. A única exceção são as viagens internacionais, que não estão permitidas.

Ricardo Monte Fainbaum Junior
Sydney

Tivemos um lockdown mais longo no início da pandemia e outros dois mais curtos, sempre levados bem a sério pela população. Até janeiro deste ano, era obrigatório o uso de máscara no transporte público e em lugares como igrejas ou salões de beleza. A vacinação está bem devagar, mas, como não temos registros de casos de transmissão local há semanas, o tema não é tratado com urgência. A Austrália está inclusive enviando vacinas para países próximos, como a Papua-Nova Guiné, porque a situação lá é muito pior.

Fernando Braga, 36 anos, programador
Melbourne

A Austrália adotou uma estratégia que envolveu um rigoroso lockdown, com muitos testes diários e rastreamento de pessoas que podiam ter tido contato com alguém infectado. Cada Estado ficou fechado por períodos diferentes. Aqui em Melbourne, durante 112 dias só era permitido sair de casa — num raio de no máximo de 5 quilômetros — para ir ao mercado ou procurar ajuda médica. No começo foi bem difícil aceitar o lockdown, e muito pouca gente acreditava que seríamos capazes de zerar os casos. Diversos negócios faliram e muitos estudantes vindos do exterior tiveram de ir embora por terem perdido o emprego, mas o governo providenciou ajuda financeira aos cidadãos e às empresas. Hoje, olhando para a situação econômica do país, diria que o governo acertou na maioria das decisões. Basicamente todas as atividades voltaram ao normal. Há duas semanas foi liberada inclusive a capacidade máxima de lotação dentro dos estádios.

 

Canadá

Marcelo Villor
Vancouver

Cada província canadense tem seu próprio calendário de vacinação. Aqui na Colúmbia Britânica, onde moro, a vacinação está planejada para acontecer em quatro fases e atualmente estamos na última. A previsão é que 100% da população esteja vacinada até junho. É permitido frequentar e fazer atividades físicas nos parques, mas os encontros com mais de dez pessoas estão proibidos. A população está cansada, estressada e saturada de tudo o que está acontecendo, mas me sinto seguro, bem informado e confiante. Acredito que o trabalho realizado pelo governo foi fundamental para manter os números sob controle. As medidas foram duras, e as multas altas, mas necessárias.

Raquel Camargo, 34 anos, consultora de marketing digital
Toronto

Apesar de o acesso às praças e parques ser permitido, no último fim de semana cercaram as cerejeiras, porque elas estão florindo e uma multidão fica querendo tirar foto. Outro dia rolou a maior aglomeração nos parques. Motivo? A chegada da primavera, e o primeiro domingo de sol. É isso que acontece depois de um inverno rigoroso.

 

Chile

Raphael von Sperling
Santiago

As informações sobre o coronavírus ocupam 24 horas do noticiário, sete dias por semana. Sobre o Brasil, os jornais destacam as mortes diárias e retratam o país como referência do que não se deve fazer com relação à pandemia.

 

Coreia do Sul

Beet na Lee, 28 anos, designer
Busan

Apesar de os bares e restaurantes estarem abertos, antes de entrar é preciso registrar-se via QR-Code ou anotar as informações pessoais (nome, telefone, endereço) num livro que permite o rastreamento caso algum caso de coronavírus seja detectado. Todos usam máscara, inclusive em praias ou caminhadas nas montanhas. Em restaurantes, as pessoas a tiram apenas enquanto comem ou bebem, mas é preciso recolocar quando estão só conversando ou esperando o pedido. Somos informados o tempo todo de cada detalhe, inclusive os bairros com maior número de infectados e por quais locais eles passaram. Isso pode ser um alívio para aqueles que moram em regiões com menos casos, e motivo de grande apreensão para outros. Atualmente, é proibido que mais de cinco pessoas se encontrem, mesmo em locais privados. Na minha opinião, em vez de criar regras atrás de regras, o governo deveria ter iniciado a vacinação mais cedo.

 

Costa Rica

Luiz Fabiano Mizael
Alajuela

Assim que foram registrados os primeiros casos da doença na Europa, a Costa Rica começou a tomar algumas providências. As crianças passaram a ter aulas on-line e o trabalho remoto foi estimulado. Depois dos primeiros casos locais, a população passou a levar a doença mais a sério. No começo, só serviços essenciais podiam abrir. Hoje, estão abertos restaurantes, shoppings etc. Por mais que não estejam vacinando tanto quanto deveriam, o vírus está bem controlado.

Rodrigo Carlucci de Moraes
Alajuela

O governo reagiu muito rápido ao vírus, fechando as fronteiras e decretando o lockdown. Fecharam tudo e se prepararam. As medidas também foram inteligentes na reabertura. Creio que a mais importante é a determinação de não ter contato com que não faz parte da sua bolha, inclusive nas praias. Faz mais de um ano que não encontro amigos, não jogamos futebol nem sentamos num bar. Todos estão vivendo com suas bolhas, esperando isso passar. Quem desrespeitou as restrições foi preso, bares foram fechados e, na pior fase da pandemia, os carros podiam rodar apenas um dia na semana, em esquema de rodízio. Não existe a obrigação de se usar máscaras ao ar livre, mas mesmo assim calculo que 50% usam.

 

Espanha

João Nogueira
Barcelona

Na Espanha, o governo delega a cada região autônoma (Estado) a responsabilidade de monitorar e aplicar medidas de maior ou menor rigor segundo a situação local da pandemia. Existe um comitê nacional que coordena as ações regionais. Já foram incorporadas pelas pessoas medidas de distanciamento social e o uso da máscara. É possível viajar dentro ou para fora do país, desde que o motivo seja justificado (férias não estão entre as justificativas aceitas). Já não se fazem mais encontros em casa como antes, a exemplo de aniversários ou churrascos, uma vez que são proibidas reuniões sociais com mais de seis pessoas.

 

Estados Unidos

Eleonora Paschoal, jornalista
Miami

Cada Estado norte-americano tem total independência para criar as próprias regras com relação à pandemia. São “várias américas” dentro de uma América. Algumas redes de supermercados instalaram mão e contramão nos corredores, totens de álcool em gel foram colocados nas entradas e máscaras começam a ser exigidas em diversos locais. Até hoje, entretanto, nem todos acreditam na doença. Na Flórida, por exemplo, alguns idosos não aceitam as novas regras, dizem que “estão numa democracia, que têm o direito de ir e vir e usar o que acham que devem”. Igrejas, lojas, restaurantes, redes de fast food, entre outros segmentos comerciais, relutaram em acatar a determinação de atender apenas no sistema delivery e em drive-thru. Até que os Parques da Disney fecharam as portas, em 12 de março de 2020, e acabaram sendo seguidos pelos outros parques e empresários. Mas por aqui medidas restritivas não têm vida longa. O comércio reabriu com as devidas medidas de segurança. Festas e encontros para churrascos, passeios de barco entre outras atividades nunca pararam. Em vários lugares da Flórida não é preciso provar que é residente para ter direito a tomar a vacina e, em muitos postos, pode-se escolher qual a marca que mais agrada o “consumidor”. Vários prefeitos demonstram ter pressa para que o maior número de pessoas seja imunizado para reativar o turismo de entretenimento, negócios e médico.

Bruno Peres Rigotti, 39 anos
Miami

A vacinação nos Estados Unidos está muito rápida. Tenho 39 anos e já fui vacinado. Quando peguei covid, entrei em contato com minha médica e ela receitou azitromicina e Aspirina, mas não é uma determinação oficial dos governos; cada médico decide com seu paciente. No ano passado, a cobertura sobre o coronavírus era muito mais intensa, destacando o número de mortes e de casos. Agora, a imprensa não está mais tão em cima. Com exceção das máscaras e do distanciamento, é possível dizer que está quase tudo como era antes.

Silvia Amorim, 46 anos
Miami

A gente não sentiu tanto os efeitos do coronavírus aqui na Flórida, porque não teve lockdown. O fechamento aconteceu bem no começo e durou 15 dias, mas depois tudo reabriu. Não me senti confinada como aconteceu em vários países. Inclusive, viajei pelos Estados Unidos durante a pandemia com a minha família, ficamos hospedados em hotéis, as pessoas estavam sem máscara na piscina. Vida normal. Nesta semana, meu marido foi jogar basquete. Meu filho joga futebol no clube e está tudo aberto. O governador da Flórida também proibiu passaporte de vacinação no Estado.

Luciana Correia Vuyk, 48 anos
Miami-Dade

Quando a pandemia começou, tivemos toques de recolher, multas e alguns fechamentos, mas nada de lockdown. Recentemente, tomei a segunda dose do imunizante da Pfizer. Aqui, está aberto para toda a população se vacinar. Com isso, a economia vai se abrindo naturalmente. Se a pessoa estiver imunizada, ela pode, inclusive, fazer viagens internacionais de avião.

 

Priscilla Aiello, 34 anos, gerente de hotel
Orlando

No dia 5 de abril, foi autorizada a vacinação para qualquer pessoa acima de 16 anos. Tudo por agendamento, mas com bastante oferta. No centro de convenção de Orlando montaram um centro de vacinação que conta com a ajuda do exército. O público é vacinado e tem que esperar de 10 a 15 minutos dentro do carro para verificar se não houve nenhuma reação. Acho que tanto Donald Trump quanto o Joe Biden fizeram um ótimo trabalho, porque muita coisa que acontece no mandato do novo presidente é possível graças ao trabalho do antigo.

Silvio Silva, contador e professor
Maryland

Alguns estádios de beisebol estão separando quem já se vacinou daqueles que não estão imunizados. Na minha casa, somos cinco pessoas. Duas com duas doses completas, duas com uma dose e um jovem de 17 anos, já registrado, aguardando a chamada (que normalmente acontece entre duas e três semanas depois do registro on-line). Esse pequeno exemplo mostra a eficiência do governo no combate ao vírus. Vejo com tristeza o problema no Brasil e em alguns lugares no mundo onde a pandemia se tornou mais uma plataforma política.

Marina Pena, 22 anos
Lynchburg, Virgínia

Em meu Estado, pessoas com mais de 16 anos já podem ser imunizadas. Eu, por exemplo, tomei a vacina da Pfizer. Até dezembro, o noticiário local estava bem alarmista, falando apenas coisas negativas. As manchetes estimulavam o “Fique em casa” e o lockdown. Desde janeiro, passaram a dar uma aliviada. Deve ter sido por causa da vacinação ou da mudança de governo. Tenho sentido um tom de mais esperança.

 

Finlândia

Marjo Ahvenainen, 45 anos, cientista política
Tuusula

Num primeiro momento, a Finlândia inteira ficou fechada, mas agora estão tratando a situação regionalmente. No começo da pandemia, ninguém colocava máscara e o governo também não recomendava o uso. Oficialmente, diziam que não ajudava tanto. Em agosto, o discurso mudou.

 

Guatemala

Vinícius Branco
Cidade da Guatemala

As escolas privadas estão com aulas híbridas. Ou seja, duas ou três vezes na semana as aulas são presenciais. As públicas permanecem fechadas. A partir das 18 horas, os restaurantes podem permanecer abertos, mas sem servir bebidas alcoólicas. Não vejo o menor sentido nessa lei seca. Aqui existe um tipo de kit de medicamentos para tratamento precoce, mas não é muito divulgado.

 

Itália

Juliana Luchiaro, 33 anos, consultora de cidadania italiana
Bolonha

Na Itália, como no resto da Europa em geral, a vacinação está uma confusão. Há algumas semanas, suspenderam a utilização da vacina da AstraZeneca por causa de algumas mortes por trombose e, dois dias depois de grande alarme, voltaram a dizer que a vacina era segura. No entanto, isso assustou muita gente. Apesar do ritmo ainda lento, o compromisso do Ministério da Saúde é que todos os italianos sejam vacinados até setembro, no final do verão.

 

Japão

Yu Yoshinoto, 39 anos, empresário
Tóquio

As escolas estão abertas e os bares e restaurantes precisam fechar às 20 horas. As pessoas usam máscara na maioria dos locais públicos. Muitos lugares podem exigir a saída de quem se recusar a colocá-la. A vacinação está bastante lenta. E o noticiário é bastante alarmista. Diante disso, me pergunto como as pessoas conseguirão seguir com a vida. Tudo tem sido muito longo e difícil. Espero que acabe logo e que eu possa voltar a viajar.

Thiago Kawanishi, 27 anos, soldador
Hamamatsu-shi Hamakita-Ku 

Os japoneses já têm o costume de usar máscara mesmo quando pegam algum resfriado para evitar passar para o próximo. Em tempos de pandemia, é muito difícil ver alguém sem máscara. O público está liberado em jogos de futebol e outros eventos esportivos, mas é obrigatório torcer em silêncio e só é permitido bater palmas.

 

Malásia

Victoria Panzan Delefrate, advogada
Kuala Lumpur

Em 2020, o governo instituiu um lockdown bem severo. A princípio era para durar 15 dias, mas de 15 em 15 ficamos uns dois meses com tudo fechado. As indústrias pararam, com exceção da de óleo e gás e da alimentícia. Só era permitido sair uma pessoa da família por vez, num raio de 10 quilômetros de casa, e apenas para comprar comida ou medicamentos. Os deslocamentos interestaduais e intermunicipais também estavam proibidos. Como o lockdown foi anunciado com 72 horas de antecedência, famílias ficaram separadas, estrangeiros que viajaram a negócios não puderam retornar. Essa situação gerou certa histeria. Apesar da grande ajuda financeira que o país recebeu da China, os pequenos e médios empresários foram varridos da economia. Em outubro começou uma segunda onda, mas as restrições dessa vez foram menos severas. Para entrar em qualquer lugar, inclusive em táxis e carros de Uber, é preciso fazer uma espécie de check-in, escaneando um código de QR-Code. Assim, o governo sabe onde você esteve e o aplicativo avisa caso você tenha tido contato com alguém contaminado. Quem não escanear é multado. Apesar de a vida em Kuala Lumpur estar relativamente normal, estamos presos, porque não podemos atravessar as fronteiras. Comparando, é como se estivéssemos em Brasília e não pudéssemos sequer ir até Goiânia.

 

México

Paulo Ricardo Brehmer Serem, 38 anos
Cidade do México

Existe um cânion entre a realidade escolar do México e a dos demais países. Aqui as escolas estão fechadas há 13 meses. Minha filha mais velha tem 7 anos, entrou na escola virtualmente, faz aulas on-line e nunca conheceu os professores ao vivo nem esteve na escola. E não existe previsão. O prejuízo para a educação é imensurável.

 

Panamá

Adriano Fava Ribeiro
Cidade do Panamá

O toque de recolher já foi das 19 às 6 horas. Hoje, está entre a meia-noite e as 4 horas. As restrições de mobilidade impostas sem o devido monitoramento dos casos não foram obviamente capazes de conter a doença e, ao mesmo tempo, fizeram retroceder a economia em cinco anos. Para um país deste tamanho, que depende do turismo e do comércio, isso significa desemprego. Já se nota uma quantidade cada vez maior de pessoas vivendo nas ruas e vários locais onde antes havia pequenos negócios estão com placas de aluga-se.

 

Portugal

Amanda Brunetti, 30 anos, gestora de conteúdo digital
Porto

As pessoas só podem ficar juntas em parques e praças se forem do mesmo grupo familiar. O mesmo acontece nas praias. Tudo é fiscalizado, há policiamento para todo lado para evitar aglomeração. Algo que é muito controlado também é a saída para outros concelhos [regiões]. Pedem para evitar o tráfego entre bairros. Nas vésperas de feriados, os deslocamentos não essenciais são sujeitos a multa.

Bruno Bononi
Cascais

Até 3 maio, os restaurantes só podem abrir de segunda a sexta, apenas as áreas externas e com no máximo quatro pessoas por mesa. Enquanto isso, a vacinação está bem atrasada. Só há poucos dias a avó da minha mulher, com 86 anos, recebeu a primeira dose.

Monise Magalhães dos Santos, 24 anos
Lisboa 

A maioria da população sempre teve uma atitude realista sobre a doença. As pessoas respeitaram as medidas sanitárias. Há jovens que fazem festas clandestinas e tal, mas de modo geral todos estão conscientes da gravidade da pandemia.

 

 

João Arantes Junqueira Payne, 26 anos, aluno de mestrado em ciência política na Universidade Católica Portuguesa
Lisboa

Desde 15 de abril algumas medidas de desconfinamento foram anunciadas e boa parte do país pôde retomar as atividades comerciais, ainda que com restrições. Em locais abertos, é possível andar sem máscara. Nem mesmo no pico da segunda onda, quando o país atingiu os piores índices do mundo em termos de contágio e mortes por milhão de habitantes, a polícia abordava pessoas na rua por andarem sem máscara.

 

Suécia

Carlos Bastos
Estocolmo

Nas ruas é muito raro encontrar alguém com máscara e poucos a usam em ambientes internos. Onde mais se vê é no transporte público, mas ainda assim muitos não respeitam a recomendação. Diariamente são publicadas notícias sobre o coronavírus, mas sem muito ‘alarde’. Embora ache que o ritmo da vacinação deveria estar mais rápido, estou satisfeito com a maneira como a Suécia vem lidando com a doença, dando liberdade à população para tomar decisões em vez de impor medidas.

 

Suíça

Catti Szterenlicht, 49 anos, cake designer
Genebra 

Aqui na Suíça, quem tem seguro-saúde — ou seja, toda a população — recebe cinco kits de teste covid grátis por mês. Se vamos a uma festa com dez pessoas, fazemos o teste antes de ir para ver se não temos a doença. Em caso negativo, está liberado. A informação é uma virtude do governo. Apesar de os casos continuarem a aumentar, as hospitalizações e mortes seguem estáveis. Diariamente, podemos acompanhar o avanço da pandemia, que é divulgado por faixa etária. Mais de 80% das mortes aconteceram entre aqueles com mais de 80 anos.

 

Turquia

Fernanda Mattos Castelhani, 36 anos, jornalista
Istambul

Existem algumas regras para circulação nas ruas em função da faixa etária. Idosos só podem sair de casa durante a semana das 10 às 13 horas, e crianças e adolescentes, das 13 às 16 horas — com exceção dos que vão para a escola. Todos os ambientes que frequentamos (shopping centers, supermercados, farmácias, prédios comerciais em geral, restaurantes, cabeleireiros, escolas) exigem apresentação de um QR-Code com informações pessoais e só com a leitura podemos entrar. É uma forma de prevenir o contágio e receber informações caso alguém por onde você passou tenha ficado doente.

Colaboraram Ana Brambilla, Artur Piva, Cristyan Costa, Fábio Matos e Paula Leal

4 comentários
  1. Varna
    Varna

    Excelente matéria! Muito bom saber sobre o que se passa com outros países e tirar a carga pesada de alarde que diariamente cai sobre a população, através dos meios de comunicação.

  2. Robson Oliveira Aires
    Robson Oliveira Aires

    Ótima reportagem. É bom conhecer a realidade dos diversos países pelo ótica dos que residem neles.

  3. Marcos Feitoza
    Marcos Feitoza

    Parabéns pela reportagem. A revista Oeste é o melhor meio de comunicação que pude presenciar nesse momento. Que continue assim, com notícias de qualidade, mantendo informado uma grande parcela do povo Brasileiro…

  4. Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva
    Luzia Helena Lacetda Nunes Da Silva

    Belíssima reportagem.
    Tudo o que a velha imprensa não revela.
    A Oeste vai na contramão, quero dizer, na mão certa.

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