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Edição 07

As crises e a importância que elas têm

Com todo o mal que constrói contra si próprio, Bolsonaro conta com a incompetência de seus inimigos para continuar protegido

J. R. Guzzo

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Todas as vezes que aparece uma crise no governo do presidente Jair Bolsonaro — e a cada quinze minutos aparece uma —, é bom esperar um pouco antes de concluir alguma coisa. A última calamidade, essa do complexo envolvendo a demissão do ministro Sergio Moro, a troca de comando na Polícia Federal e as ordens do STF (ou do ministro Alexandre de Moraes) a respeito, parece estar seguindo a trilha de todas as outras. Depois do grande incêndio que, desta vez, iria enfim destruir a floresta, a fumaça já está se desfazendo e a floresta continua lá, no mesmo lugar. Dias atrás, a sangrenta demissão de Moro prometia, segundo o noticiário político, ser a sepultura de Bolsonaro — e talvez, até mesmo, levar a uma denúncia contra ele por crimes previstos no Código Penal. Hoje a história toda já está desbotada, e o nome “Moro” vai aparecendo cada vez menos nas primeiras páginas e no horário nobre da TV. Alguém se lembra do ministro Luiz Mandetta? Pois é.

Mais uma vez na história do Brasil um rigoroso inquérito para apurar toda a verdade, doa em quem doer, caminha para ser apenas isso mesmo — um “rigoroso inquérito”, que por um momento brilha, depois de leve oscila e acaba caindo silenciosamente no arquivo morto. No caso, o país foi posto diante de uma apavorante investigação para descobrir se o presidente da República havia cometido crimes no exercício da função — por pressionar Sergio Moro, segundo as suspeitas, a fazer coisas que não deveria, enquanto estava no governo. O ex-ministro, segundo sua própria versão, não aceitou o assédio de Bolsonaro e por isso pediu demissão do cargo. Dias atrás, num clima de véspera do Juízo Final, Moro foi ouvido no inquérito aberto para descobrir tudo. Falou durante oito ou nove horas seguidas — e, no fim de todas as contas, o que realmente sobrou foi a declaração formal do ex-ministro de que ele mesmo, Sergio Moro, nunca disse que o presidente tinha cometido crime algum em seu relacionamento de quinze meses no governo. É isso, então?

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