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Edição 09

A desigualdade e o dinheiro dos outros

Colocar a burocracia estatal para escolher quem pode ou não pode ter recursos e oportunidades já foi tentado e nunca deu certo nem dará

Alexandre Borges
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Numa entrevista para a Folha de S.Paulo em 2016, o homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, afirmou que o problema do país é a “desigualdade”. Sua fortuna pessoal é estimada, segundo a revista Forbes, em um número com tantos dígitos que facilmente perdemos o senso de proporção. O tema é sempre requentado a cada divulgação dos relatórios da Oxfam, a famosa ONG que pauta como nenhuma outra a imprensa mundial todo ano mirando no livre mercado como um mal pior que o coronavírus.

Li Sonho Grande, o livro de Cristiane Correa sobre Lemann e seus sócios que, de maneira surpreendente e admirável, conquistaram o mundo. É uma história fascinante. Fica claro que Lemann acumulou seu patrimônio em razão de uma inteligência acima da média, trabalho duro e capacidade empreendedora sem limites. Para alguém que se preocupa com a desigualdade, poucos brasileiros são iguais ou menos comuns do que ele.

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Se Lemann pode ser considerado um ícone da desigualdade, não há nenhum problema nisso; ele certamente fez por merecer seu sucesso. Ao combater a lógica do sistema que possibilitou sua ascensão e o estonteante acúmulo de patrimônio, não sem a companhia de outros bilionários do planeta, ele pode estar perdendo de vista que o verdadeiro problema é a falta de mobilidade social promovida pelo sistema que muitos dos mais ricos do mundo agora olham com desconfiança.

É claro que Lemann teve um início de vida diferenciado da média dos brasileiros, com suas partidas de tênis no Country Club de Ipanema e sua formação na Harvard. Mas essa é a história de todos os bilionários da lista da Forbes? Uma olhada na lista mostrará que não.

Um ocupante regular do primeiro lugar da lista, Bill Gates, é um empreendedor que largou a Harvard para mergulhar no próprio negócio ainda adolescente.

Gates foi criado num lar de classe média e é claro que seus bilhões vêm de uma rara combinação de gênio e de sua obstinação pelo trabalho, assim como Steve Jobs, além de estar no lugar certo e no momento certo da ascensão dos computadores nos Estados Unidos da era Reagan.

Outro ocupante regular das primeiras posições na lista da Forbes é o espanhol Amancio Ortega, dono da Zara, um filho de ferroviário. Ortega começou a vida profissional aos 14 anos, quando largou a escola e foi trabalhar como costureiro numa pequena loja. É ainda mais rico que Lemann. Os exemplos continuam com Warren Buffett, Carlos Slim, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg, Larry Ellison, Michael Bloomberg e os irmãos Koch.

Algum sultão, rei ou herdeiro de um conglomerado entre os maiores bilionários do mundo? Nenhum.

E aí está um dos mais poderosos argumentos do livre mercado. A lista dos mais ricos da Forbes começou em 1987, e recomendo que você dê uma olhada nela antes de formar uma opinião definitiva sobre o assunto. Você verá que os ricos de trinta anos atrás, bem como seus herdeiros, praticamente não são encontrados na lista atual. A riqueza, no livre mercado, é móvel. Há ricos e pobres em todos os países, o que é raro é a mobilidade social.

Colocar a burocracia estatal para escolher quem pode ou não pode ter recursos e oportunidades já foi tentado e nunca deu certo nem dará. Simplesmente não funciona, e a arbitrariedade, quando substituta do mérito e da liberdade, acaba por empobrecer quem finge querer ajudar. A história, a boa ciência econômica e a realidade não deixam dúvidas.

O que faz o crescimento econômico e o desenvolvimento é a livre alocação de recursos por seus proprietários, que apostam o próprio patrimônio no mercado na tentativa de multiplicar o investimento. Seu sucesso depende da aceitação do consumidor, que livremente premiará seu talento, trabalho duro e criatividade com dinheiro, numa troca em que ambos saem ganhando.

Quando governos saem da economia, o espírito empreendedor da população floresce e os caminhos para a mobilidade social se abrem.

Nas nações em que uma aristocracia formada de uma elite culpada, intelectuais, ativistas e tecnocratas que resolvem decidir em nome do povo onde os recursos do país devem ser alocados, o resultado é miséria, corrupção e, claro, mais “desigualdade” entre a elite e a população. A mesma desigualdade que os bilionários progressistas de hoje dizem querer combater.

Os líderes da sociedade devem ser reconhecidos e aplaudidos pelo que conquistaram e pelo que sabem fazer, não necessariamente por suas ideias políticas, sua cultura e seu código moral e ético, não raro totalmente distintos do resto da população. Especialmente quando sua principal proposta é filantropia com o dinheiro alheio, usando a burocracia estatal como meio.

A solidariedade humana reside na moral, e não na economia. O homem mais rico da lista da Forbes é também o fundador da Bill & Melinda Gates Foundation, a maior e mais importante ONG do mundo. Seu maior doador é, além do próprio Bill Gates, Warren Buffett. Quantos políticos podem exibir um currículo como esse?

Não é necessário questionar os motivos que fazem com que muitos bilionários progressistas não dividam hoje mesmo seu patrimônio para “combater a desigualdade”, e é direito deles decidir o que querem fazer com o fruto de seu esforço, talento e sucesso. O que não fica bem é acharem que o problema do mundo se resolve dividindo o dinheiro dos outros.

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Alexandre Borges é podcaster e analista político. Seu canal no YouTube Imprensa Livre teve mais de 2 milhões de views no segundo turno da eleição de 2018. É também analista político e colunista da revista Veja, do jornal Gazeta do Povo e autor contratado da Editora Record. Na dio Jovem Pan, foi apresentador do programa 3 em 1, líder de audiência no segmento.

15 comentários
  1. Paulo Gustavo Pinto Cesar De Carvalho
    Paulo Gustavo Pinto Cesar De Carvalho

    “O que não fica bem” é se acharem acima dos demais mortais e quererem ditar que o remédio (Globalismo, Nova Ordem Mundial e/ou quetais) para a desigualdade é diferente da fórmula que os possibilitou chegar onde chegaram.
    Isto, o globalismo, corresponde a matar o sonho dos indivíduos.

  2. miguel Gym
    miguel Gym

    Uma coisa é o dinheiro e a riqueza que ele traz.É bom para todos poque ninguém enterra dinheiro.Outra coisa são as ONGs que esses bilionários inventam sempre com objetivos escamoteados.E servem para tudo, até para criar e promover débeis mentais robotizados como Gretta-ambientalistas- ou Felipe Neto,político infanto juvenil-fascista.Vem em ondas e concordo com leitor Márcio André.Isso tem nome: globalismo ou Nova Ordem Mundial.O texto é bom mais engana.

  3. Igor De Oliveira Carvalho
    Igor De Oliveira Carvalho

    Excelente artigo Ufa!!!

  4. Otacílio Cordeiro Da Silva
    Otacílio Cordeiro Da Silva

    Uma coisa curiosa com a riqueza é que nem todo mundo quer ser rico. Ser rico dá muito trabalho. Mas a riqueza pura e simples é um benefício indispensável para a humanidade. Além do mais, o Criador do Universo não ficou pobre pelo que ele nos deu. O problema está no homem, que politiza demais pobreza e riqueza. Nos dias de hoje, especialmente, os novos ricos querem ir além do alcance que é salutar a todos nós. Inventam ONGs e o diabo a quatro para aumentar sua influência no mundo, mas não é isso que nos interessa. O que adiantaram esses milhões de ONGs mundo afora nesta pandemia? O vírus chegou e zombou da cara de todo mundo. Inevitavelmente, deveremos passar em breve por uma experiência nefasta em que iremos precisar muito deles, os ricos, mas que seja algo sem frescura e palavras vãs. De falsas narrativas estamos fartos.

    1. Márcio André de Alcântara Souza
      Márcio André de Alcântara Souza

      “Nos dias de hoje, especialmente, os novos ricos querem ir além do alcance que é salutar a todos nós. Inventam ONGs e o diabo a quatro para aumentar sua influência no mundo, mas não é isso que nos interessa.”

      Isso tem nome: globalismo ou Nova Ordem Mundial.

  5. Renato
    Renato

    Ao fazer o login depois de ter iniciado uma leitura, tenho de achar aquele texto novamente no site. Penso que em casos assim deveria o sistema me trazer ao ponto que estava. Obgd!

    1. Jorlando Correia Garcia
      Jorlando Correia Garcia

      Concordo com o que Renato reclama acima. Além desse inconveniente, a cada momento após ter fechado a janela da revista, se entrar novamente tenho que fazer login sem ter reiniciado o celular ou notebook ou apagado o histórico ou os registros do site.
      Minha primeira sugestão foi acatada: retirada da janela da assinatura que a toda nova página aparecia na tela mesmo para os assinantes.
      Espero que as novas sugestões também sejam aceitas.

    2. Natan Carvalho Monteiro Nunes
      Natan Carvalho Monteiro Nunes

      Gostaria que fosse assim também. Após clicar em login, retornar à mesma página.

  6. Rogério Antonio Gonçalves
    Rogério Antonio Gonçalves

    Existe na esquerda, não importa se rico ou pobre. O pobre vive do dinheiro dos outros e acham que é um dever do Estado tirar do cidadão que trabalha e dar ao bocó que vive de ideologia. O rico de esquerda acumula riqueza, vive na riqueza, critica a desigualdade, mas adora distribuir o dinheiro do outro que trabalha duro, recusando e fazendo lobby para impedir imposto sobre grandes fortunas e sobre transmissão de bens inter vivos. Ou seja, no deles ninguém mexe, mas no nosso, pode.

  7. Alberto Junior
    Alberto Junior

    Artigo preciso. Desnuda a falsa moral que deita e rola na aldeia global.

    1. Josinaldo Domingos de Oliveira
      Josinaldo Domingos de Oliveira

      Não esqueçamos que Bill Gates é globalista.
      Essa fundação precisa ser estudada mais de perto. O cara previu a pandemia ao mesmo tempo que investe em vacinas e fala em aplicação global.

      1. Ney Pereira De Almeida
        Ney Pereira De Almeida

        Este é um fato muito importante! Bill Gates e sua ONG, como centenas de outras de bilionários como os Rothschilds, os Rockefeller, os Ford e tantos outros defendem o Globalismo Político, uma forma de governo mundial baseado na extinção de todas as Soberanias Nacionais, das liberdades individuais e da política diferenciada da deles. Da mesma forma pretendem controlar os Sistemas de Produção, pondo um fim nos Sistemas Liberais e Independentes e até mesmo da livre expressão do pensamento individual escamoteado por um falso humanismo pacifista. Tudo baseado nas ideias alucinadas de H. G. Welles e Bernard Shaw, do final do Sec. 19. O grande ponto que torna tudo SOMBRIO e, evidentemente, muito suspeito é que eles nunca aparecem nem aparecerão. Pretendem exercer o controle absoluto através da ONU (entidade que já controlam) e dos Partidos Comunistas Chinês, Russo e Americano (disfarçado em Democratas). A Unidade Europeia está sendo o Plano Piloto. Já dá para ver o desmantelamento das Nações da Europa Ocidental. A coisa, contudo, não vai ser tão fácil como eles pensam. O BREXIT, saida do Reino Unido do Bloco Europeu e a inesperada ascensão dos Republicanos na Casa Branca com a tenaz resistência de Donald Trump, marcadas pelo desmascaramento da China no episódio dos Roubos de Patentes e da Pandemia do coronavírus e da própria ONU/OMC nos dão mostra de que haverá muita resistência a essa tentativa de transformar o mundo numa grande Federação (de participação obrigatória, para todos, na marra) sob o comando único e hegemônico de uma só ideologia, a deles. O Brasil é um bom exemplo desse projeto sórdido que atenta contra a diversidade cultural da sociedade humana e da liberdade dos indivíduos e suas raizes nacionais.

      2. Márcio André de Alcântara Souza
        Márcio André de Alcântara Souza

        O objetivo do texto foi elogiar Bill Gates e sua fundação globalista. Percorreu vários parágrafos, nos tapeando, para chegar a este “grand finale”.
        Alexandre Borges está cumprindo muito bem seu papel de agente da Nova Ordem Mundial.
        Urge que ele seja retirado do time da Revista Oeste.

  8. Marcos De La Penha Chiacchio
    Marcos De La Penha Chiacchio

    Perfeito, o ápice do artigo é a frase final “O que não fica bem é acharem que o problema do mundo se resolve dividindo o dinheiro dos outros”.

  9. Rafael Lippi
    Rafael Lippi

    Excelente artigo, Borges. Sempre vemos exemplos de pessoas famosas e ricas, mas se olharmos ao nosso redor podemos ver no dia-a-dia pessoas que cometem o mesmo tipo de hipocrisia. Pessoas que gritam aos 4 ventos que o Estado deve suportar os mais pobres mas nunca ajudaram um necessitado nas ruas. Pessoas que clamam pelo fim aos supostos danos ao meio ambiente mas são incapazes de sequer separar o lixo reciclavel em casa. Vivemos num mundo onde todos reclamam que ninguem fez algo que qualquer um poderia ter feito. Fazer bondade com o dinheiro dos outros é facil demais! Parabéns!

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