O uso de canabidiol (CBD) durante a gravidez tem aumentado para aliviar sintomas como náuseas, vômitos, dores de cabeça, ansiedade e depressão. No entanto, especialistas afirmam que há poucas evidências sobre os riscos dessa exposição pré-natal para os bebês.
As informações fazem parte da pesquisa “CBD gestacional modifica córtex insular em adultos”. Os pesquisadores divulgaram o estudo no Fórum da Federação Europeia de Sociedades de Neurociência, em Viena (Áustria), no fim de junho. Os relatórios estão disponíveis na plataforma on-line bioRxiv, desde 29 de junho.
+ Leia mais notícias de Saúde em Oeste
O novo estudo com camundongos em laboratório avaliou os efeitos da exposição ao canabidiol durante a gestação. A pesquisa constatou que a substância provoca mudanças cerebrais nos fetos, que podem resultar em alterações cognitivas e comportamentais na vida adulta.
O experimento dividiu em dois grupos as fêmeas de camundongos grávidas: um recebeu doses baixas de canabidiol (cerca de 3 mg por kg do animal) do 5º ao 18º dia de gestação, enquanto o outro grupo recebeu placebo. Depois do nascimento, análises laboratoriais avaliaram os filhotes por eletrodos e as estruturas cerebrais.
A pesquisa focou na região do córtex insular, a primeira parte do córtex a se formar durante a fase embrionária. Essa região se divide em duas sub-regiões: anterior, fundamental para o processamento de emoções e interações sociais; e posterior, envolvida no controle motor e resposta sensitiva.
Nos camundongos expostos ao canabidiol durante a gestação, a diferenciação das sub-regiões do córtex insular não ocorreu em nenhum dos sexos observados.
Pesquisadora explica resultado do estudo com canabidiol
A pesquisadora Daniela Iezzi, pós-doutoranda do Instituto de Neurobiologia do Mediterrâneo, da Universidade Aix-Marseille, em Marselha, na França, e primeira autora do estudo explicou os resultados da pesquisa.
“Já tínhamos outras pesquisas mostrando alterações cognitivas de curto e longo prazo em adultos depois do uso de substâncias durante a gestação, como tabaco e a própria Cannabis“, afirmou Daniela. “O nosso estudo ajuda a mostrar efeitos também da exposição pré-natal do canabidiol, substância que pode ser passada pela placenta para bebês.”
Leia também:
Outro estudo apresentado no mesmo congresso, conduzido pela doutoranda Alba Caceres Rodriguez, do Instituto Nacional de Saúde e de Pesquisa Médica, observou variações no comportamento dos roedores expostos ao canabidiol durante a gestação. De modo geral, as fêmeas se mostraram mais curiosas e se movimentaram mais no grupo que recebeu canabidiol, enquanto os machos reduziram as interações sociais.
“Encontramos uma série de mudanças comportamentais entre os animais expostos ao canabidiol”, afirma Alba. “As fêmeas expostas ao CBD tendiam a se movimentar mais em seu novo ambiente em comparação com as fêmeas que não receberam CBD durante a gestação. Além disso, em comparação com os ratos de controle, tanto os ratos machos quanto as fêmeas tratadas com CBD estabeleceram mais contatos físicos entre si.”
Por fim, a pesquisadora destaca que, embora o estudo tenha sido realizado com animais em laboratório, sua relevância está na contribuição para a compreensão da relação entre dose, frequência de uso e possíveis efeitos. Para ela, o trabalho pode começar a ser levado para seres humanos.
“É importante enfatizar que maior acesso a informações sobre dose, composição e uso do canabidiol em gestantes será útil no futuro para reduzir o máximo possível as lacunas do conhecimento clínico e pré-clínico”, disse Daniela. “Assim, acelerando a passagem de pesquisas em modelos animais para humanos.”