De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade da população do planeta sofre de gastrite. Além da bactéria Helicobacter pylori aparecer como “vilã”, a gastroenterologista Rafaela Dassoler explica que anti-inflamatórios e outros tipos de medicamentos podem desencadear tal condição.
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Em entrevista a Oeste, Rafaela, que é especialista em gastroenterologia e pós-graduada em doenças funcionais, ressalta, contudo, que nem todo desconforto abdominal representa quadro de gastrite. Afinal, tal diagnóstico representa a inflamação da mucosa gástrica.
Ao falar sobre a questão, a profissional, que é professora de gastroenterologia e orientadora do ambulatório de doença inflamatória intestinal da Faculdade de Medicina do ABC, reforça a importância de uma alimentação saudável para cuidar da gastrite e de outros casos relacionados ao aparelho digestivo. “Tem que ter um prato bem colorido”, enfatiza.
Em tempos de que a liberação do porte de drogas para consumo próprio entram em discussão no Supremo Tribunal Federal, a doutora aproveita para emitir alguns alertas. Afinal, ela afirma que cocaína e maconha são fatores de risco para problemas gástricos.
Além disso, Rafaela desfaz alguns mitos em relação ao que se pode consumir. Incentiva, por exemplo, a ingestão de carnes (proteína) e dá “bronca” em quem por livre e espontânea vontade faz a sua própria lista do que não se pode comer. “Hoje na medicina, falamos muito em evitar dietas restritivas”, conta ela, ao informar que a autorrestrição alimentar pode provocar problemas como anemia e até distúrbios psicológicos.
Entrevista sobre gastrite: 5 perguntas para…
Confira, abaixo, a entrevista com a Dra. Rafela Dassoler, na seção 5 perguntas para.. do site da Revista Oeste.
1 — O que é e como diagnosticar a gastrite?
A gastrite é uma inflamação da mucosa gástrica. O diagnóstico se dá por meio da endoscopia e da biópsia. As pessoas costumam chamar de gastrite qualquer desconforto na região do estômago, como dor e “queimação”. Mas nem todo desconforto abdominal é gastrite. Vale ressaltar que há vários tipos de gastrite, mas as mais comuns são a crônica e a aguda (ou reativa).
2 — Quais as diferenças da gastrite crônica para a reativa?
A crônica é, geralmente, silenciosa e pode ser fator de risco para alguma doença, como úlcera gástrica, úlcera duodenal (entre o estômago e o intestino delgado), pólipos gástricos e até o câncer gástrico (de estômago). Na maioria absoluta dos casos da versão crônica, a gastrite ocorre por causa da presença da bactéria Helicobacter pylori, que, geralmente, a pessoa adquire ainda na infância, por meio de contaminação.
Em relação às gastrites reativas: elas também geram lesões vistas por meio da endoscopia. São geradas principalmente por causa de medicamentos, sobretudo anti-inflamatórios e remédios para tratamento de osteoporose.
3 — Mas além dos remédios, o que mais pode provocar a gastrite?
Uma alimentação rica em sal, gordura e condimentados (como salame, linguiça, salsicha, presunto e alguns enlatados), além de consumo em excesso de álcool, cigarro e drogas como a cocaína e a maconha, que pode, inclusive, provocar ânsias e vômitos. Na parte de bebida, importante ressaltar que não há problema tomar uma cerveja aos finais de semana; o problema é beber todo dia.
Muitas vezes, o fato de ser sedentário acaba sendo acompanhado do hábito de “comer errado”
Dra. Rafaela Dassoler
4 — Como tratar a gastrite?
Uma boa alimentação saudável é sempre o principal caminho para o tratamento. Uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes e fibras. Deve-se também comer carne, proteína em geral, e carboidratos, que nos dão energia. O problema é quando só se come carboidratos, como pães, massas e arroz, por exemplo. É que nem a gente brinca: tem que ter um prato bem colorido.
Importante registrar que é recomendável a realização de atividades físicas, até porque, muitas vezes, o fato de ser sedentário acaba sendo acompanhado do hábito de “comer errado”. Além de comer bem, outra coisa importante é comer devagar, mastigar bem, o que ajuda o estômago a triturar melhor os alimentos.
E claro: nos casos de Helicobacter pylori, é necessário fazer uso de antibióticos para eliminar a bactéria.
5 — Mesmo sem diagnóstico de gastrite, há pessoas que começam a tirar determinados tipos de alimentos da dieta. Isso é correto?
Não. Uma coisa é ter intolerância à lactose ou doença celíaca, aí, não tem jeito, é preciso cortar alimentos derivados do leite e glúten, respectivamente. Mas na literatura médica não há nenhum estudo que aponte para a restrição de grupos alimentares em casos de gastrite, por exemplo. Pelo contrário, aliás. Hoje na medicina, falamos muito em evitar dietas restritivas. O que a gente tem visto: muitas pessoas criam suas próprias listas de alimentos “proibidos”, sem o devido acompanhamento, e começam a desenvolver desnutrição, anemia e até distúrbios psicológicos.
Dessa forma, vale o reforço: é sempre preferível ter a mais variada alimentação possível. E não ter medo de procurar um médico. Afinal, nada melhor do que uma boa conversa entre médico e paciente para entender cada caso e, assim, seguir com o mais eficaz tratamento.