Rafael Ughini Villarroel, da Oceana, elogia conduta do mercado nacional em relação à sustentabilidade — apesar de críticas e ameaças de desinvestimento vindas do exterior
No último mês, 29 instituições financeiras internacionais se mostraram preocupadas com o Brasil, sobretudo em relação ao desmatamento na Amazônia. De acordo com informações publicadas na ocasião pelo jornal inglês Financial Times, as empresas em questão chegaram a assinar de forma conjunta um manifesto repudiando o que entendiam como falta de atenção dedicada ao meio ambiente brasileiro. No documento, cobraram, por exemplo, ações por parte do governo federal.
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A reclamação tornada pública recentemente por essas instituições não pode ser ignorada, avalia Rafael Ughini Villarroel, CEO da Oceana Minerals, empresa que extrai a Lithothamnium, tipo de alga que possui nutrientes empregados pelos setores da agricultura e da pecuária. Para o executivo, é preciso levar em consideração os pontos levantados no manifesto. Isso não representa, no entanto, que empresas do país estejam ignorando práticas de preservação do meio ambiente. Pelo contrário, avalia.
“O trabalho de se preocupar com a origem dos produtos já existe”
Villarroel afirma que, pelo que entende do cenário brasileiro, as companhias estão cada vez mais preocupadas com questões de sustentabilidade. O erro está, conforme enfatiza, no quesito divulgação. “Vejo a necessidade de reforçar a comunicação, pois o trabalho de se preocupar com a origem dos produtos já existe e é cada vez mais forte por aqui”, diz o CEO da Oceana Minerals em entrevista a Oeste. Ele avisa, ainda nesse sentido, que não seria preciso esperar reclamação vinda do exterior para desenvolver trabalho de comunicação mais propositivo, e não apenas com o mero intuito de “apagar incêndio”.
Outros aspectos
Sem querer entrar no mérito da política e das relações comerciais, Villarroel pontua que é preciso considerar que, sim, há “fatores políticos” e questões ligadas a negociações de acordos bilaterais como pano de fundo do manifesto. No âmbito da empresa para a qual trabalha e de outras companhias brasileiras, ele ressalta que, independentemente da carta direcionada ao governo federal, o mercado europeu vinha cobrando cada vez mais feitos vinculados à sustentabilidade e, consequentemente, à preservação do meio ambiente. Nesse sentido, informa que o Brasil tem trabalhado de modo “bem consciente”.
Dessa forma, a rotina de empresas brasileiras está em sintonia com ações do governo federal. Na última semana, por exemplo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Plano de Investimento para Agricultura Sustentável. Conforme noticiado por Oeste, o programa foi apresentado ao mercado — nacional e internacional — sob chancela da Climate Bonds Initiative (CBI), entidade responsável por emitir certificações de títulos verdes.
Pandemia
A prova de que o setor agropecuário brasileiro está no caminho certo em ações de sustentabilidade é, nas palavras de Villarroel, o fato de a palavra “crescimento” estar presente mesmo diante do momento de crise internacional em decorrência da pandemia do novo coronavírus. “O agro brasileiro está conseguindo não sofrer”, diz. “Mais do que isso: está aumentando sua participação no mundo.” Participação essa que, segundo ele, tem atendido mercados exigentes como a Europa, o Japão e os Estados Unidos.
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