O Campeonato Paulista de futebol será retomado. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), confirmou que aceitou a nova recomendação do Ministério Público do Estado, que aprovou os protocolos apresentados pela Federação Paulista de Futebol (FPF) e deu sinal verde para a realização dos jogos, mesmo durante a fase emergencial do PlanoSP de combate à pandemia da covid-19. O anúncio oficial foi feito pelo vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
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Em entrevista à Rádio CBN, Doria disse que o Centro de Contingência da covid-19 em São Paulo atendeu à recomendação do MP. “Ontem, no início da noite, o MP, depois de várias reuniões com a federação e com a participação do coordenador do Centro de Contingência, o doutor Paulo Menezes, tomou a decisão de liberar os jogos do Campeonato Paulista. Isso será anunciado oficialmente nesta sexta-feira, na coletiva de imprensa. A orientação feita pelo MP e acatada pelo Centro de Contingência foi obviamente acatada pelo governo de São Paulo”, afirmou o tucano.
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Com o agravamento da crise sanitária em São Paulo, o Campeonato Paulista foi suspenso no dia 15 de março, quando entrou em vigor a fase emergencial do PlanoSP do governo do Estado. Inicialmente, a competição ficaria suspensa até 30 de março, mas o veto foi estendido para 11 de abril. Na coletiva de hoje, Doria deve anunciar a prorrogação da fase mais rígida de restrições no Estado, mas abrirá uma exceção para o retorno do futebol.
Até o momento, foram disputadas apenas quatro rodadas do campeonato, de um total de 12, além de um jogo isolado da quinta rodada. Desde que o torneio estadual foi suspenso, duas partidas foram realizadas em Volta Redonda, no Rio de Janeiro: Mirassol 0 x 1 Corinthians e São Bento 1 x 1 Palmeiras.
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Novo protocolo
Há algumas semanas, como Oeste noticiou, a FPF vinha trabalhando com os clubes em torno de um novo protocolo de segurança para a prevenção de casos de covid-19. novo protocolo é assinado pelos profissionais que compõem a Comissão Médica da FPF e chancelado pelos médicos dos 16 clubes que disputam o Paulistão. No documento, são estipuladas medidas mais rígidas do que aquelas que constavam da versão anterior do protocolo.
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Entre as novas determinações, está a concentração das equipes em “bolhas”, evitando grandes deslocamentos e, com isso, diminuindo a possibilidade de propagação do coronavírus. A ideia é que os atletas fiquem isolados em hotéis ou centros de treinamento, sem qualquer contato com familiares ou com o ambiente externo. A FPF também diz que ampliará os testes de detecção da covid-19 e promoverá uma drástica redução no número de profissionais trabalhando nos estádios durante as partidas.
Reportagem especial publicada no dia 23 de março por Oeste mostrou que o Centro de Contingência da covid-19 do governo paulista não levou em consideração os protocolos e dados científicos apresentados pela FPF — baseados no protocolo elaborado pela Comissão Médica da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) —, que atestam a segurança do futebol em São Paulo, em meio à pandemia.
O coordenador da Comissão Médica da CBF, Jorge Pagura, apresentou um relatório detalhado sobre os protocolos de segurança sanitária adotados pela entidade durante o último Campeonato Brasileiro. Participaram dos estudos profissionais de medicina esportiva, epidemiologistas, infectologistas e especialistas em bioinformática. Foram realizados 89.052 testes RT-PCR para a detecção do coronavírus em um universo de 13.237 atletas, permanentemente monitorados. Os especialistas analisaram 116.959 inquéritos epidemiológicos encaminhados pelos clubes e 4.860 planilhas de jogos. Entre todos os campeonatos organizados pela entidade, o índice de testes com resultado positivo para a covid-19 foi de 2,2%. “Uma coisa importante foi que nós comparamos a curva de incidência com a curva do país, que a gente calcula por 200 mil habitantes. Você tinha fases de alta transmissibilidade na população e baixa no futebol. E, às vezes, você tinha alguns surtos em times, e estava baixo [na população em geral]. Essa curva dissociou-se da curva do Brasil”, explicou Pagura em entrevista a Oeste.
Pressões
Ao anunciar a prorrogação da fase emergencial do PlanoSP pelo menos até o dia 11 de abril, integrantes do Centro de Contingência do governo paulista reclamaram das pressões pela volta do futebol em São Paulo. “Nós temos acompanhado a pressão enorme que as federações e a confederação [CBF, Confederação Brasileira de Futebol] têm feito para que não se interrompam os jogos. Neste momento, é preciso suspender todo tipo de atividade que seja possível suspender. Nós mantemos a posição do Centro de Contingência de não haver neste momento nenhum tipo de atividade esportiva, como os jogos do Campeonato Paulista ou de outros campeonatos”, afirmou Paulo Menezes, membro do comitê, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes na quarta-feira 24.
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