Eneida Parizotto-Lee e Wen Hwa-Lee, da Universidade de Oxford; e Margareth Dalcomo, da Fiocruz contaram o que já se sabe sobre a vacina mais avançada em desenvolvimento até agora
Normalmente, um novo remédio ou vacina demora de dez a 15 anos para ser desenvolvido, custa em torno de US$ 2,6 bilhões e tem uma taxa de sucesso de apenas 2%. Com a chegada da pandemia de covid-19, porém, essa história teve de mudar: a rapidez e a facilidade na transmissão da doença levaram os cientistas a correrem para tentar desenvolver terapias e vacinas que ajudassem pacientes infectados com o vírus.
Atualmente, 747 terapias são estudadas no mundo, sendo cem delas vacinas. Destas, a mais avançada começa em breve seus testes em humanos e vem da Universidade de Oxford. Abaixo, listamos dez curiosidades sobre a ChAdOx1 nCov-19.
- O nome da vacina é dividido por partes: Ch vem de Chipanzé, primeiro animal em que foi testada a substância. Ad de adenovírus, o vetor viral que “ataca” o vírus. Ox de Oxford, universidade criadora da vacina. 1, porque é a primeira tentativa. E nCov-19 porque é contra a covid-19.
- Os testes atuais não são os primeiros: em 2012, a vacina, com outra denominação, foi testada para Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). Por isso o estudo pôde avançar tão rapidamente.
- A vacina será dada em 30 mil pessoas nos Estados Unidos, 10 mil no Reino Unido e 2 mil no Brasil. Metade dos pacientes receberão a substância e metade, um placebo. Os pacientes serão profissionais de saúde acima de 56 anos e uma pequena parte, crianças entre 5 e 12 anos.
- Na primeira fase, foi testada a segurança da vacina.
- Na segunda fase, a eficácia em animais.
- Na terceira, última e atual fase, a ideia é testar a efetividade em humanos, para saber, por exemplo, que efeitos colaterais o medicamento pode ter e por quanto tempo a imunização pode durar.
- A ChAdOx1 nCov-19 não deve impedir o coronavírus, mas sim sua forma mais grave, aquela que causa pneumonia e leva a graves complicações respiratórias.
- Não é possível ter certeza de quando a terceira fase termina, mas os primeiros resultados devem começar a ser analisados pela universidade em setembro.
- A produção da vacina no Brasil depende de acordos comerciais para a transferência de tecnologia para alguma instituição do país. Segundo a pneumologista Margareth Dalcomo, tanto a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quanto o Instituto Butantan estão aptos a receberem a produção, bastando que governo, empresas e a Universidade de Oxford cheguem a um consenso. A AztraZeneca já tem acordo para produção da vacina para os Estados Unidos e o Reino Unido e a Serum deve produzir 1 bilhão de doses para a Índia.