Dimas Covas: o Brasil poderia ter sido o primeiro país a vacinar. Será mesmo?

Ontem, quarta-feira 26, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, em depoimento à CPI da Covid, disse que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação contra a covid-19. Isso porque, segundo Covas, em dezembro de 2020 havia quase dez milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Butantan, disponíveis para aplicação no país.

Entretanto, como mostrou uma gravação divulgada durante a CPI, o próprio diretor do Butantan admitiu ao governador do Estado de São Paulo, João Doria (PDSB), que as vacinas somente estariam disponíveis a partir de janeiro de 2021. Em novembro do ano passado, chegaram ao Brasil 120 mil doses da vacina chinesa. No decorrer de dezembro, chegaram mais lotes, e na véspera do Natal, chegou o quarto carregamento vindo da China, totalizando 8,6 milhões de doses ( entre vacinas prontas e para envaze).

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Ocorre que o pedido de registro de uso emergencial do imunizante chinês perante a Agência Nacional de Vigilância Sanitária só ocorreu em 8 de janeiro de 2021, um dia após a divulgação dos resultados parciais dos testes com a CoronaVac no Brasil.

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O jornalista Leonardo Coutinho publicou uma sequência de 13 tuítes em que mostra as incongruências da afirmação do diretor do Butantan, seguindo a cronologia dos fatos. O questionamento de Coutinho permanece uma incógnita: “Como o Dr. Dimas fala em aplicação em 2020 se eles resolveram colocar os números à prova apenas em 2021?”

Confira:

#1 Ô arrependimento de cair na tentação de acompanhar a #CPIdaCovid. O presidente do @butantanoficial, o senhor Dimas Covas, disse que em dez/20 havia uma disponibilidade de quase 10 milhões de doses. E que o Brasil poderia ter sido o primeiro a país a vacinar. Será? https://t.co/YeSbBc8iHB

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#2 Em 6 novembro, apenas um mês antes da tal disponibilidade, o governador @jdoriajr queria pegar um “chinês pelo pescoço”, pela falta de vacinas. O registro foi feito pela série imperdível do @alvaropereirajr, que narra a corrida pelas vacinas. https://t.co/kanAAdwAmt

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#3 Naquele mesmo 6 de novembro de 2020, o dr. Dimas Covas prometia ter a vacina em janeiro de 2021. Ou seja. É possível entender que não existiam doses disponíveis para entrega naquele momento. pic.twitter.com/TOlslakkO6

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#4 A pressão do governador paulista parece ter surtido efeito. O primeiro carregamento com apenas 120.000 doses chegou ao Brasil treze dias depois. A nota da @Reuters informa que era a primeira leva de 6 milhões prontas que estavam na #China.https://t.co/DbjOZfZroa

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#5 As demais doses chegaram ao longo de dezembro. Sendo que o último lote daquele mês chegou na véspera do Natal, totalizando 8,6 milhões de doses (entre prontas e para serem envazadas). Bem menos de 10 milhões, vale ressaltar.https://t.co/qo1Z3jX38H

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#6 O pedido de registro só foi apresentado na @anvisa_oficial em 8 de janeiro. E a apresentação pública dos dados de eficácia no dia doze daquele mês. Como o Dr. Dimas fala em aplicação em 2020 se eles resolveram colocar os números à prova apenas em 2021? https://t.co/dquakCVRq7

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#7 A Anvisa aprovou o uso emergencial no dia 17 de janeiro e naquele mesmo dia, SP vacinou a primeira pessoa no Brasil. A nota abaixo fala do início da vacinação do Brasil. As tais 10 milhões de doses do Dr. Dimas minguaram para 6 milhões. Mas enfim. https://t.co/vPBRHrutdE

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#8 O Butantan tem sérios problemas de transparência como intermediário da Sinovac no Brasil. Não abriu números plenamente. Quer que todos confiem na tradição do nome, sem se dar conta que se desgasta por apostar na confiança. Cadê os ótimos números de Serrana, por exemplo?

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#9 Não se trata de torce contra uma vacina específica. Mas é duro ter que topar algumas coisas. 1) até hoje não se conhece um estudo de fase 3 devidamente revisado por pares. 2) A vacina é a mais fraca do mundo e tem sua eficácia questionada por um grupo de cientistas. (segue)

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#10 4) Mesmo com a precariedade dos números, a Coronavac foi aprovada emergencialmente no Brasil em apenas nove dias. 5) As primeiras aplicações foram imediatas. João Dória vacinou a primeira pessoa do Brasil naquele mesmo dia.

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#11 Ah! Mas o governo federal atrapalhou a compra das vacinas. Dimas disse que a primeira treta foi em outubro. Mas e a reunião gravada pela Globo? O Dória queria estrangular um tal chinês por não ter vacinas disponíveis, não é mesmo?https://t.co/3BMmBoJJvM

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#12 É notório que Bolsonaro desdenhou da vacina. Tanto ele quanto o Dória travaram uma queda de braço por ela. O processo foi politizado, mas acho que pouco afetou nos prazos. A falta de doses se deve ao papel da #China que reage conforme seus interesses.

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021

#13 É inexplicável como as autoridades se recusam a entender que não estão negociando com um país que é fornecedor de vacinas ou é o chão de fábrica para produção de insumos de empresas ocidentais (AstraZeneca/Oxford). Estão lidando com sequestradores. O método é idêntico.

— Leonardo Coutinho (@lcoutinho) May 27, 2021