O Exército da Suécia tem alertado a população para uma possível ameaça de ataques russos ao país. O medo de uma guerra provocou um intenso debate em Estocolmo. Em virtude desse clima de tensão, os moradores estão indo aos supermercados para comprar bebidas e alimentos.
O país teme ameaças russas por ser candidato a membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desde maio de 2022. Essa teria sido uma das motivações do ataque russo à Ucrânia.
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A Suécia não é historicamente um país ligado a guerras. O último conflito armado que a nação participou foi no século 19, durante as Guerras Napoleônicas. Atualmente, os suecos enviam tropas para operações de manutenção da paz.
Por isso, a maioria dos suecos não sabe qual é a realidade de uma guerra. O ministro da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, alertou a população em uma conferência de defesa no último domingo, 14. “Pode haver uma guerra na Suécia”, disse.
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No mesmo evento, o comandante-chefe das Forças Armadas da Suécia, Micael Byden, concordou com seu colega e mostrou imagens de casas queimadas e bombardeadas na Ucrânia. “Você acha que isso poderia ser a Suécia?”, perguntou.
Byden disse que “a guerra da Rússia contra a Ucrânia é um estágio, não um objetivo final, com a intenção de estabelecer uma esfera de influência e destruir a ordem mundial baseada em regras”. “Os suecos devem se preparar mentalmente para a guerra”, acrescentou.
Por temer um ataque russo, a Suécia tem se aproximado dos Estados Unidos. Além do pedido de adesão à Otan, o país permitiu acesso dos norte-americanos a 17 bases militares de seu solo.
Crianças preocupadas com possível guerra
De acordo com a organização não-governamental (ONG) Bris, que defende os direitos das crianças na Suécia, os anúncios do governo estão afetando a saúde mental dos mais jovens. A instituição identificou um aumento acentuado no número de crianças que entraram em contato por estarem preocupadas com a possibilidade de guerra.
O secretário da associação, Magnus Jagerskog, divulgou um comunicado sobre o tema. “Os níveis de ansiedade de muitas crianças suecas foram agravados por essas informações”, disse.
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O comércio sueco também registrou aumento nas compras de itens, como rádios de emergência, galões de água e fogões de acampamento.
As ações têm gerado debate entre as autoridades suecas, especialmente sobre serem alarmistas. A líder dos social-democratas e ex-primeira-ministra, Magdalena Andersson, considerou exagerado o tom. “A situação é grave”, disse. “Mas também é importante deixar claro que a guerra não está à nossa porta.”
Rússia comenta declarações da Suécia
A Embaixada da Rússia na Suécia publicou no Twitter/X uma mensagem em que ridiculariza as declarações do governo sueco. “Talvez os líderes suecos devessem parar de alimentar a paranoia em seu povo”, sugeriu.
O membro da Câmara Alta do Parlamento russo, equivalente ao Senado no Brasil, Alexey Pushkov, comentou o assunto no Telegram. Ele disse que tem a impressão de que soldados e jornalistas suecos estão sonhando com a guerra.
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De acordo com Mark Galeotti, do Instituto de Pesquisa Militares Royal United Services Institute, a ameaça da Rússia de atacar a Suécia é infundada.
“Entendo que as Forças Armadas precisam considerar os piores cenários, e a Rússia tem se mostrado mais agressiva do que qualquer um previa”, comentou Galeotti. “Mas tenho de admitir que estou cético quanto à probabilidade de tal cenário.”
Galeotti explicou que o Exército russo foi prejudicado pela guerra na Ucrânia e que não há motivos para Vladimir Putin, presidente da Rússia, atacar os países bálticos. Além disso, o caso da Ucrânia é diferente por ter um lugar especial na visão do líder russo.
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Confiar na Rússia de Putin é fria, diziam a mesma coisa sobre os alertas americanos sobre uma possível invasão da Ucrânia.