Uma das notícias de maior repercussão no mundo desde a noite do último sábado, 28, foi a morte do ator Matthew Perry. O artista que deu vida ao personagem Chandler Bing em Friends — a maior comédia da história da TV — foi encontrado morto em sua casa, na Califórnia.
Menos de 24 horas depois, sua autobiografia Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível se tornou o livro mais vendido na Amazon Brasil. A obra foi publicada em 2022.
Quando Matthew Perry iniciou a carreira de ator, seu pai lhe deu de presente o livro Acting with style (Atuando com estilo, em tradução livre). Cantor e intérprete, John Bennett Perry escreveu na dedicatória: “Outra geração foi atirada para o inferno. Com amor, pai”.
A mensagem parecia um presságio. Apesar da carreira brilhante e dos milhões de dólares faturados, a vida pessoal de Perry foi um pesadelo cercado por vício em opioides, álcool e cigarros.
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Livro retrata uma batalha pela sobriedade
Por vezes fascinante e perturbador, o livro de memórias do ator relata sua guerra interior para se manter sóbrio e conseguir atuar.
Perry calcula que participou de pelo menos 6 mil reuniões de Alcoólicos Anônimos (AA) e passou por 65 sessões de desintoxicação para tentar ficar sóbrio. A batalha lhe custou cerca de US$ 7 milhões.
Ele explica ao longo das 294 páginas da autobiografia por que o seu corpo já estava no limite. O abuso de opioides causou uma constipação crônica tão pesada que levou à perfuração do seu intestino. Para sobreviver, o ator precisou se submeter a 14 cirurgias.
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Na maior parte desse período ele esteve em coma e apresentou múltiplas infecções hospitalares, chegando a ter 2% de chance de sobreviver.
A hospitalização durou cinco meses. Diante da possibilidade de ter de usar uma bolsa de colostomia para o resto da vida, ele tomou uma decisão: “Desde então, não tenho mais interesse em consumir drogas”, escreveu.
Muito antes da fama
Mais tarde, uma receita de analgésico o levou a consumir excessivamente o remédio. A certo ponto, já eram 55 comprimidos de Vicodin por dia.
A personalidade compulsiva do ator também se refletia na incansável busca pela fama, que ele acreditava ser a solução dos problemas.
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Não foi a fama global que levou Matthew Perry a consumir drogas para aliviar suas dores. Filho de pais divorciados — com a mãe sempre atarefada e o pai morando no Canadá — ele descobriu, aos 14 anos, que a bebida aplacava os pensamentos negativos, e também o tornava mais “charmoso”.
“Acho que você realmente precisa realizar todos os seus sonhos para perceber que são sonhos errados”, escreveu ele.
O ator assume suas falhas e usa as páginas do livro para oficializar um pedido de desculpas: à família, aos amigos e também às ex-namoradas. Uma delas foi a atriz Julia Roberts, a quem ele abandonou por puro medo de que ela o deixasse primeiro.
‘Eu era Chandler’
Com relação à série, Perry não se estende muito ao longo da obra. Mas reforça que a oportunidade de atuar em Friends lhe garantiu “o melhor emprego do mundo”.
“Quando li o roteiro, parecia que alguém tinha passado um ano me seguindo, roubando as minhas piadas, imitando meus trejeitos e fazendo uma cópia da minha visão pessimista, porém irônica, da vida”, relatou. “Um personagem específico me chamava a atenção: não era que eu achasse que era capaz de interpretar Chandler. Eu era Chandler.”
O intérprete relembra que, no teste de elenco, arrancou risadas em momentos em que nenhum outro tinha feito. “Era como se eu estivesse naqueles momentos em que fazia a minha mãe rir. E Chandler nasceu”.
No livro, Perry revela que, nas dez temporadas de Friends, ele só esteve realmente sóbrio na nona. Foi justamente neste período que recebeu, pela primeira vez, diversas indicações ao Emmy.
Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível é um livro inesquecível de memórias, além de um conforto para aqueles que estão lutando para manter a sobriedade.
É uma obra sincera, comovente e, ainda assim, incrivelmente engraçada.