Reportagem publicada no jornal britânico The Guardian mostra que a Uber cometeu uma série de ilegalidades entre 2013 e 2017, que vão desde uso da violência contra motoristas, omissão de informações de autoridades de diferentes países até tentativa de lobby com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o da França, Emmanuel Macron. A reportagem, publicada no domingo 10, é baseada em 124 mil documentos vazados, que se referem ao período de cinco anos em que a Uber era administrada pelo cofundador da plataforma, Travis Kalanick.
Entre as ilegalidades, o jornal cita o início das atividades da empresa em diversas cidades do mundo, mesmo com a proibição de regulamentos locais. Além disso, a Uber teria criado formas de esconder informações comprometedoras, caso algum escritório fosse investigado, utilizando a técnica chamada de “Kill Switch” (botão de desligar), para cortar o acesso aos principais dados da empresa. Ela teria sido executada 12 vezes.
Os documentos obtidos pelo Guardian incluem 83 mil e-mails, mensagens de texto e conversas de WhatsApp entre Kalanick e executivos, que teriam conhecimento das irregularidades e, em algumas situações, se chamavam de “piratas”.
As conversas com Biden e Macron
Conforme a reportagem, os documentos mostrariam a relação de executivos da empresa com importantes políticos, como Joe Biden, quando era vice-presidente de Barack Obama (2009 a 2017), e o presidente Emmanuel Macron, quando era ministro da Economia da França (2014 a 2016), que teria secretamente ajudado a empresa no país.
Os documentos secretos também repercutiram na França, no domingo, com críticas de políticos de esquerda. Reportagem do jornal francês Le Monde revelou que houve um “acordo” secreto entre Macron, quando ministro, e executivos da Uber, com reuniões no gabinete e vários contatos (reuniões, ligações e SMS).
Biden, segundo a reportagem, se encontrou com Kalanick durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Após o encontro, o norte-americano teria mudado o discurso e chegou a falar de um CEO cuja empresa daria a milhões de trabalhadores liberdade para trabalhar quantas horas quisessem.
Os documentos vazados da Uber foram compartilhados com organizações de imprensa de vários países por meio do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), que reúne mais de 180 jornalistas de 40 meios de comunicação, incluindo Le Monde, Washington Post e BBC.
Violência contra motoristas garantiria sucesso
Nos documentos, a reportagem também afirma ter encontrado conversas nas quais os executivos da Uber eram informados sobre episódios de violência contra motoristas em diversas cidades do mundo, especialmente por taxistas, na briga por pontos. Em uma das conversas, Kalanick teria dito que valeria a pena e que a violência garantiria o sucesso da empresa.
Um porta-voz de Kalanick disse ao Guardian que essas afirmações são completamente falsas.
Já a Uber, em nota ao jornal britânico, admitiu haver “erros e equívocos” no período mencionado pela reportagem, mas disse que não pretende se desculpar por eles e que essas práticas não ocorrem desde 2017, quando Dara Khosrowshahi se tornou presidente da companhia.
“Não temos e não vamos dar desculpas para comportamentos passados que claramente não estão alinhados com nossos valores atuais. Em vez disso, pedimos ao público que nos julgue pelo que fizemos nos últimos cinco anos e pelo que faremos nos próximos anos”, diz o comunicado.