Emmanuel Macron, presidente da França, admitiu a responsabilidade francesa no genocídio de Ruanda de 1994, nesta quinta-feira, 27. Ele afirmou que a França, sob a presidência de François Mitterrand, esteve “ao lado de um regime genocida” e fez muito pouco para evitar a matança de cerca de 800 mil tutsis e seus simpatizantes hutus.
As declarações foram feitas durante um discurso em Ruanda, durante uma visita do presidente francês ao Kigali Genocide Memorial, um memorial em homenagem aos cerca de 800 mil mortos do genocídio de 1994, onde 250 mil vítimas estão enterradas.
Ele afirmou que a França tinha “o dever de olhar a história de frente e reconhecer a parte de sofrimento que ela infligiu ao povo ruandês, por manter-se em silêncio por tempo demais”.
Por mais de 20 anos, as relações entre os países estiveram tensas. Um relatório de um painel francês divulgado em março concluiu que “a França carregava pesadas e condenatórias responsabilidades” pelo genocídio, mas absolveu-a de cumplicidade.
Macron não realizou um pedido formal de desculpas, enfatizando que a França “não era cúmplice”, mas afirmou que o país europeu ignorou as vozes que alertavam sobre um genocídio iminente: “A França tornou-se esmagadoramente responsável por uma descida ao pior resultado, mesmo procurando precisamente evitá-lo”.
Um relatório encomendado por Ruanda apontou que “funcionários franceses armados aconselharam, treinaram, equiparam e protegeram o governo ruandês” e Ruanda havia acusado Paris de ser um “colaborador” do governo extremista hutu da época.
O atual presidente do país africano e líder da rebelião tutsi que colocou fim ao genocídio, Paul Kagame, saudou o discurso de Macron: “Politicamente, e moralmente, este foi um ato de tremenda coragem. Estes riscos compensaram, porque havia boa fé de ambos os lados. Era importante não apressar o processo. Os fatos tinham que ser devidamente estabelecidos”, afirmou Kagame. “A verdade cura”.
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Com informações do jornal Financial Times